Sai hoje de cena Martin Schulz, o desafortunado líder do SPD alemão que, depois de ter perdido as eleições legislativas no seu país, com um resultado historicamente mau, se prontificou a tentar uma “grande coligação” com Angela Merkel e a sua CDU/CSU.
Concluiu esse acordo, conseguiu para o SPD um conjunto muito importante de pastas ministeriais e tudo parecia bem encaminhado para a renovação desse entendimento de “bloco central”. Porém, o anúncio do seu surgimento como ministro dos Negócios Estrangeiros no futuro governo suscitou a revolta do atual titular (e, não por acaso, anterior líder do partido), Sigmar Gabriel, que mobilizou outros setores socialistas contra Schulz. Este decidiu sair, evitando assim uma crise no SPD, que poderia colocar em causa o próprio compromisso que resultou da negociação com Merkel, que ainda tem de ser referendada no seio do partido.
Recordo que, há uns anos, no Parlamento Europeu, onde Schulz era deputado e em que depois seria presidente, teve lugar um debate tenso entre o político alemão e o antigo primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi. Este, num imperdoável mas não surpreendente destempero, afirmou que ele tinha ar de poder ter sido chefe de um campo de concentração nazi. Schulz soube retorquir com grande dignidade ao insulto rasca de Berlusconi, figura que agora, ironicamente, ao que tudo indica, pode vir a reemergir nesse mundo estranho que é a política italiana.
O que quero aqui dizer hoje é que Martin Schulz foi sempre um bom amigo de Portugal, um homem que, em momentos complicados para o nosso país no terreno europeu, assumiu atitudes de forte solidariedade para connosco. António Costa, nos últimos anos, teve disso claras provas.
É um sinal triste que, nesta Europa, saiam de cena figuras com a dignidade de um Martin Schulz e que volte a ter espaço uma personagem do jaez de um Berlusconi.
5 comentários:
Resta o consolo de que Schultz será recordado como um homem sério e combativo. Berlusconi pode ganhar ainda mil eleições que não poderá almejar a nada que não seja ser recordado na História Mundial da Infâmia como um personagem relativamente menor. Claro, ele não se importa nada com isso, porque não tem um pingo de vergonha na cara. Mas a vergonha é coisa para gente com honra...
Sim, lembro-me de Schultz e o nosso querido ex maoista furao burroso a serem completamente cilindrados por Nigel Farage... muitas vezes. Que falta fazem la os 3. que saudades desses tempos.
M.S disse que não entraria num governo de A.M. Acabaria por ceder. Ficou-lhe mal. Em política as palavras contam. Tal como aquelas "leiam os mes lábios" do pai Bush. Não tenho pena nenhuma de M.S. O SPD com ele (e esse reaccionário do Sigmar Gabriel) não vai longe. Ou mudam - radicalmente - ou simplesmente desaparecem. Como o patético PASOK. Em política ou se percebem "os ventos" de quem é a base de apoio, ou não e cai-se no abismo. Não me admiraria que o SPD viesse, gradualmente, a desaparecer, ou ser irrelevante, na política interna alemã. Por erros próprios. Não lamento quem é culpado pelo seu destino. Sobretudo em política. Virá a extrema-direita, quiçá outros partidos mais à esquerda e depois se verá o que virá a ser a Alemanha pós-Merckel. A Europa, UE, etc, deixaram de ser referências para as camadas mais jovens, refiro-me entre os 18-45 anos. Muita coisa falhou. E existe hoje um vazio ideológico e político. A ser preenchido por quem?
Muito mau para a Europa esta saída do Schulz.
Fernando Neves
JC Junker - Parti Populaire Européen (PPE) CDH, CD&V, UMP, UDI, CDU, CSU Angela Merkel, Kris Peeters, Nicolas Sarkozy
Martin Schultz Parti Socialiste Européen (PSE) Parti Socialiste Belge, Parti Socialiste Français, SPa , Labour, SPD François Hollande, Elio Di Rupo,
Matteo Renzi
Martin Shultz é vitima dessa estranha doença do liberalismo que afecta a social-democracia desde Blair, na qual nada os distingue dos adeptos do liberalismo selvagem.
Uma vista de olhos no quadro das ultimas eleições à presidência da Comissão Europeia, de 2014, mostra-nos Martin Shultz , candidato do PSE (Partido Socialista Europeu) , apoiado pelos moribundos da social democracia europeia. E tudo o vento levou…
O vencedor foi o candidato Junckers, apoiado pelo PPE (Partido Popular Europeu), com a Ângela e o Nicolas Sarkozy na manobra.
Compreendo os alemães da base do SPD: Shultz , em 2017, afirmou que nunca aceitaria de governar com os conservadores de Merckel. Esqueceu o seu discurso. Todos os líderes da social-democracia europeia esqueceram os seus discursos de campanha. O resultado viu-se. Alguns povos têm boa memória.
Martin Shultz, um mundo de incoerências.
Shultz tinha um programa para a economia, no qual a sua prioridade era o combate contra a evasão fiscal e a fraude. Mas a Europa sendo assim feita, o vencedor foi o organizador da evasão fiscal e da fraude no seu próprio país, o Luxemburgo. Mas MS não protestou demais…
Para a crise, MS tinha afirmado que os especuladores tinham uma responsabilidade directa, e que era anormal que os contribuintes tivessem de pagar as perdas dos bancos na especulação, tanto mais que não beneficiavam em nada. E tinha razão.
Mas ao mesmo tempo que se opunha à austeridade, que agravava a situação na Europa, o seu grupo votou em massa o pacto orçamental, o famoso TSCG…Crescimento sim mas disciplina orçamental, foram as suas palavras…
MS criticava e muito bem, o papel da BCE que emprestava aos bancos, a taxa ínfima, o tal dinheiro que servia para especular ou para emprestar depois aos Estados! E declarou-se por conseguinte por uma reforma da BCE.
Mas os socialistas continuaram a participar na trajectória neoliberal da EU votando quase sempre ao lado dos liberais e dos conservadores.
Quem não viu os socialistas europeus manifestar algumas reticências contra o TAFTA/TTIP, (Tatado de união transatlântico de livre troca entre a EU e os EUA), mas ao mesmo tempo considerar favoravelmente a ideia de desenvolver este “partenariado”?
Ao menos, com Junker tudo era claro:
-A continuidade do seu predecessor, que conhecemos bem. Junker deu alguns ares da sua graça propondo um salário mínimo europeu, para lutar contra o dumping social e a afirmação que os bancos “deviam mudar de atitude” !!!, coisas que nunca vieram ao espírito do Maoista precedente , mas que deviam estar, portanto, na sua génese ideológica (!),
- Quando os outros candidatos à presidência criticavam o funcionamento da Troika e a punham em causa, Junker evitou de se pronunciar.
Pena foi que Martin Shultz, o mais omnipresente e prolixo actor dos debates não tenha tido maior sucesso. E pena é que termine a sua carreira tão lamentavelmente no seu próprio país.
Pena foi que não tenha sempre falado como um socialista, e que se tenha deixado levar na enxurrada dos socio-liberais-démocratas , que não têm escrúpulos para vender tudo da Nação, da Democracia, do Estado, do Parlamento e do Povo. Como Tony Blair, entre outros.
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