Um saudoso jornalista e poeta, Eduardo Guerra Carneiro, escreveu um dia um livro com o título deste post. É bem verdade que tudo anda ligado. Os portugueses que vivem em França foram e, por vezes, continuam a ser testemunhas de violências urbanas bem similares às que agora estão a ocorrer no bairro da Boa Vista, em Setúbal. E sabem que esses eventos são o somatório trágico das tensões culturais, da exclusão social, das rupturas do tecido familiar, dos problemas económicos e da quebra da autoridade de um Estado com o qual os jovens envolvidos não sentem qualquer solidariedade. Mas eles também sabem que, sem segurança e sem o pleno apoio a quem a exerce democraticamente, as sociedades não se sustentam e a vida quotidiana se torna num inferno.
Portugal é um país que, nas últimas décadas, passou por um processo acelerado de integração dos seus imigrantes, que são hoje mais de 5% da sua população. A grande maioria desses imigrantes, oriundos de países muito diversos, tem como simples projecto a melhoria das suas condições de vida, pelo que não deve ser confundida com uma minoria que tende a envolver-se em acções criminosas, a qual deve ser reprimida, como quaisquer outros delinquentes, portugueses ou não.
Mas o nosso país, que tem um histórico de presença externa no mundo das migrações que o obriga a alimentar uma forte cultura de integração, tem a obrigação de estar bem vigilante face à emergência de pulsões populistas, de natureza xenófoba ou racista, que, como se tem visto em todo o mundo, sempre partindo de muito legítimas preocupações securitárias, rapidamente podem descambar em demagógicas campanhas de intolerância. E uma coisa tenho por certo: temos de ser radicalmente intolerantes perante a intolerância.
Portugal é um país que, nas últimas décadas, passou por um processo acelerado de integração dos seus imigrantes, que são hoje mais de 5% da sua população. A grande maioria desses imigrantes, oriundos de países muito diversos, tem como simples projecto a melhoria das suas condições de vida, pelo que não deve ser confundida com uma minoria que tende a envolver-se em acções criminosas, a qual deve ser reprimida, como quaisquer outros delinquentes, portugueses ou não.
Mas o nosso país, que tem um histórico de presença externa no mundo das migrações que o obriga a alimentar uma forte cultura de integração, tem a obrigação de estar bem vigilante face à emergência de pulsões populistas, de natureza xenófoba ou racista, que, como se tem visto em todo o mundo, sempre partindo de muito legítimas preocupações securitárias, rapidamente podem descambar em demagógicas campanhas de intolerância. E uma coisa tenho por certo: temos de ser radicalmente intolerantes perante a intolerância.
3 comentários:
Nenhum argumento poderá jamais justificar a morte de um homem. Menos justificáveis ainda os argumentos quando a morte é vitimada pela força da lei... Não justifico a violência e estou perfeitamente de acordo que devemos ser “intolerantes perante a intolerância”. Isto dito, face à violência suportada por algumas “minorias”, durante anos e anos sem verem futuro possível, a violência acaba por ser um acto de desespero e de sobrevivência.
As minhas funções profissionais levaram-me a constatar a existência de famílias inteiras que não vêm outro futuro que o de viverem em bairros degradados, sem emprego, e com o sentimento deprimente que acabaram por interiorizar de se sentirem inúteis à sociedade que avança sem eles. Os filhos destas famílias crescem neste ambiente de quase abandono onde os próprios pais perderam também, para eles, qualquer autoridade e capacidade para lhes mostrarem que o futuro não é assim.
Vários sociólogos alertaram para este facto encerrar um paiol que poderia arrebentar a cada momento. Foi o que aconteceu em maiores proporções há uns três anos atrás aqui em França.
Outros sociólogos atenuam a gravidade e dizem que a nossa época não é aquela que conhece períodos mais violentos em comparação a outras épocas. Mas que seja! Isto não vem em nada confortar as populações que presenciam as violências ou que vivem o medo quotidiano de verem a violência surgir...
José Barros.
Grande motivo de reflexao e de debate.
"Enormissimo" problema, que, sendo analizado em toda a sua profundidade, (certamente) terà afinal mais raizes na economia, do que a propriamente dizer, na "onda sociologica em geral", mesmo se os temas estao intimamente ligados.
No entanto o "fogo està a querer arder" quase por todo o lado (França, Grécia, Portugal (?)), e quando o fogo arde, sao os bombeiros que devem de estar nas primeiras linhas para tratarem a urgencia.
O verdadeiro problema é que, apos o incendio apagado, tudo fica igual, as palavras ditas sao levadas pelo vento, e as causas da situaçao nao mudam.
Porquê ? Porque seria necessario tratar verdadeiramente as raizes, e esse tratamento nao é considerado (pela maior parte dos politicos profissionais), como uma prioridade... Até que...
NB. Um grande erro cometido em Portugal, foi o "seguimento" nos anos 70 do esquema francês dos bairros sociais, (e HLM's) inventados pelo General de Gaule, o que se revelou um desastre em si.) Mais isso està longe de jutificar e explicar tudo.
Mario
Tenho entre mãos, para começar a traduzir, um belíssimo livro de Daniel Baremboim cujo título é precisamente EVERYTHING IS CONNECTED.Além de reflexões profundas, e muito oportunas, sobre o poder da música, subtítulo do livro, fala-nos da sua experiência, com o saudoso Edward Said, de tentar combater a violência e a intolerância com uma orquestra: a Western-Eastern Divan Orchestra. O meu querido amigo Eduardo Carneiro, companheiro de carteira na Escola do Trem, de outro homem saudoso, de seu nome Francisco Rodrigues Pena, teria por certo gostado de ouvir o Daniel Barenboim tocar os dois primeiros concertos para piano de Chopin (os outos, para violino, só estão ao alcance de alguns ...), o que vai acontecer, soube hoje, na Fundaç\ao Calouste Gulbenkian, no dia 21 de Setembro!
Enviar um comentário