O ano termina com uma nota sombria. A demissão do responsável ministerial pela Defesa, nos Estados Unidos, fez disparar alertas por todo o mundo.
Jim Mattis, um prestigiado general que Obama afastara por atitudes demasiado “guerreiras”, e que Trump, seguramente por isso, cuidou em recuperar, escreveu uma carta ao presidente em que, basicamente, diz não concordar com a sua orientação e, em particular, com o desprezo e desconsideração que Trump mostra para com os aliados da América. Muitos leram nisto uma alusão à NATO, outros consideraram que a referência também se ligava aos grupos curdos que, na Síria, vinham a ser usados pelos EUA na luta contra o ISIS. É que um anúncio súbito de Trump, de que ia retirar o que resta de forças americanas em terreno sírio, deixa os grupos curdos à mercê da expectável agressividade turca contra o seu velho inimigo. Mattis não está de acordo com esta estratégia para a Síria, como igualmente não parece concordar com a aceleração da saída das tropas do Afeganistão.
Desde o primeiro dia, a América e o mundo assistiram, entre o divertido e o preocupado, às incessantes entradas e saídas de pessoal para a Casa Branca de Trump. Não há memória de uma administração ter alguma vez sofrido um tão elevado grau de instabilidade e, nos dias de hoje, é perfeitamente evidente que a única fonte dessa instabilidade é o próprio Trump. Considerando-se ungido de um poder supremo, que não admite contestação, sabe-se que ele reage com irritação a quaisquer observações que possam infirmar as suas certezas instintivas. Alguém que persista em contrariá-lo, por mais razoáveis que sejam os seus argumentos, tem os seus dias oficiais contados. Trump é superficial, amoral e imprevisível, parecendo confiar apenas na sua intuição.
Criou-se a noção de que Trump tinha um respeito especial pelos militares, setor que, nos EUA, beneficia de um estatuto de prestígio público muito forte. Porém, basta ler o que Bob Woodward escreve no seu livro “Medo” para se perceber que a paciência do presidente perante as Forças Armadas começava já a ter um prazo de validade. O modo como Trump foi, sucessivamente, afastando generais qualificados como McMaster, Kelly e agora Mattis, prova que nem sequer o peso institucional das fardas já o detém, na sua tentativa de reduzir a sua “entourage” a um mero círculo de fiéis, acríticos e prestimosos. Para aquela que é a maior potência militar do mundo, com imenso poder nuclear, a crescente dependência de uma figura da estirpe de Trump é dramática.
4 comentários:
O PR Trump herdou das anteriores presidências dos EUA -nomeadamente de um PR Prémio Nobel da Paz- vários conflitos.
Falou durante a campanha eleitoral sobre qual seria a sua posição nestes temas.
Não sendo do conhecimento público detalhes do que se tem passado ultimamente o facto é que um militar nos EUA depende do seu PR.
O PR Trump, ao contrário de outros anteriores PRs, gosta de ser ele a exercer o seu cargo, por muito que isso desagrade aos políticos de carreira quer do partido Democrata, quer mesmo do partido Republicano, bem assim como a outros orgãos de soberania ... e polícias.
Por definição nada impede o General Mattis, e outros, de concorrer à presidência dos EUA.
Curiosa a posição de tantos fazedores de opinião que ontem verbalizavam sobre os abusos do "polícia do Globo", os EUA, e sobre o belicoso Trump ...
É mesmo?
Toda a gente sabe que o exército americano está submerso em droga e descontentamento.
Será uma fase ou será decadência?
Wait and see.
O « anónimo » de 26 de Dezembro de 2018 às 20:01, tem razão, quando escreve sobre “o "polícia do Globo", os EUA, e sobre o belicoso Trump “
Sempre critiquei este polícia, que, desde o fim da última guerra mundial, das Caraíbas à Ásia e à Europa, não cessou de intervir na vida das outras nações. Com o custo exorbitante de milhões de mortos, do Vietname ao Iraque, à Líbia e à Síria, sem esquecer o Afeganistão.
Para nada, porque com a excepção do Vietname, que recuperou a paz, as bombas continuam a explodir em Cabul, e no Médio Oriente, sem falar do Iémen.
Que deixe Cuba e a Venezuela em paz, por exemplo.
E no que diz respeito à Europa, que regresse a casa com as suas divisões e as suas bombas nucleares estacionadas na Europa. A NATO não tem razão de existir, pois que o Pacto de Varsóvia acabou, ao mesmo tempo que a URSS.
E que à sombra da NATO , Kiev Ucrânia tornou-se assim o "terreno fértil" do nazismo renascido no coração da Europa. Em Kiev confluência de neo-nazistas de toda a Europa,
Que seja coerente, pois, foi ele quem pediu aos aliados para aumentarem a defesa Atlântica , o que quer dizer, pague mais pelo serviço, se não "ele perde a paciência". Pois bem, que a perca, que diabo!
Pois que a NATO confirma no nível o mais elevado o aumento no poder da estrutura do comando principalmente na função de anti-Rússia. Será formado um novo comando conjunto para o Atlântico, em Norfolk, nos EUA, contra "submarinos russos que, parece, ameaçam as linhas de comunicação marítima entre os Estados Unidos e a Europa", e um novo comando logístico, em ULM, Alemanha, Como "dissuasão" contra a Rússia, com a missão de "mover as tropas mais rápido em toda a Europa em qualquer conflito". Mesmo se estas já estão a alguns metros do Kremlin!
Por 2020 a OTAN terá 30 batalhões mecanizados na Europa, 30 esquadrões aéreos e 30 navios de combate, destacáveis em 30 dias ou menos contra a Rússia.
Não Caro anónimo dos 20.01, Trump “dégage” da Síria, porque perdeu a partida contra Assad e sobretudo contra Putine… E ele sabe-o muito bem.
O resto é uma música conhecida: A NATO, -que foi formada em 1949, seis anos antes do Pacto de Varsóvia, formalmente com base no princípio estabelecido no artigo 5º-foi transformada numa aliança que, com base no "novo conceito estratégico", insta os países membros a "conduzirem Resposta a crises não previstas no Art. 5, fora do território da Aliança ". Com base no novo conceito geoestratégico, a NATO espalhou-se para as montanhas afegãs, onde a NATO está em guerra há 15 anos. E que alguns esquecem!
O que não mudou na mutação da OTAN é a hierarquia dentro da Aliança. É sempre o Presidente dos Estados Unidos que nomeia o Comandante Supremo Aliado na Europa, que ainda é um general dos EUA, enquanto os Aliados se confinam a ratificar a escolha. A mesma coisa para os outros comandos chave.
A supremacia dos EUA reforçou-se com o alargamento da NATO, porque os países europeus os países europeus orientais estão mais ligados a Washington do que a Bruxelas.
E que o Tratado de Maastricht, em 1992, estabelece a subordinação da União Europeia à NATO, à qual pertencem, creio, 22 dos 28 países da UE (com a Grã-Bretanha na saída “because” Brexit).
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