François Bayrou é, actualmente, a mais destacada figura política do centro político francês - um lugar ideológico que, até agora, não tem por aqui uma história de grande sucesso na ascensão a lugares cimeiros nas principais instituições do Estado, se descontarmos o caso pontual de Alain Poher, cuja derrota eleitoral, contra George Pompidou, significou o seu ocaso político.
Antigo ministro, actual deputado, candidato nas últimas eleições presidenciais, François Bayrou tem vindo a tentar afirmar um projecto próprio, o qual, como agora se verifica, passa por uma oposição muito forte ao presidente Sarkozy. É nesse quadro de combate político que se insere um feroz libelo que lançou contra o chefe de Estado, na forma do seu livro "Abus de Pouvoir", que acabo de ler. Embora noutro tempo e noutro contexto, este livro não deixa de nos recordar o "Le Coup d'État Permanent", de François Mitterrand, talvez o mais violento livro de que me recordo, publicado por um político no activo, contra o General de Gaulle.
Recordo um episódio em que entra François Bayrou. Estávamos em 2000, durante a presidência portuguesa da União Europeia. Era o tempo do isolamento da Áustria pelos outros "catorze", por virtude do acesso de um partido de extrema-direita ao poder, em Viena. Coube-me apresentar essa decisão ao Parlamento Europeu, em Bruxelas, no início de uma sessão que acabou por ser bastante turbulenta. Num determinado momento, fui objecto de uma violenta intervenção de Jean-Marie le Pen, a que me recordo de ter respondido com rispidez. Bayrou saiu em minha defesa e, de certo modo, acabou por ajudar a equilibrar o debate.
Mas este post serve, essencialmente, para sublinhar que existe em França, de há muito, uma tradição, por parte dos actores políticos, de mobilizarem o debate através da publicação de livros, o que permite contrastar teses e fazer assentar a polémica num confronto de ideias, que não exclui, bem entendido, o corrente uso de picardias pessoais. Ministros, deputados, senadores e outras figuras conhecidas recorrem, com frequência, à expressão publicada das suas posições, o que não deixa de ser fascinante para um observador atento à realidade política francesa.
Não sei se o nosso mercado livreiro teria elasticidade para tal, mas creio que seria muito salutar se a vida política portuguesa fosse pontuada, com mais regularidade, com obras de ideias produzidas por políticos nacionais no activo.
Antigo ministro, actual deputado, candidato nas últimas eleições presidenciais, François Bayrou tem vindo a tentar afirmar um projecto próprio, o qual, como agora se verifica, passa por uma oposição muito forte ao presidente Sarkozy. É nesse quadro de combate político que se insere um feroz libelo que lançou contra o chefe de Estado, na forma do seu livro "Abus de Pouvoir", que acabo de ler. Embora noutro tempo e noutro contexto, este livro não deixa de nos recordar o "Le Coup d'État Permanent", de François Mitterrand, talvez o mais violento livro de que me recordo, publicado por um político no activo, contra o General de Gaulle.
Recordo um episódio em que entra François Bayrou. Estávamos em 2000, durante a presidência portuguesa da União Europeia. Era o tempo do isolamento da Áustria pelos outros "catorze", por virtude do acesso de um partido de extrema-direita ao poder, em Viena. Coube-me apresentar essa decisão ao Parlamento Europeu, em Bruxelas, no início de uma sessão que acabou por ser bastante turbulenta. Num determinado momento, fui objecto de uma violenta intervenção de Jean-Marie le Pen, a que me recordo de ter respondido com rispidez. Bayrou saiu em minha defesa e, de certo modo, acabou por ajudar a equilibrar o debate.
Mas este post serve, essencialmente, para sublinhar que existe em França, de há muito, uma tradição, por parte dos actores políticos, de mobilizarem o debate através da publicação de livros, o que permite contrastar teses e fazer assentar a polémica num confronto de ideias, que não exclui, bem entendido, o corrente uso de picardias pessoais. Ministros, deputados, senadores e outras figuras conhecidas recorrem, com frequência, à expressão publicada das suas posições, o que não deixa de ser fascinante para um observador atento à realidade política francesa.
Não sei se o nosso mercado livreiro teria elasticidade para tal, mas creio que seria muito salutar se a vida política portuguesa fosse pontuada, com mais regularidade, com obras de ideias produzidas por políticos nacionais no activo.
3 comentários:
"um lugar ideológico que, até agora, não tem por aqui uma história de grande sucesso"
é verdade. Como se afinal, os franceses, por pouco extremistas que sejam e que se afirmem, sao afinal o oposto do que clamam.
(Ou seja, dao pouca preferencia às tendencias que julgam como sendo centristas, vistas provavelmente como posiçoes sem personalidade).
No entanto, em politica tudo passa a um milimetro do seu contrario. é como em futebol. Bastava um pequeno pé situado durante meio segundo a 5 cm mais ao lado, e o filme mudava completamente !
O Chico Bayrou até podia ter tido a oportunidade de hoje ser presidente. Esteve bastante proximo. Para simples lembrança : Segundo as sondagens em vigor durante as eleiçoes presidencias de março 2007, se tivesse atinjido a segunda volta, teria ganho frente au que hoje està na capoeira dourada.
Como em futebol, por pouco, faltou-lhe aquele pequeno pé durante meio segundo no sitio certo. (So que "um pé" em politica tem outras incidencias menos claras, que os arbitros (cidadaos) nao podem/sabem ver, nem em camara lenta.
- Sim, em Portugal nao seria negativo exemplos do genero, visto que a politica portuguesa parece um filme sem fim, sem bolhas, sem acidez e sem irreverencia. (Isto quanto ao ton).
Quanto ao tenor, penso que hoje jà nem fazem sentido debates de ideias, visto que as "ideias" desapareceram, e quando ainda existem, sao de uma frustrante e incompreensivel mesma cor.
Hoje politica = gestao, ora nao hà nada mais triste que a gestao pura, com as suas escolhas certas ou erradas, com tendencias, mas com uma flacidez se assimila ao desespero. O que evidentemente (mas nao so), tem uma influencia logica no desinteresse geral pela politica.
Mario
Mobilizar/Dinamizar o debate através da publicação de livros...
Interessante sem dúvida, o contrastar teses, assegurar discensos e fazer catarse dos discursos,para além de erigir história.
Isabel Seixas
E, contudo, o centrismo tem não só grande tradição em França como chegou a ser quase imprescindívelpara qualquer solução governqativa na IV República.
Os centristas, nessa época reunidos sob a designação de "Radicais" (em que aliás Poher se incluia)tinham uma ala "esquerda" e que era tão centrista como o resto.
J.J. Servan-Schreiber tentou ainda ressuscitar um Partido Radical (e tentou a Presidência com esse "rótulo") mas o tempo já tinha passado.
Bayrou é um personagem interessante.tenta retomar esse papel de "equilibrista" que os radicais clássicos representavam.
Tão curiosos (e talvez melhores...) do que os seus escritos políticos são algumas incursões pela história como "Henry IV, le Roi Libre" ou "Ils portaient l'écchape blanche" sobre as guerras de religião.
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