Há minutos, um amigo perguntava-me se, nas notas que este blogue costuma fazer em relação a algumas datas portuguesas, não havia espaço para o 28 de Maio. Não que ele pretendesse comemorá-lo - deixou claro -, mas porque isso seria talvez interessante, como memória para alguns leitores mais jovens, para quem as diferenças entre tempos passados acabam por diluir-se no seio de alguma indiferença. Tem toda a razão.
O movimento de 28 de Maio de 1926 foi um golpe de Estado militar, com apoio de sectores conservadores civis, que pôs termo à experiência democrática iniciada cerca de 16 anos antes, com a instauração da I República, em 1910. Muito por obra da persistente oposição dos seus inimigos, a que se somou a incapacidade da burguesia urbana de consensualizar um modelo político fora dos vícios do antigo rotativismo monárquico, cumulado por um agitação operária que ia com os tempos, a jovem República acabou por instalar um regime de grande instabilidade política, que alienou, sucessivamente, vários sectores sociais, diminuindo drasticamente a sua base de apoio.
Na execução do 28 de Maio cooperaram forças de vária natureza, desde monárquicos revanchistas a republicanos desiludidos, de sectores integristas católicos a meios empresariais cansados das tensões sindicais. O movimento, que acabou por se revelar filofascista, teve inspiração em modelos congéneres que emergiram noutros países europeus e, no caso português, acabou por servir de escape a um profundo mal-estar no seio da instituição militar, que a participação na Primeira Grande Guerra tinha potenciado.
Em poucos dias, o 28 de Maio trucidou sucessivamente dois dos seus líderes, acabando a nova Ditadura Militar por deixar na chefia do Estado o general Óscar Fragoso Carmona, que abriu o caminho que viria a ser prosseguido pelo jovem economista coimbrão, militante católico conservador, que deu pelo nome de António de Oliveira Salazar.
Um dia, Salazar, num dos seus mais célebres discursos, disse: "Sei o que quero e para onde vou". E, porque ele sabia, escusou-se a perguntar aos portugueses, durante quase 40 anos, se queriam ir por aí.
7 comentários:
Pessoalmente festejo o 28 de Maio de hà umas três dezenas de anos para cà. A esta hora estamos a chegar do Restaurante, desta vez "o Littéraire", onde fomos fazer a festa.
Nos primeiros anos, confesso, festejava este dia com uma certa contrariedade embora o aniversàrio da minha esposa nao tenha nada a ver com o golpe de Estado que pôs termo à jovem Republica portuguesa...
Creio que pretende referir a participação na 1a Guerra Mundial e não na Segunda. Aproveito para lhe felicitar pelo excelente blog, continue a teclar com a qualidade com que já nos habituou.
Esse movimento, apesar de acabar por se revelar negativo na sua profundidade, contem no entanto uma vertente positiva.
Indica que mesmo antagonistas e com profundidades de objectivos divergentes, por vezes forças conseguem unir as suas vontades de atinjir uma meta.
Uma liçao a recordar.
"Um dia, Salazar, num dos seus mais célebres discursos, disse: "sei o que quero e para onde vou". E, porque ele sabia, escusou-se a perguntar aos portugueses, durante quase 40 anos, se queriam ir por aí."
Constata-se hoje, 80 anos depois, que a maior parte dos governantes adopta a mesma atitude.
A nivel desta europa por exemplo, é um facto infelizmente evidente...
... talvez até com uma diferença. é que relativamente a esta europa : os governantes adoptam a mesma atitude que salazar adoptou, nao se importando da opiniao das populaçoes.
Mas ao contrario do que pretendia o salazar, os governantes actuais nem sequer sabem para onde esta europa vai. O que se torna afinal ainda mais grave.
Excelente Post. Convenientemente a tempo e muito bem escrito e…dito.
P.Rufino
Caro Embaixador
Importa fazer uma pequena correcção. Onde se diz "que pôs termo à experiência democrática instaurada". Há que acrescentar "Pseudo", entre as palavras "Experiência" e "Democrática".
É necessário frisar que as restrições ao voto no tempo da primeira república eram senão iguais, ainda maiores que no tempo do Dr. Salazar e foram sempre norteadas pelo principio sectarista "Só pode votar quem connosco concorda".
Cara Fenêtre du Portugal. Tem toda a razão quando diz que os actuais politicos se comportam como "Sei o que quero, sei para onde vou". Só que com uma diferença. Ao contráro de Salazar eles nem sequer sabem onde estão, quanto mais saberem o que querem ou para onde hão de ir.
Já cá faltavam os talassas! Senhor Embaixador: já não há filtro para este tipo de coment´rios?
O comentario "anonimo" anterior parece mostrar :
- Que desconhece os termos "democracia" e "liberdade de expressao" respeituosa.
- E que nao nao gosta do doce regional covilhanense.
Talassas da Covilhã (Doce regional) :
http://www.gastronomias.com/portugal/beira_baixa052.html
Dicas para a confecção das Talassas :
Trabalha-se 100 gr. de manteiga em creme, junta-se 250 gr. de açúcar, 7 ovos e bate-se tudo muito bem. Adiciona-se 250 gr. de farinha e mistura-se, unta-se a forma com azeite e cozem-se as talassas.
Época de Confecção: Todo o ano.
Caracteristicas: Açúcar, Farinha, Manteiga, Ovos
NB. Talassas é um termo feminino :-)
Mario
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