Hoje, dia de Natal, quase não há jornais diários. (Verdade seja que, também nos outros dias, os diários nacionais não abundam). Com as tabacarias fechadas, aqui por Vila Real, os postos de combustível são a última esperança para um “viciado” de jornais como eu sou. Entrei num, comprei dois jornais e fiquei uns instantes a observar as capas de umas revistas “do social”. Nesse entretanto, surgiu um jovem, de vinte e poucos anos. Alguma coisa me levou a concluir que podia ser estudante. Vi-o pegar precisamente nos mesmos dois jornais. “Um jovem a comprar jornais em papel?”, questionei para comigo mesmo. Saí da loja quase ao mesmo tempo do que ele. Não resisti e comentei-lhe: “Lê sempre dois diários?”. O rapaz olhou para mim, também curioso pela minha observação, retorquindo, com um sorriso: “Estes jornais? Não, não são para mim, são para o meu avô”. Nesse instante, deve ter-se dado conta que eu devia ser da idade desse seu avô. E esclareceu, com um toque de humildade (ou seria disfarçada arrogância?): “Eu não leio jornais em papel”, acrescentando, “às vezes leio no online, mas, mesmo assim, muito pouco”. “Continuação de Boas Festas!”, lancei-lhe, à medida que ambos íamos para os nossos carros. Ele retribuiu e, intimamente, pode ter pensado que, no essencial, eram pessoas como o seu avô (e não falou no pai) aquelas que (ainda) liam jornais em papel. Será que também teve tempo para concluir que, quando as pessoas com a idade do seu avô desaparecerem, os jornais em papel deixarão também de existir?
terça-feira, dezembro 25, 2018
O papel
Hoje, dia de Natal, quase não há jornais diários. (Verdade seja que, também nos outros dias, os diários nacionais não abundam). Com as tabacarias fechadas, aqui por Vila Real, os postos de combustível são a última esperança para um “viciado” de jornais como eu sou. Entrei num, comprei dois jornais e fiquei uns instantes a observar as capas de umas revistas “do social”. Nesse entretanto, surgiu um jovem, de vinte e poucos anos. Alguma coisa me levou a concluir que podia ser estudante. Vi-o pegar precisamente nos mesmos dois jornais. “Um jovem a comprar jornais em papel?”, questionei para comigo mesmo. Saí da loja quase ao mesmo tempo do que ele. Não resisti e comentei-lhe: “Lê sempre dois diários?”. O rapaz olhou para mim, também curioso pela minha observação, retorquindo, com um sorriso: “Estes jornais? Não, não são para mim, são para o meu avô”. Nesse instante, deve ter-se dado conta que eu devia ser da idade desse seu avô. E esclareceu, com um toque de humildade (ou seria disfarçada arrogância?): “Eu não leio jornais em papel”, acrescentando, “às vezes leio no online, mas, mesmo assim, muito pouco”. “Continuação de Boas Festas!”, lancei-lhe, à medida que ambos íamos para os nossos carros. Ele retribuiu e, intimamente, pode ter pensado que, no essencial, eram pessoas como o seu avô (e não falou no pai) aquelas que (ainda) liam jornais em papel. Será que também teve tempo para concluir que, quando as pessoas com a idade do seu avô desaparecerem, os jornais em papel deixarão também de existir?
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Agostinho Jardim Gonçalves
Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...
2 comentários:
Espero que tenha tido um bom Natal, Sr. Embaixador!
Quanto ao papel vs ecrã, continuo a gostar mais de papel, como continuo a gostar mais de discos (sejam CD ou vinil) e mp3 no Disco Rígido do que streaming.
Mais uma encruzilhada do tempo. O "melhor" filme do ano - a forma da água - também retrata a passagem do desenho para a fotografia nomeadamente na publicidade. Isto para dizer que o mundo foi sempre assim. Alguns chamam-lhe progresso. O problema é quando com o passar do tempo acontece precisamente o contrário. E falo de coisas mais sérias, como infelizmente alguns regimes de volta. Como aliás no jornalismo o pior nem é a passagem do papel para o on-line mas será que ainda há mesmo jornalismo independente hoje? De qualquer forma, acabadinho de entrar nos cinquentas dou por mim a pensar muitas vezes que tudo o que era mais belo está mesmo a acabar. Como um timming mais adequado à espécie humana, como algumas regras e alguns valores, como inclusive os carros mais belos, etc, etc, etc. Talvez a excepção sejam mesmo as mulheres mais belas. E ainda bem. Mas não deixo de pensar, não obstante tanta inovação tecnológica e talvez por isso mesmo, que muito dificilmente voltamos a ver pelo menos a nossa parte do mundo evoluir tanto como na segunda metade do sec XX. E falo daquilo que realmente mais importa. Os direitos das pessoas. E é o retrocesso actual a esse nível ainda o que mais me preocupa. se bem que as sementes da actual desregulação que só induz a cada vez mais escravidão e a todos os níveis também estejam lá na segunda metade do sec XX. Talvez quem tiver mais alguns anos me possa tranquilizar. Ou talvez não.
Boa festas para todos no duas ou três coisas.
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