quinta-feira, fevereiro 01, 2018

O senhor 5%


Calouste Gulbenkian, de quem herdámos - sim, nós fomos os seus verdadeiros e reconhecidos herdeiros! - uma Fundação que é hoje um dos orgulhos do país, era conhecido no mundo dos negócios como o "senhor 5%", por ter conseguido garantir, pelas artes negociais que eram as suas, uma quota de 5% em várias companhias petrolíferas que operavam no Médio Oriente. 

As receitas do petróleo foram, durante décadas, o sustentáculo financeiro da Gulbenkian, em apoio da magnífica obra desenvolvida, que foi basicamente dedicada a Portugal, em domínios muito variados - da arte à música e ao ballet, da ciência à educação, da promoção da reflexão à edição e divulgação do livro e a mil-e-uma outras dimensões da Cultura. Quantos milhares de portugueses não beneficiaram da Fundação, das suas bolsas de estudo, da sua ação no exterior (Paris e Londres), que nunca esqueceu as comunidades arménias, origem do seu fundador?

O petróleo já teve melhores dias e a Gulbenkian teve de reorganizar os seus ativos por forma a garantir recursos fora desse domínio energético. Foi agora anunciada a alienação das participações petrolíferas da Fundação. Só posso desejar à equipa que hoje gere a Gulbenkian, dirigida pela minha querida amiga Isabel Mota, o maior sucesso nesta que será uma etapa diferente no percurso da casa.

Deixo-os com uma fotografia da estátua de Calouste Gulbenkian, que domina o jardim fronteiro à sua belíssima sede. Diz-se que Salazar, cuja relação com o criador da Fundação e seu primeiro presidente, Azeredo Perdigão, não era isenta de algumas tensões, ao ver pela primeira vez essa estátua terá comentado: "O Calouste Gulbenkian parece-me bem. Já o Dr. Perdigão não está lá muito parecido...", referindo-se ironicamente à águia estilizada em pedra que sobrepuja a imagem do fundador.

12 comentários:

Reaça disse...

Porque seria que Portugal só atraía imigrantes tão estranhos?

Helena Sacadura Cabral disse...

Oxalá seja a alternativa correcta. Confio na capacidade de Isabel Mota e na sua intuição.

Anónimo disse...

Há muitas histórias sobre Gulbenkian o qual ainda muito novo o conheci e ao seu filho Nubar, mas nessa altura as crianças não intervinham nas conversas dos adultos.

A historieta que me foi contada por um familiar é a seguinte:
Uma senhora americana tinha casado com um inglês e viviam em Lisboa. Muitas vezes essa senhora tinha visto um senhor muito triste a vaguear tristemente por aquele jardim. A senhora também passeava e ía conversando com a filha de um ano, em inglês. O tal senhor triste e solitário um dia aproximou-se, apresentou-se e perguntou: Também está em Portugal como refugiada e há quanto tempo. A senhora lá disse com quem tinha casado e porque viviam em Portugal.
Gulbenkian respondeu-lhe: Eu estou como refugiado à espera do visto para os EUA já há alguns anos. Não conheço quase ninguém aqui e tenho uma vida muito triste.
Com isto se despediu e foi-se embora continuar o seu passeio matinal.
A figura de Gulbenkian em Portugal foi interssante pois durante o tempo que aqui viveu não criou raízes nem sequer tinha uma casa própria nem um escritório para trabalhar. Deveria viver de malas prontas sempre para partir.

Anónimo disse...

Espero que seja uma decisão acertada e que não tenha como motivo principal o abandono de ligações a energias fósseis e a procura de alternativas no âmbito do “sustentável “, seguindo o exemplo de outras fundações muito ligadas ao politicamente correcto.

Tenho o maior respeito pelo trabalho que a Fundação Gulbenkian desenvolveu e desenvolve para a promoção cultural, mas por vezes seguem-se modas apenas por ser moda.

albertino ferreira disse...

O Salazar , aliás, considerava o Dr. Perdigão muito vermelhusco...

Luís Lavoura disse...

a Gulbenkian teve de reorganizar os seus ativos por forma a garantir recursos fora desse domínio energético

Eu o que ouvi na Antena ontem à noite é que o desinvestimento tinha motivos "ambientais", por a Fundação não querer mais estar ligada a um setor económico fortemente poluente.

Reaça disse...

Há 43 anos esta fundação "fascista", ainda foi ameaçada pela reforma "agrária".Mas foram a tempo e nem o nome chegaram a trocar...vá lá!

Portugalredecouvertes disse...


Espero que esse negócio corra bem:) e que não traga prejuízos para essa instituição que apoia o desenvolvimento cultural no país, com grande valor e muita consideração por todas as formas de cultura!

Anónimo disse...

Sim ... descartar activos seguros (dominio enrgetico) por outros que ninguem diz quais sao.

Mais ainda com o preço do barril de petroleo a 65 dólares (índice WTI) e 70 dólares (índice Brent) por barril verifica-se que nao esta assim tao baixo quanto isso (obviamente tirando a algazarra do pico de 2008) mas deixo aqui um grafico desde 1946 ate 2017

http://www.macrotrends.net/1369/crude-oil-price-history-chart

Se desde que foi fundada ate agora a fundação conseguiu viver bem com preços de barril de petroleo bem mais baixo a justificação dada (ecologia acima do dinheiro) cheira-me a uma grande treta para esconder algo bem podre

Francisco Seixas da Costa disse...

Ao Anónimo das 21.15. A Gulbenkian não tem de estar sujeita ao escrutínio público. Toma as decisões que entende sobre o seu futuro.

Anónimo disse...

@Francisco Seixas da Costa

"...A Gulbenkian não tem de estar sujeita ao escrutínio público..."

Totalmente de acordo.
Até escusavam de noticiar que vão vender a galinha dos ovos de ouro e escusavam ainda mais de atirar areia para os olhos de quem passava muito bem sem saber disto (por exemplo eu).

Mas vivemos num pais
em que nestas coisas normalmente nada e o que parece,
em que normalmente nada e por acaso,
em que o motivo utilizado serve para desviar a atenção do verdadeiro,
em que as noticias sao dadas para criar um determinado efeito e nao para informar.

"... A Gulbenkian não tem de estar sujeita ao escrutínio público. Toma as decisões que entende sobre o seu futuro. ..."

Totalmente de acordo.
O futuro da fundação eme indiferente... desde que daqui a uns anos nao tenha como contribuinte por dinheiro do meu bolso

Anónimo disse...

Se Gulbenkian não tivesse negociado em petróleo a Fundação não existiria e a dra. Isabel Mota não aquecia a cadeirinha. Este negócio é equivalente a vender a galinha e depois ir comprar ovos. Mas desde que chegue para pagar aos senhores donos do galinheiro vazio estará tudo bem.
Desculpe não concordar com a afirmação de que a Gulbenkian não tem de estar sujeita ao escrutínio público, mas o objecto social da Gulbenkian assim o impõe visto que é uma "instituição particular de utilidade pública geral". Talvez fosse adequado ler os estatutos... Acresce que todos os anos a fundação tem recebido uns quantos milhões ( 4 a 5 milhões/ano) em apoios concedidos pela administração directa e indirecta do Estado (nós)- favor ver os relatórios de contas.

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