Há dias, num jantar em Paris, fiquei ao lado de um cavalheiro, que se apresentou, mas cujo nome e ocupação, no momento, acabei por não fixar. Na conversa que se seguiu, verifiquei que era um homem muito culto e interessante, com uma visão alargada da vida e das coisas, que conhecia bem a literatura portuguesa, tendo-me também falado com entusiamo de Jorge Sampaio e da sua Aliança de Civilizações, à qual estava também ligado. A certa altura, dei-me conta de uma coisa incómoda: tinha-se já passado uma boa meia hora de charla, ele sabia quem eu era mas, a mim, continuava a escapar-me quem ele era e o que, no essencial, fazia na vida. A conversa divagava por temas diversos e, de certo modo, já começava a ser delicado eu inquirir essa coisa tão básica, a que eu deveria ter tomado atenção, desde o início. Com alguma técnica que a profissão ensina, acabei por chegar lá, sem perguntar directamente: era o director da nova biblioteca de Alexandria, no Egipto. Chama-se Ismail Serageldin e foi vice-presidente do Banco Mundial.
A bibliteca de Alexandria é uma daquelas referências quase mitológicas na História do mundo e, por isso, quis saber como ele sentia o peso dessa responsabilidade. Pareceu-me muito calmo ao abordar, com realismo, a dimensão da magnífica tarefa que lhe compete, para estar à altura da ideia que a sua biblioteca tem no imaginário mundial. E acrescentou: "Confesso que tenho um problema: não me posso queixar do meu antecessor. Deixou o cargo há quase dois mil anos..."
A bibliteca de Alexandria é uma daquelas referências quase mitológicas na História do mundo e, por isso, quis saber como ele sentia o peso dessa responsabilidade. Pareceu-me muito calmo ao abordar, com realismo, a dimensão da magnífica tarefa que lhe compete, para estar à altura da ideia que a sua biblioteca tem no imaginário mundial. E acrescentou: "Confesso que tenho um problema: não me posso queixar do meu antecessor. Deixou o cargo há quase dois mil anos..."
2 comentários:
Uma tal bibloteca atravessar milénios sem Director merece bem referência!
José Barros
A Biblioteca de Alexandria tinha sido destruída num fogo, durante um confronto entre as forças de Júlio César e as do jovem Prolomeu, irmão de Cleópatra. Ao mandar incendiar, por questões de logística militar, uma boa parte dos seus barcos, César acabou por provocar um incêndio que alastrou à Biblioteca e a destruiu parcialmente, assim como os livros e bibliografia diversa. Recuperou depois e continuou a distinguir-se na Antiguidade. Mas, algumas das suas obras ali recolhidas viriam a ser alvo da fúria fanática de alguns monges religiosos em AD IV e V, na Roma já “cristã” e algumas das obras ali guardadas foram destruídas, queimadas. Seguiu-se o período muçulmano, mas nunca mais aquela Biblioteca voltou a ser o que era, digamos até Diocleciano e primórdios de Constantino. Nem mesmo Alexandria é o que é. Sem desvirtuar, simplesmente, são outros tempos, hoje é uma Metrópole diferente e a sua Biblioteca sofreu alterações profundas com o andar dos séculos.
P.Rufino
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