segunda-feira, dezembro 31, 2018

Simões


1. António Simões, uma glória do futebol português, foi assaltado e ferido em Cabo Verde, onde ia passar o fim de ano. Pode acontecer a qualquer um, em qualquer parte do mundo. A notícia só foi notícia porque os factos aconteceram com Simões. Tivesse ocorrido com um cidadão anónimo e ninguém saberia de nada. Imagino agora que, para quem estiver a pensar ir passar uns dias de férias a Cabo Verde, o incidente tenha criado a ideia de que existe uma insegurança naquele país, tido geralmente por um local pacífico. E, provavelmente, assim será. Este é um caso em que a informação pode ajudar à injustiça.

2. E se os assaltantes fossem adeptos locais do Benfica, não fazendo a menor ideia da história da pessoa que estavam a assaltar? É que a probabilidade de um cidadão caboverdeano, como de qualquer ex-colónia portuguesa de África e de Timor, ser adepto desse clube é muito elevada, como bem sabe quem conhece essas terras. Essa é, aliás, uma curiosa herança pós-colonial. Mas o eventual benfiquismo dos bandidos (e já imagino o que, a partir daqui, alguns serão tentados a desenvolver...) seguramente não será suficiente, nos dias de hoje, para saberem que, nos pés do homem que assaltaram, esteve, muitas vezes, a esperança emocionada de um país - então sim, do Minho a Timor, como gostavam de dizer os próceres do império.

3. Há não muito tempo, na sala de espera de um consultório, encontrei-me a sós com António Simões. Não sou muito dado a gestos desse género, mas não resisti ao impulso de ir cumprimentá-lo, expressando a minha admiração por alguém que, não sendo do meu clube, me deu grandes alegrias futebolísticas, como português, mas igualmente por um cidadão que, nas televisões atulhadas de comentário sectário sobre futebol, sempre assume uma séria postura de dignidade e grande equilíbrio. As nossas respetivas consultas estavam atrasadas, o que permitiu que ainda falássemos uns minutos sobre a sua relação fraternal com Eusébio a outras coisas do mundo à volta do futebol. 

4. Agora, só desejo rápidas melhoras a António Simões e que tenha um excelente 2019.

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Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...