quinta-feira, dezembro 04, 2014

Sem Camarate

O exercício não deixa de ser fascinante, embora sem consequências.
 
Qual teria sido o futuro político de Francisco de Sá Carneiro e de Adelino Amaro da Costa se, na noite de 4 de dezembro de 1980, não tivessem morrido no desastre aéreo (fujo de qualificar como acidente ou atentado) de Camarate?
 
Há certezas: Eanes ganharia de igual modo as eleições presidenciais, dois dias mais tarde, contra Soares Carneiro. E Sá Carneiro não continuaria na chefia do governo. Mas haveria novas eleições, com Eanes a tentar "cavalgar" a sua vitória, ou a solução Balsemão iria de qualquer forma ter lugar, como aconteceu? E que faria Francisco Pinto Balsemão como primeiro-ministro, com Sá Carneiro fora de cena, a guardar para si a verdadeira legitimidade social-democrata? Sabe-se que Freitas do Amaral também não continuaria no executivo. E a Aliança Democrática? Manter-se-ia? Era muito pouco provável que Adelino Amaro da Costa viesse a ser a "cara" do CDS num governo Balsemão, tanto mais que fora ele o responsável pela falhada escolha de Soares Carneiro como candidato da direita. Que governo, liderado pelo PSD, surgiria no imediato?
 
Sá Carneiro teria hoje 80 anos. Qual teria sido o seu percurso desde então? Se não tivesse havido Camarate, seis anos depois, Portugal teria entrado de igual modo para a Europa comunitária. Que oportunidade teria entretanto tido Cavaco Silva para se afirmar no seio do PSD? Como teria sido a evolução da relação entre Sá Carneiro e Mário Soares, o verdadeiro contraponto geracional que se esperaria? Em 1986, Sá Carneiro teria sido eleito contra Mário Soares, que derrotou Freitas do Amaral com grande dificuldade? O carisma de Sá Carneiro seria suficiente para criar um grande partido de direita, absorvendo o CDS?
 
E Amaro da Costa? Continuaria a subordinar-se à tutela de Freitas do Amaral, ele que era politicamente muito mais hábil? Teria hoje 71 anos. Será que ele teria conseguido garantir uma melhor progressão dos centristas no espetro político, escapando aos períodos de grande instabilidade que afetaram o CDS?
 
Tudo isto são especulações. A realidade é o que está aí. 

9 comentários:

Anónimo disse...

Se a minha avó tivesse rodas era um caro electrico. Ponto!
Tomaz Fernandes

Unknown disse...

As comissões de investigaão do atentado continuam a ter trabalho e custos para pagarmos.

Anónimo disse...

Ah! Ganda pitonisa da Costa!

Anónimo disse...

Lembro-me muito bem de um discurso que S.C. fez e de nos termos rido imenso quando uma senhora estrangeira pressagiou que seria morto.
A resposta pronta de um dos nossos embaixadores foi:
- Que exagero, estamos numa democracia.

zpf disse...

Caro Embaixador,

E já colocou a hipótese de, a ser vivo, Francisco Sá Carneiro poderia ser apenas (mais) um advogado da Foz, assim como uma espécie de versão melhorada de uma das suas "viúvas", no caso do dr. Veiga?

Abraço,
ZPF

Anónimo disse...

Diz bem o Sr. Embaixador, sobram apenas as especulações, embora eu continue a achar (tenho consciência que é apenas um achismo) que Sá Carneiro e Amaro da Costa teriam conferido alguma qualidade ao ambiente político nacional.

Anónimo disse...

""Nós vivemos num país de inutilidade pública, inutilidade pública que custa caríssimo e que afinal, agora, querem que continue a proliferar, obrigando os particulares a suportar todo o peso da crise económica."

Sã Carneiro (1976)

Sim. disse...

Provavelmente seria um pseudo-senador/barão do PSD a atirar disparates ao ar, como Balsemão.
Em complemento (ou alternativa, se se preferir) teria um mega-escritório de "advocacia" e andaria a armar aos cucos como um Júdice - que de advogado nunca teve nada, diga-se - ou um Vasco Vieira de Almeida.

Quanto a Amaro da Costa: teria um chilique mal visse no que se tornou esse sujeito inenarrável e sem honra que manda agora nesse partideco do Largo do Caldas.

Anónimo disse...

E a realidade hoje, infelizmente, é o refugo... aliás transversal..
Quanto a zpf chamar a Miguel Veiga «viúva» de Francisco Sá Carneiro, parece-me de mau gosto. Poucos escrevem na nossa língua como esse advogado da Foz.
Se não tivesse sido morto, FSC com Amaro da Costa e outros teriam mantido o diálogo político duro (já antes do 25 de Abril, na Assembleia Nacional o fizera, com toda a coragem), mas seguramente num registo superior

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...