quarta-feira, dezembro 19, 2018

Para onde vai a direita?


A direita portuguesa vive um momento complexo. O PSD de Rui Rio afunda-se nas sondagens e o CDS de Assunção Cristas não aproveita esses humores. A seu crédito só concorrem alguns “tiros no pé” que o governo vai dando e, claro, a onda grevista em época pré-eleitoral, que induz no imaginário público a ideia de que se vive uma imparável instabilidade social. Conta também com o tropismo tremendista de certa comunicação social, que dá prioridade absoluta ao que “corre mal”. E, em política, como dizia o outro, o que parece é.

E parece que Rui Rio tem a vida bastante difícil. O líder do PSD, com uma bancada parlamentar hostil, marcada por uma raiva saudosa da antiga liderança, segue o seu caminho das pedras. Rio, que é um homem sério, escolheu dizer o que verdadeiramente pensa, na convicção de que, a prazo, a autenticidade acabará por pagar. Não estou tão certo disso. A guerra que agora abriu com o Ministério Público, na minha opinião com imensa razão, não deixa de ser uma causa impopular nas suas hostes, sobretudo no mundo político a-preto-e-branco em que se vive. A menos que os astros se conjuguem, Rio vai perder as eleições por larga margem e, na enxurrada que a sua saída vai provocar, fará desaparecer o pouco que resta da ala social-democrata do PSD.

Do CDS, a direita espera pouco, isto é, aguarda o “share” habitual, no outono triste que vai ter. Cristas, que já se viu que não é Portas, a prazo terá à perna uns “jovens turcos” ultramontanos que estão à espera de vez, continuando ela por ora a hesitar entre o beatismo social e o caceteirismo verbal. A certos setores do partido foge já muito o pé para o populismo nacionalista, com a correspondente deriva eurocética. 

Descontado o epifenómeno unipessoal do Aliança, resta a direita inorgânica dos jornais informáticos e aquela que espalha adjetivos acres pelas redes sociais. Parte diz-se liberal, um rótulo anti-Estado que vai muito com “l’air du temps”. Outra, contudo, cujo “teste do algodão” é a sua recusa a usar no discurso a expressão “extrema-direita”, revela claramente que os seus escrúpulos democráticos não chegam para alienar o futuro apoio de um mundo que por aí borbulha, num magma radical entre a xenofobia, o racismo e algumas pulsões autoritárias.

Fica a sensação de que o setor mais conservador da sociedade política portuguesa atravessa um tempo de indefinição. Para a sanidade do sistema político, só podemos esperar que a resultante final seja solidamente democrática. Tal como se espera da esquerda, aliás.

14 comentários:

Joaquim de Freitas disse...

Esquerda de direita, a social democracia e o social liberalismo, a -S-D- tornou-se progressivamente numa espécie de social liberalismo, por vezes implantado em meio popular graças a um sindicalismo forte mas fundamentalmente e abertamente de colaboração de classe, visando a desertar a luta das classes, a pacificar as relações sociais.

Isto explica a crise contemporânea da S-D e a sua incapacidade a propor uma alternativa ao capitalismo, seja uma “humanização” do capitalismo. A impotência politica da S-D e o seu papel nefasto, reaccionário e oportunista, aparece assim de maneira cada vez mais evidente.

Um capitalismo gerido, um Estado providência mais ou menos presente, uma redistribuição parcial das rendas às camadas populares, a “moderação” salarial (na realidade a austeridade mais ou menos acentuada segundo a conjuntura económica) garantida ao patronato, e uma prática económica liberal bastante clássica finalmente beneficiada de alguns melhoramentos sociais, eis a pratica S-D no longo prazo.

Esta evolução social-liberal conduz a um estreitamento do espaço político da S-D. e o seu posicionamento cada vez mais à direita no tabuleiro de xadrez político.

O keynesianismo não está mais na agenda para o capital, porque nada o obriga. Por outro lado, as contradições do capitalismo ainda trabalham a sociedade e o capitalismo, livrando-se do seu medo da revolução, lança-se numa política de recuo social de tal magnitude que se pode falar de recuo civilizacional.

E os recuos civilizacionais podem levar longe.

A Alemanha e o Japão têm a honra improvável de ser dois países onde nunca uma revolução triunfou. Não é por acaso que eles são os únicos que, precisamente por esta razão, deram à luz regimes tão vergonhosos como o nazismo e o militarismo fascista japonês. O populismo é o plano inclinado que pode levar a esses regimes.

Anónimo disse...

Senhor Embaixador,

Ainda nao li nenhuma palavra sua sobre um assunto da maior importancia para o pais, que sendo da agenda internacional deveria ser do seu agrado: o recem-assinado pacto da ONU para as migracoes.

Nao tendo havido debate publico em Portugal sobre este assunto, nem de ter lido nada na imprensa escrita, penso que nos prestaria a todos um "servico publico" se partilhasse connosco as suas ideias.

Obrigado.

Anónimo disse...

Actualmente Portugal é, vai já para um bom par de anos, apenas uma comarca (individada) da União Europeia.
Neste contexto os partidos por cá são agremiações de aspirantes ao exercício da arte política. Sem País independente não há política ao sério. Condicionados a cumprir as directivas de funcionários pró-germânicos de Bruxelas não é exercício de política.

Não é curial pensar num Potuex.
Mas estão a surgir, acentuadamente, condições para uma reformulação de esta, a presente, "União" como os próprios mentores o reconhecem.
Depois, quiçá, sim, os partidos e os políticos portuguêses terão oportunidade de responsável e consequentemente exercitarem o seu mister. Até lá tudo são guerrinhas intestinas entre auto-proclamadas elites.

Luís Lavoura disse...

Rio, que é um homem sério, escolheu dizer o que verdadeiramente pensa

Exatamente. Muito correto.

Anónimo disse...

Lido a correr.

Despacho.

Teremos sim de ver para onde está a caminhar, em desespero, esta répública democrática, que isto ainda não é uma verdadeira democracia. Será pena se não tivermos ainda desta uma democracia,

Não deferido.

Anónimo disse...

Concordo com o comentário do anónimo das 11:28.

Diógenes disse...


"Para onde vai a direita", a caminho da manifestação dos "coletes amarelos", e de seguida continuar a financiar a greve cirúrgica da bastonária dos enfermeiros…….

aamgvieira disse...

Normalmente a esquerda ou o seu extremo é que origina a não democracia europeia, do qual o acordo de Marraquexe foi "escondido" dos povos europeus e não referendado pela UE.

Porta aberta para a entrada de radicais da única religião que odeia os cristâos !

aamgvieira disse...

Rui Rio é um socialista tresmalhado.

A sua "ética" se distingue-se pouco da "ética republicana" do Homo Socialisticus Vulgaris




Luís Lavoura disse...

A certos setores do [CDS] foge já muito o pé para o populismo nacionalista, com a correspondente deriva eurocética.

É interessante ver o texto de um ex-deputado do CDS em

https://oinsurgente.org/2018/12/10/da-solidao-na-politica/

Nesse texto o ex-deputado ensaia, dissimuladamente, sorrateiramente, a tal deriva eurocética de que o Francisco fala.

Anónimo disse...

A obsessão relativamente ao Observador (até o tique de não o nomear revela problemas), já começa a cansar. Eventualmente, o "jornal digital" (outro tique irritante, o de diminuir o projeto por ser, apenas, online), estará a acertar umas contas na mosca, não?

Francisco Seixas da Costa disse...

Resposta ao comentador (anónimo, claro) das 19:12: https://observador.pt/opiniao/autor/fseixasdacosta/

Reaça disse...

Para onde vai a direita? A direita está satisfeitíssima com o Costa, melhor que Costa é impossível.

Costa e Centeno, uma maravilhosa direita.

Chato que dar tantas largas aos animais e gays, mas tudo tem os seus custos.

Anónimo disse...

Curioso o comportamento de FSC: por um lado massacra o Observador, por outro, colabora com ele.

E, sim, este comentário também é anónimo. Não quero correr o perigo de levar umas bengaladas suas por... discordar.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...