sexta-feira, maio 15, 2009

Angola

O embaixador do Congo em Paris, Henri Lopes, contou-me, há dias, uma história curiosa, passada em 1974.

Na capital do Congo, Brazaville, estava situada aquela que era a principal representação externa do MPLA no exterior. Nesse tempo, o movimento defrontava-se com uma cisão chamada Revolta Activa, então chefiada por Mário Pinto de Andrade. A Organização de Unidade Africana (OUA) procurava encontrar uma solução para aquela fractura política e Henri Lopes, que era então primeiro-ministro do Congo, havia sido encarregado de tentar uma reconciliação. Em algumas conversas, Neto dera sinais de poder aceder a essa ideia, pelo que foi marcada uma reunião no gabinete do primeiro-ministro congolês.

Assim, numa manhã, Neto e Lopes falavam do tema, com o presidente do MPLA a dar indicações claras de que, nos termos de algumas condições, um compromisso era possível. Num determinado momento, porém, chega a notícia de que uma revolta tinha tido lugar em Portugal. Era dia 25 de Abril.

Ao espanto de Agostinho Neto sucedeu-se, de imediato, a sua decisão de pôr fim a qualquer mediação ou entendimento. O MPLA e a Revolta Activa acabaram por agravar as suas tensões, que chegou a momentos de alguma violência, mesmo em Brazaville. Os membros da Revolta Activa não viriam a ter qualquer papel no início da independência angolana.

É curioso como, aqui por Paris, se encontram histórias esparsas que se ligam à nossa aventura africana.

6 comentários:

Anónimo disse...

Significa que afinal,

- Existem coisas que chegam / acontecem no momento adequado (ou nao)

- O mundo é de facto pequeno.


Mario

ferreira.fernandes disse...

Sou leitor costumeiro do blog, pelas histórias, pelo estilo e por gostar de iconoclastias (não são muitos os embaixadores bloggers). Permita-me, hoje, uma correcção: o dirigente angolano da Revolta Activa só pode ser Mário Pinto de Andrade e não "Manuel". Dois irmãos, Mário e Joaquim Pinto de Andrade, ambos já falecidos, foram notáveis angolanos, nacionalistas e homens da Cultura. O embaixador congolês Henri Lopes teve, desde os anos 60, uma ligação forte com os exilados angolanos. O seu nome indicia uma provável ligação a Angola, que desconheço. Digo isto para sugerir ao embaixador Seixas da Costa um futuro post que teria, pelo menos, um leitor interessado.
José Ferreira Fernandes

Francisco Seixas da Costa disse...

Tem toda a razão Ferreira Fernandes e, por isso, agradeço-lhe a oportuna correcção. Foi um lapso meu.

Ainda conheci, em Angola, creio que em 1983/84, Joaquim Pinto de Andrade, uma figura discreta e suave, com quem, infelizmente, pouco falei do passado e apenas troquei impressões sobre o presente da Angola de então.

Mas prometo tentar inquirir de Henri Lopes um pouco mais dos tempos do angolanos exilados em Brzaville.

Alcipe disse...

"Henri Lopes est né le 12 septembre 1937 à Kinshasa.
Après ses écoles primaires à Brazzaville et Bangui il poursuivra dès 1949 ses études en France, à Nantes pour le degré secondaire, pour l'université à Paris.
De retour au Congo-Brazzaville en 1965, il passa à la direction générale de l'enseignement avant de devenir ministre de l''éducation nationale, premier ministre et ministre des finances par la suite.
Auteur d'articles et de poèmes, il a publié également deux romans."

(Fonte: J B Tati Loutard "Anthologie de la littérature congolaise d'expression française")

Com os cumprimentes de Alcipe

Anónimo disse...

O MPLA COMO MARCA


O MPLA como Marca representa um poder permanente em função de mais do que a sua história e multiplicidade de histórias e perpetuações das suas tradições.
Um dos factores qualitativos de recriação da sua força consiste na lealdade da corrente regeneradora dos seus aliados.
Os seus atributos, qualidade e expectativas criadas e uma amálgama de resultados e sua funcionalidade reforçam uma narrativa que impulsiona a sua existência.
Não há dúvida de que as crenças sagradas, criações, metas e seu prestígio, sua visão e missão, capacidade de inovação reforçam o seu posicionamento.
A sua suposta notoriedade e fidelização em constante construção criando boas ligações emocionais melhorarão consideravelmente essa marca.
Sendo assim será que a marca MPLA é um sistema propulsor e fonte de criação de valor?
Será que a notoriedade do MPLA continua a ser evocada de forma espontânea?
Para que a marca MPLA se perpetue será necessário que as atitudes das pessoas correspondam a avaliações globais favoráveis.
Não há dúvida que a força da marca MPLA quase se confundirá a um culto descentralizado e de interacções e laços fortes e experiências partilhadas que criam várias identidades verbais e simbólicas.
Para falar da antiguidade da Marca MPLA teremos que falar forçosamente do seu núcleo fundador de Conacry dos anos 60.
A marca MPLA se perpetua pelo seu prestígio devido as associações intangíveis, pelo seu simbolismo popularizado incontornável e grandes compromissos com o passado.
O MPLA como marca, alem de possuir narrativas de sobrevivência, inclui testemunhos que dão a história, significados mais profundos e grande carácter de emocionalidade.
A história do nacionalismo e luta de libertação pelos actores de renome a partir da fundação do MPLA em Conacry pelos seis fundadores bem personalizados, como Viriato da Cruz, Mário Pinto de Andrade, Hugo José Azancot de Menezes, Lúcio Lara, Eduardo Macedo dos Santos e Matias Migueis perpetuarão essa marca de forma reflectida.
Poderemos então afirmar que os fundadores de Conacry foram os agentes prioritários e fundamentais da verdadeira autenticidade da marca MPLA.
A dinâmica da história e a construção de identidades pressupõem estados liminares, pelo afastamento constante de identidades anteriores.
Desenvolver a cultura da marca MPLA exigirá um constante planeamento e estratégias que permitirão reunir e sentir esta marca global.
Para terminar apelaria que nas verdadeiras reflexões que a lenda da marca não obscurecesse a lenda dos fundadores verdadeiros artífices.
Escrito Por:
AYRES GUERRA AZANCOT DE MENEZES

Anónimo disse...

Caro Francisco Seixas da Costa,

Este seu post de 2009 que agora encontro, é bastante desconcertante.
Passo a explicar: tenho vindo a investigar bastante sobre o tema (MPLA, Angola e Guerra Civil) e todas as fontes indicam Agostinho Neto pelos Estados Unidos aquando do 25 de Abril em Portugal. Inclusive signatários da Revolta Activa dizem que Neto, nos Estados Unidos, não deu muita importância à notícia do 25 de Abril por a considerar um golpe de estado 'corrente' à maneira de Botelho Moniz e afins.

Poderia dar mais pormenor acerca desse encontro entre Agostinho Neto e o embaixador?

Muito obrigado,

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...