quinta-feira, maio 21, 2009

Alexandria

Há dias, num jantar em Paris, fiquei ao lado de um cavalheiro, que se apresentou, mas cujo nome e ocupação, no momento, acabei por não fixar. Na conversa que se seguiu, verifiquei que era um homem muito culto e interessante, com uma visão alargada da vida e das coisas, que conhecia bem a literatura portuguesa, tendo-me também falado com entusiamo de Jorge Sampaio e da sua Aliança de Civilizações, à qual estava também ligado. A certa altura, dei-me conta de uma coisa incómoda: tinha-se já passado uma boa meia hora de charla, ele sabia quem eu era mas, a mim, continuava a escapar-me quem ele era e o que, no essencial, fazia na vida. A conversa divagava por temas diversos e, de certo modo, já começava a ser delicado eu inquirir essa coisa tão básica, a que eu deveria ter tomado atenção, desde o início. Com alguma técnica que a profissão ensina, acabei por chegar lá, sem perguntar directamente: era o director da nova biblioteca de Alexandria, no Egipto. Chama-se Ismail Serageldin e foi vice-presidente do Banco Mundial.

A bibliteca de Alexandria é uma daquelas referências quase mitológicas na História do mundo e, por isso, quis saber como ele sentia o peso dessa responsabilidade. Pareceu-me muito calmo ao abordar, com realismo, a dimensão da magnífica tarefa que lhe compete, para estar à altura da ideia que a sua biblioteca tem no imaginário mundial. E acrescentou: "Confesso que tenho um problema: não me posso queixar do meu antecessor. Deixou o cargo há quase dois mil anos..."

2 comentários:

Anónimo disse...

Uma tal bibloteca atravessar milénios sem Director merece bem referência!
José Barros

Anónimo disse...

A Biblioteca de Alexandria tinha sido destruída num fogo, durante um confronto entre as forças de Júlio César e as do jovem Prolomeu, irmão de Cleópatra. Ao mandar incendiar, por questões de logística militar, uma boa parte dos seus barcos, César acabou por provocar um incêndio que alastrou à Biblioteca e a destruiu parcialmente, assim como os livros e bibliografia diversa. Recuperou depois e continuou a distinguir-se na Antiguidade. Mas, algumas das suas obras ali recolhidas viriam a ser alvo da fúria fanática de alguns monges religiosos em AD IV e V, na Roma já “cristã” e algumas das obras ali guardadas foram destruídas, queimadas. Seguiu-se o período muçulmano, mas nunca mais aquela Biblioteca voltou a ser o que era, digamos até Diocleciano e primórdios de Constantino. Nem mesmo Alexandria é o que é. Sem desvirtuar, simplesmente, são outros tempos, hoje é uma Metrópole diferente e a sua Biblioteca sofreu alterações profundas com o andar dos séculos.
P.Rufino

A Europa de que eles gostam

Ora aqui está um conselho do patusco do Musk que, se bem os conheço, vai encontrar apoio nuns maluquinhos raivosos que também temos por cá. ...