sábado, setembro 28, 2024

Oh! Lacerda


Foi ontem. Tinham sido quase três horas de concerto. Extraordinária, aquela que foi a primeira das muitas noites que, nos próximos meses, vamos passar no auditório principal da Gulbenkian. Desta vez foi "A Danação de Fausto", de Berlioz. Começou às sete, abancámos para o jantar/ceia no "Oh! Lacerda" às dez.

Há quantos anos vou por ali, ao "Cortador Oh! Lacerda"? Imensos! Desde os anos 60! É, pela certa, nos dias de hoje, um dos mais antigos restaurantes de Lisboa. 

Ali por perto, já se comeu bem no "Paco", já se recomendou mais a "Tia Matilde", foi sempre abaixo de assim-assim a Sereia, deixou imensas saudades o fim de "A Gôndola", foi em tempos uma catedral lisboeta "O Polícia", belos jantares se fizeram no desaparecido "De Castro Elias". 

Hoje, tirando uma opção quase sempre razoável que é a "Valbom" (em especial, na esplanada, quando está tempo para isso), o eterno matar de saudades de uma bacalhauzada na "Laurentina", um bom nepalês que por ali há, o "La Finiestra" quando se consegue passar à frente dos "motoboys" da Glovo e um arménio de que me falam bem, a zona em torno da Gulbenkian é um imenso deserto em termos de boa restauração.

O "Oh! Lacerda" não deve vir no Michelin. A casa é muito simples, tem uma velha decoração rústica com um delicioso ar decadente - tem exatamente o mesmo ar, há décadas -, oferece uma comida simpática e, para o meu gosto, um dos melhores bifes do lombo de Lisboa - e eu gabo-me de os conhecer quase todos.

Depois dos acordes da fantástica orquestra e coro da Gulbenkian, uma refeição no " Oh! Lacerda", com alguns músicos a acompanharem-nos por lá em outras mesas, é um programa com bastante graça.

7 comentários:

Lúcio Ferro disse...

O que fizeram "A Gôndola" foi criminoso. Não só por ser um restaurante. Era um edifício lindo, o pátio, a verdura, no centro de Lisboa. Que tivessem feito um hotel de charme, um museu de azulejaria, mas não, o senhor Moedas e o senhor anterior deveriam ser responsabilizados.

manuel campos disse...

Lá atrás, pelo fim dos anos 80, numa reunião dedicada à análise de um projecto industrial em que estive bastante envolvido, a certa altura dei determinada opinião que foi refutada por um “amigo” que tinha por lá (temos sempre “amigos” por toda a parte, é bom sinal, quer dizer que fizemos e fazemos algo de algum mérito).
A sala tinha umas 25 pessoas, incluindo um Secretário de Estado, um Director-Geral de ministério e dois administradores da empresa de que eu era na altura director de produção e esse “amigo” director de desenvolvimento (vim a substitui-lo três anos mais tarde, quando saí de pisar lama para pisar alcatifa).
Perante algum gozo geral fomos por ali fora, mantendo cada um o seu estilo, estas situações constituem um momento útil em reuniões mais chatas pois normalmente quebram o formalismo exagerado que muita gente nunca consegue abandonar e, estando “policiadas” por pessoas muito acima na hierarquia, nunca degeneram para lá de algum picanço (acto ou efeito de picar, provocar ou desafiar alguém).
A certa altura o meu “amigo” sai-se com um “tu não sabes do que falas, tu só sabes de música” no tom típico dos que só sabem de futebol.
Evito assim falar de música aqui em “off-topic”, mas como agora está em “on-topic” aqui vai uma pequena observação.
“A Damnação de Fausto” de Hector Berlioz é uma das obras mais injustamente tratadas que conheço, pouca vezes apresentada em benefício de outra mais “comerciais” por assim dizer.
Aquilo correu mal desde o primeiro dia e Berlioz sofreu muito com isso (relembro que a ópera “Carmen” de Georges Bizet foi pateada, nunca se tendo o autor refeito da situação até ao fim da sua vida).
Berlioz já tinha tentado uma incursão por ali com as suas “Oito cenas de Fausto”, que foi aliás a sua primeira obra publicada.
Hector Berlioz foi um extraordinário orquestrador e aconselho sempre a que se ouça a sua orquestração de “La Marseillaise” de que, por força de aparecer como bónus em muitos discos, a partir do momento que se quer tudo do Berlioz, acaba por se ter 6 ou 7 versões.
Aquele hino só mais tarde se tornou o actual hino francês (não me vou meter em pormenores), na sua versão longa original com a letra toda tem 9 minutos que aqui me permito apresentar, é uma das versões que tenho, talvez a primeira que tive e onde se percebe bem o orquestrador de que falei:

https://www.youtube.com/watch?v=M7aiiUjgbUc

O nosso hino, na sua versão completa, tem 5 minutos:

https://www.youtube.com/watch?v=M7aiiUjgbUc

PS- Vou buscar o inevitável “arroz de pato” dos almoços de sábado em casa.
Ir e vir é quase 45 minutos, por auto-estrada.
Ou o arroz de pato é mesmo muito bom ou nós somos completamente malucos ou as duas coisas.

Anónimo disse...

O Moisés, na Duque de Ávila? (tem guardanapos de pano)

manuel campos disse...

Pois já vi, repeti a ligação, foi da fome.

Aqui vai a correcta, com o meu pedido de desculpas:

https://www.youtube.com/watch?v=pMNShtjCYH8

balio disse...

Julguei que o "Oh Lacerda" se referisse ao Sales...

manuel campos disse...

Quase três e meia da manhã mas ainda venho aqui acabar uma história.
O tal "amigo" e colega de que falei acima era conhecido por dizer mal do maior número de pessoas possível de cada vez que encontrava alguém, até se faziam apostas quando víamos alguém a conversar com ele se teríamos ou não entrado na "lista do dia".
Um belo dia encontro-o à esquina da empresa à hora do almoço, e ele começa a disparar em todas as direcções, como de costume.
E só parou quando eu lhe disse "Calma, esse aí sou eu!".

manuel campos disse...

Só agora vi que escrevi "damnação" às 13.03.
A razão é simples, a obra é francesa e nos discos e artigos está habitualmente no original "damnation", como escrevo "de rajada" às vezes saem destas, não sendo grande asneira está incorrecto aqui.

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