sábado, setembro 28, 2024

Na morte do João Diogo


Conheci João Diogo Nunes Barata há meio século. No cumprimento do serviço militar, ambos fomos adjuntos da Junta de Salvação Nacional, no palácio da Cova da Moura, logo após o 25 de Abril. 

Ele trabalhava com o presidente da Junta, o general Spínola, com quem seguiu para Belém quando este assumiu a presidência da República, eu assessorava o general Galvão de Melo, para as questões do desmantelamento da PIDE/DGS. 

No dia 28 de setembro de 1974, faz hoje precisamente 50 anos, Spínola e Galvão de Melo saíram da Junta de Salvação Nacional e o João Diogo e eu fomos ocupar outras funções. 

Voltámos a encontrar-nos no Ministério dos Negócios Estrangeiros, cujos quadros ele já integrava e onde eu ingressei no ano seguinte. Embora alguns anos nos separassem na idade, uma certa proximidade política e um grupo de amigos comuns fez com que criássemos uma excelente relação de amizade, que se prolongou até aos dias de hoje.

O João Diogo foi um dos melhores diplomatas com quem me cruzei, nas minhas quatro décadas nas Necessidades. Digo isto com imensa sinceridade. Inteligente, culto, com grande sentido do interesse do Estado, foi uma voz sempre escutada por Mário Soares, de quem foi colaborador muito próximo. 

Teve uma interessante carreira diplomática, mas sempre considerei que o seu percurso nas Necessidades acabou por não estar à altura que era devida à sua qualidade profissional. Isso pode ter acontecido por opções próprias, somadas a decisões dos poderes políticos de turno que acabaram por condicionar o seu percurso e determinar algumas escolhas. 

Uma noite, no aeroporto de Fiumiccino, em Roma, onde o João Diogo era embaixador, fui testemunha presencial de um convite que lhe foi formulado pelo então ministro dos Negócios Estrangeiros, Jaime Gama, para que ele viesse ocupar um lugar de topo na hierarquia diplomática das Necessidades. O João Diogo recusou o lugar. Jaime Gama, ao seu estilo, não revelou nenhuma reação perante a recusa, mas percebi que não gostou de ver rejeitado aquele honroso convite. A carreira do João Diogo poderia ter tido um "boost", se tivesse aceitado. Antes de entrar para o avião, eu disse-lhe: "Acho que fizeste muito mal". Ele só teve tempo para me responder: "Eu depois explico-te". Nunca houve ocasião para isso.

O João Diogo Nunes Barata, que ontem morreu num hospital em Paris, tinha 83 anos. O Grémio Literário era, nos últimos tempos, o lugar onde mais frequentemente nos íamos encontrando. 

2 comentários:

Flor disse...

Que descanse em Paz.

Helena disse...

Uma perda imensa. Um grande e fiel amigo. Um homem bom, generoso, grande profissional sempre empenhado em bem representar e defender o seu País. Uma imensa tristeza

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