A conferência de imprensa do presidente do (meu) Sporting, somada às suas declarações na Assembleia Geral da véspera, constituem um belo retrato, realista e “à la minute”, de um certo país ajavardado que por aí anda.
Com esse país de opereta só compete a total falta de mundo de quem faz o frete mediático oportunista àquele egocentrismo.
Este não é um problema de um clube chamado Sporting Club de Portugal, como o sectarismo de alguns comentários, que com certeza vão poder ler abaixo, tentará Iludir.
O mundo do futebol está tomado por uma estranha aliança entre algumas pessoas tidas por de bem, cegas por uma religiosa devoção a um emblema - no seio do qual só veem virtudes e, à volta, perseguições - com uns jagunços de cara grave e métodos baixos, servidos por uma sórdida canalha de bancada, onde grassa um extremismo acéfalo, o culto da violência e que, frequentemente, roça a criminalidade.
As primeiras dessas pessoas são a cara, que se pretende aceitável, do sectarismo. Integram, em nome das suas cores, a liga, a federação e esses órgão de gargalhada judicial que fazem parte da chamada “justiça desportiva”. E, claro, vivem próximos da arbitragem, um mundo que, sem sucesso, quer dar-se ares de estar desligado das influências da gestão das carreiras profissionais dos árbitros. Esses representantes de fação garantem, não a desejável neutralidade de todas essas entidades, mas estão ali apenas na tentativa da representação ideal, para os interesses dos seus clubes, na relação institucional de forças. Daí o surgimento das crises cíclicas nesses órgãos, quando os desequilíbrios se produzem.
Os segundos, os dirigentes, são os operacionais do radicalismo e do ódio sectário. Forjam candidaturas, tomam conta dos clubes, vociferam em assembleias gerais, dão entrevistas incendiárias, alimentam constantes polémicas, apimentam as vésperas dos jogos, são gestores da esperança nas vitórias do mundo ululante em torno dos seus emblemas. Muitos são empresários, muitas vezes frustrados, de ramos sofríveis de negócio e em busca de reconhecimento, outros andam por ali a garantir a sua sobrevivência pessoal, tentando que a notoriedade os salve das grades. Houve e haverá também gente séria no dirigismo futebolístico, movida pela simples e respeitável afetividade clubista. Mas são, ao que tudo indica, cada vez menos.
As televisões (o resto conta pouco), à cata de audiências, ”balcanizam” os comentários para poderem garantir que representam, no écran, todo esse país dividido e tenso. E filmam treinos, entrevistam treinadores e jogadores, num cenário de retângulos da publicidade e águas de marca (olhem bem!) a que fazem o frete, fazem “antevisões” ridículas e desnecessárias das “jornadas”, seguem, motorizados, os autocarros das equipas para os estádios, entrevistam populares cachecolados no fanatismo, reportam e passam mil vezes, abutremente, cenas de violência e ódio, adubadas com as polémicas dos penaltis ou dos fora-de-jogo, comentam-nas, recomentam-nas, muitas vezes com recurso a “cromos” caricaturais de cada camisola, uns predispostos a serem assumidos palhaços, outros a armar mais ao fino - quase sempre, por que será?, com uma propensão para escolha de figuras do direito.
É um país muito triste, este que anda à volta de um dos mais belos desportos do mundo.
14 comentários:
"Também o Sporting" e não só infelizmente. A situação é comum a tudo o que está ligado, à designada indústria do futebol, que está falida e só sobrevive com a complacência da banca e dos poderes públicos.....
Como sou não-politzado, ou seja "escória humana", vão ter isso em conta para o meu comentário:
O nosso escriba fêz um belíssimo retrato político deste país. Se ele é triste ou não, pouco importa pois ele deveria ser o que a população vota.
Se substuirmos os nomes dos clubes de "football" pelo nome dos partidos, está lá tudo para conhecer este país politico.
E..... mais não digo.
Caro Francisco,
Quando comecei a ir ao futebol, o Presidente eo meu clube - o Benfica - era o 4o Marquês da Praia e de Monforte, D. Duarte António Borges Coutinho - um Senhor. Foi-o durante oito anos, de 1969 a 1977. As coisas mudaram. Não se pede tanto nos tempos que correm mas tão pouco também não.
Um abraço
JPGarcia
Nem mais! É o que em gíria futebolista se chama "um tiro ao ângulo".
"só sobrevive com a complacência da banca e dos poderes públicos...." Também, Diogenes das 13:02, mas muito com a complacência de quem alimenta os jornais desportivos, os programas de comentaristas engajados e os clubes com as verbas das quotizações e dos bilhetas. Um mês, só um mês, sem ninguém comprar jornais desportivos, sem ver na televisão jogos e "comentarices", sem ir ao futebol, a ver se as coisas não começavam a mudar. Mas é disto que (muito)do nosso bom povo gosta, quanto pior, melhor.
Panem et circenses.
Tristíssimo... As televisões, inclusive a que os contribuintes pagam... (esperemos que o cgi analise isso) prestam um péssimo serviço nesse capítulo.
O Futebol nacional é verdadeiramente o espelho fiel do País abrilista.
Treinadores e jogadores campeões espalhados pelo mundo inteiro.
Sucesso dos Ronaldos e Centenos, Guterres e Durões às catadupas, que nem os portugueses heróis que Camões cantou noutros tempos.
Criamos mestres da corrupção, que nem os mafiosos e camorras nos chegam aos calcanhares em subtileza.
Quando antes nem se sabia os nomes dos presidentes do Benfica que ganharam os primeiros títulos europeus, hoje mal se conhecem os jogadores campeões europeus recentes, mas todos sabemos que foi o presidente Pinto da Costa o campeão.
Mas é o Sporting, desde o Bigodes até ao presidente atual, o clube que melhor representa o país, em que todos se servem para se projectarem em bicos dos pés, e o Sporting (país) que se lixe.
Correcção ao meu comentário das 13:46.
"Se substituirmos os nomes dos clubes de "football" pelo nome dos partidos, está lá tudo para conhecer este país politico."
O Anónimo das 13:46 sabe quem é o Presidente dos EUA?
Fernando Neves
Retrato impiedoso, mas verdadeiro. Para a girandola final, só falta que umas centenas de sportinguistas, sem um mínimo de dignidade e de vergonha, votem por mioria uma moção de confiança naquela tristeza de presidente.
Na mouche
quanto ao comentario
"O Futebol nacional é verdadeiramente o espelho fiel do País abrilista."
é de certeza de alguém que tinha sapatos para calçar quando se levantava de manhã, ao contrario de muitas gentes do alentejo e ribatejo. Ja é altura de deixar de sofrer com a derrota desse projecto cobarde e idiota que foi o salazarismo.
Abril ha de ter muitos defeitos (e ha que corrigi-los) mas o botas da tumba não se levanta. Alias quem por tal espera, so pode ser por que acha que não é capaz de tomar acçoes que o melhorem a sociedade em geral (melhorar pode ter muitos sentido, diferentes à esquerda e à direita, mas ha muitos melhorares em que toda a gente de bem estara de acordo. Desde os bombeiros aos juizes, à responsabilidade e passando pela competencia)
cumprimentos
Subscrevo inteiramente ests post. Ainda assim, faria um comentário: parece-me haver uma pequena diferença, pelo menos na linguagem..., entre o Presidente do Sporting Clube de Portugal e a dos restantes presidentes.
@ Anónimo das 21:39
Não percebi a razão da pergunta mas posso-lhe dar a resposta: Donald Trump.
Se me perguntar qual a visão política deste senhor inform-o que desconheço.
Não sei se o anónimo das 13:46 sabe quem é o "presidente dos EUA", mas eu sei:
Enver Hoxha!
Desculpem, mas não resisti.
JPGarcia
República Portuguesa desde 1910!!!
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