quinta-feira, fevereiro 15, 2018

A escada


Demora bastantes anos a subir esta escada. Há que fazê-lo com jeito, sem pressas, medindo bem a importância de cada degrau que se pisa. Alguns, na sofreguidão da ambição, tentam fazê-lo dois-a-dois, procurando queimar etapas. A esses, às vezes, e não são poucas, acontece-lhes tropeçarem. Outros, mais preguiçosos, sobem-na com demasiada lentidão, muito passo-a-passo, adormecendo sob o sol da tapada, e, quando se dão conta, verificam que já se faz tarde para chegarem ao topo. Há também os que, na subida, passam o tempo a olhar para o lado, invejosos com a passada dos outros, como se o azar que intimamente desejam aos seus competidores fosse afinal a sua maior fortuna. Alguns desses ainda conseguem a aventura de chegar ao topo da escada mas, quando olham para trás, ouvem umas estranhas gargalhadas vindas do fundo. Mas nunca chegam a perceber quantos se riem deles. Outros, mesmo muitos, acabam por escorregar um dia no atabalhoado do seu percurso, porque o mármore dos degraus é traiçoeiro para quem os não respeita.

Esta é a escada que liga o “palácio velho” às Necessidades. Passei por lá hoje à tarde (“vai em trabalho?”, perguntou-me a bela GNR. “Não, eu já não tenho idade para trabalhar...”, respondi-lhe, correspondendo ao sorriso). Não há uma forma única de subir esta escada, mas aprendi com a vida que só há uma maneira “fair” de a encarar. No entanto, pode-se “subi-la” a partir de cima, mas, acreditem, não é exatamente a mesma coisa... 

6 comentários:

Anónimo disse...

Na história das mentalidades deste temmpo terá de se ter bem em conta a importância de que nesta vida o que de mais importante é: "subir-se socialmente".

O vazio provocado pelos PREC e companhias fez aparecer todos os oprtunistas sociais. Só que nunca perceberam que não é em meia geração que isso se faz. E tembém não se faz pelos cargos exercidos, pois depois desses exercidos voltam quase que à estaca zero. Talvez sim um pouco mais desafogados materialmente.

Bonita foto de um espaço quase misterioso quando se o vê ao vivo.

Anónimo disse...

O relato sobre a escada só em parte reflete a verdade, dado que desde que Paulo Portas foi Ministro e Morais Leitão Secretário de Estado e foi destruturada a orgânica do Ministério dos Negócios Estrangeiros, os mais velhos diplomatas,os que tinham maior competência e traquejo, tiveram de se reformar e o Ministério ficou entregue aos bichos,sendo que os lugares de topo passaram a ser ocupados por amiguinhos. E mais não digo...

Anónimo disse...

Antes eram escadas, agora utilizam escadotes articulados para subir mais depressa com degraus antiderrapantes....

Francisco Seixas da Costa disse...

O Anónimo das 18:00 não tem razão. As malfeitorias de Portas & Leitão no MNE são uma evidência que ainda estamos a pagar, mas não conheço nenhum embaixador que se tenha reformado por virtude delas. E o MNE está hoje muito bem entregue, ao contrário do que diz.

Francisco Seixas da Costa disse...

O (pouco) Anónimo das 13:14 tem o problema de ter ficado no “social”, sem o reconhecimento profissional. Mas não temos culpa, colega...

Anónimo disse...

@Francisco Seixas da Costa, 19:34

Peço perdão. Nem camarada, nem colega. Sou de fora. Como dizem os brasileiros: "Deve estar me estranhando."

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...