Morreu, no Brasil, Maria Teresa Lobo. Quem era? Foi a primeira mulher que, em Portugal, fez parte de um governo. Em 1970.
Por essa altura, em toda a Europa e não só, já muitas mulheres tinham sido escolhidas para governantes. Por cá, em tempo de ditadura, foi preciso esperar até esse ano para ver uma mulher integrar um governo, ainda que apenas como subsecretária de Estado da Saúde e Assistência.
Recordo bem a novidade, quase "histórica", que a sua nomeação constituiu. Aquela cabeleira enfunada, muito da época, foi uma imagem que encheu então os jornais e a televisão, passando subliminarmente como uma "prova" da "abertura" marcelista. De origem indiana, circunstância que, a partir dos anos 50, se acentuou como uma notória "via" de ascensão na sociedade portuguesa (embora não apenas no seio do regime), Maria Teresa Lobo tinha tido já uma carreira interessante de serviço público, a montante da sua entrada para o governo.
Por ocasião do 25 de abril, Maria Teresa Lobo já não fazia parte do governo, de onde saíra em 1973. Era deputada na Assembleia Nacional. Foi então viver para o Brasil, tal como aconteceu com outras figuras ligadas à Situação (expressão deliciosa que, no vocabulário comum da época, era o contraponto da Oposição), do setor político e de áreas económicas, que se sentiram ameaçadas ou incomodadas com o curso da Revolução. A esmagadora maioria dessas pessoas acabou por regressar a Portugal. Ela decidiu ficar por lá. Como jurista que era, veio a conseguir garantir no Brasil um percurso profissional de mérito. Escreveu também sobre temas tributários e sobre os processos de integração político-económica regional, como a União Europeia e o Mercosul.
Quando fui embaixador no Brasil, e ao contrário do que aconteceu com outros antigos membros do governo de Marcelo Caetano, que encontrei e com quem privei de perto, como Rui Patricio ou Alberto Xavier, nunca tive oportunidade de me encontrar com Maria Teresa Lobo (bem como com Costa André). Tive francamente pena.
Maria Teresa Lobo tinha 89 anos.
4 comentários:
M eu caro Franciscamigo
Ainda que a Raquel nunca se tivesse fechado no gueto dos goeses em Lisboa a primeira vez que fomos ao Brasil visitar o meu irmão Braz que então lá vivia (1978, Rio) este que veio a falecer de cancro na próstata em Março deste ano aqui, levámos uma encomenda para ela do primo que conhecíamos, o juiz Abreu Lobo e por isso a encontrámos.
Uma Senhora com quem muito conversámos e inclusive nos ofereceu um almoço. Falámos de tudo, dissemos-lhe que militávamos no PS e praticamente por aí ficámos no tema da política, apenas falámos sobre o facto de termos sido alunos do Marcelo Caetano. A despesa da conversa foi sobre Goa.
Realmente uma Senhora com caixa alta. Pena que não a tivesses conhecido; gostarias dela.
Abração deste teu amigo
Henrique, o Leãozão🦁
E até os putos já ganham na Europa! Viva o Keizer! Que vai parecendo ser um Kaizer!
"Figuras ...que se sentiram ameaçadas ou incomodadas". O Sr. Embaixador anda com a memória fraquita. Porque não dizer que eram mandados para Caxias e estavam lá meses só porque não eram da cor.Já não se lembra do Copcom e dos mandados de detenção em branco?
Bem, hoje vai ser a continuação do festival de “os injustiçados do 25 de abril, que passaram horrores…”. Normalmente, eram todos pessoas de grande valia que tiveram de se ir embora ou obrigados a profissões degradantes. Ficaram pobrezinhos e foram a salto para Espanha ou para o Brasil, para onde foram lavar pratos ou viver de esmolas, até alguém reconhecer lá o seu grande valor. E uns dias em Caxias transforma-se nas prisões do Saddam. Obviamente, deviam ter sido colocados no Ritz. E os saneamentos? Coisa nunca vista. Aliás, o nosso PREC foi de uma crueldade imensa.
A nossa história é feita de mitos. Falta de memória histórica? Sim, muita. Passou-se a mesma coisa no Brasil (é genético?), com a lei da amnistia, ao contrário do que se passou na Argentina e no Chile, gente mesquinha e vingativa, que julgou e condenou efetivamente dirigentes e colaboradores dos seus antigos regimes…
Em Espanha, um dos presos políticos catalães em greve de fome já está no hospital. Duas semanas sem comer. Se horror existe no mundo de FSC, este é um deles: não poder levar o garfo à boca. Por cá, a comunicação social tuga, bem domesticada pelos interesses espanhóis, cala-se. Não se passa nada. Entre as declarações da "viúva" que quer ser cidadã portuguesa mas se recusa a falar português e o PM que encontrou o seu amigo Miterrand no espadaúdo socialista espanhol que ninguém elege, nós cá continuamos a fingir que nada acontece. Aluno bem comportado da Europa mas, sobretudo, da península, essa entidade eleita por um senil candidato a um Nobel que nunca chegará mas pelo qual se vende a alma.
No dia em que o primeiro preso político catalão morrer, FSC publicará uma crítica gastronómica, querem apostar?
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