Há pouco mais de três anos, Paulo Portas, num sound bite mais apropriado a um título
de “O Independente” do que a uma declaração de um responsável pela política
externa de um Estado, saiu-se com a frase “Tudo pela Palestina, nada contra
Israel”. Tentar resolver a quadratura do círculo é uma atitude estimável, mas
gratuita.
A comunidade internacional vive, desde há anos, com o
angustiante dilema de tentar proteger Israel do recorrente extremismo de alguns
dos seus dirigentes. Simultaneamente, e não obstante a diversidade na
abordagem, o mundo tem procurado dar alento, político e financeiro, à
estruturação do Estado palestino, ciente de que não pode deixar de responder à
profunda injustiça que atravessa o destino do seu povo.
Israel parece agora tentado a uma fuga para a frente a
qual, a concretizar-se, pode vir a ter consequências naquilo que, até agora,
era a sua identidade inatacável: a democraticidade do seu regime. Ao optar pelo
caráter judaico do seu Estado, Israel caminha para um regime de “apartheid” – e
devemos ter a coragem de dizer estas coisas com todas as letras.
É lamentável que o governo português
revele uma imensa tibieza face ao crescente movimento europeu no sentido de
reconhecer o Estado da Palestina, como se já não tivesse bastado a lamentável
postura assumida por ocasião da integração da Palestina na UNESCO, que foi
depois necessário retificar de forma atabalhoada na ONU. A política externa
portuguesa deve mostrar-se coerente com o sentido de responsabilidade que
revelou, por muitos anos, ao abordar a questão israelo-palestina. Assim,
deveria agora ter estado na linha da frente deste reconhecimento, não ficando
comodamente à espera da sua quase inevitabilidade, com conforto parlamentar,
para fazer esse gesto. "Prudência e caldos de galinha" não ilustram
uma postura internacional e tentar passar despercebido e ganhar tempo, apenas
para agradar a amigos poderosos, é apenas uma forma de poder ser vir a ser
acusado de oportunismo. Isso não dignifica Portugal, como nas Necessidades
deviam saber.
Artigo que hoje publico no "Diário de Notícias"
1 comentário:
Aqui está algo em que concordo com o Sr. Embaixador.
João Pedro
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