domingo, outubro 23, 2016

Em Lisboa, vá pela sombra


Se acaso pretendesse reduzir a famigerada (gerada pela fama) luz de Lisboa a uma única fotografia, não hesitaria um segundo. A cidade está toda na imagem que Gérard Castello-Lopes nos deixou, do alto, voltado para a rua do Arco do Carvalhão, um local a que os antigos chamavam os Terramotos. Nessa fotografia, um monumento de arte, a luz segue pela rua adiante, lado-a-lado de uma estranha fila de gente, numa adivinhada monotonia, que é bem o retrato de um Portugal onde, como dizia o ditador, as pessoas "viviam habitualmente".

Mas se se olhar um pouco para além dessa luz quase obscena que parece dominar o cenário, invasora, nada pudica, há na pintura a preto e branco da máquina de Castello-Lopes um recorte bem mais variado, sofisticado, seja no elegante pormenor geométrico que rebate, como num desenho, as casas - e que, diacronicamente, imaginamos evolutivo, como num filme -, seja nas caricaturas individuais das figuras em presumível movimento, que se projetam contra a grade bordejante. A luz está lá, sempre igual, por toda a parte, quase banal. É, porém, nas sombras que a criatividade se forja.

Lisboa é uma cidade de sombras - e essa não é uma expressão de retórica passadista, sentimental ou misteriosa, embora pudesse ser também isso tudo, até com fado à mistura. É uma realidade insofismável, que só não tem emergido porque, é preciso dizê-lo, há uma óbvia conspiração a favor da luz, para a qual o exército das sombras não encontrou até hoje o adequado antídoto.

Querem exemplos, omnipresentes na cidade ? É a sombra que o Aqueduto das Águas Livres atira contra o solo que lhe confere uma grandeza humanizada. Sem a sombra, aquela obra de arte seria apenas uma maqueta, em ponto grande. Passeie-se sob as arcadas do Terreiro do Paço, num dia inundado de sol, e olhe-se a riqueza dos desenhos que as sombras produzem nas paredes pombalinas. É a sombra que acomoda o viajante que por ali anda e que, por alguma razão, a procura, fugindo da luz, da torreira. A sombra protege, a luz abafa. A sombra, no fundo, é o lado bom da luz.

Um dia, dedique o leitor uma boa hora a percorrer os caminhos do lisboeta cemitério dos Prazeres. Escolha um dia de sol (Lisboa tem uma obsessão tal com o sol que até deu a uma sua rua o nome de "rua do Sol ao Rato") e perceberá melhor o que lhe quero dizer. Para além das árvores que lhe filtram a incómoda luz, um dos mais óbvios "prazeres" do cemitério é, para os vivos, claro, poder apreciar a infinda variedade das projeções das sombras dos jazigos, um rendilhado criativo que confere a algumas daquelas fúnebres moradias uma dignidade de bairro, onde nem sequer faltam os gatos, que o silêncio reinante permite melhor apreciar. Sente-se num dos bancos que por ali há, à sombra, à conversa, gastando o tempo, que é, além da esplêndida penumbra da contraluz, a mercadoria mais abundante no local, e logo perceberá melhor o que lhe quero dizer

Nem lhes conto o quanto me perturba ver alguns fabianos, « cara al sol », como se entoava no tempo infame, loiros de escaldão, a calcorrearem a ala central do Parque Eduardo VII, já de si escavado como uma vala para adoradores do dito, como se acaso estivéssemos por aqui à borda de um fiorde, num país em que o verão se esgotasse num fim de semana. Convide-se essa gente ao gosto da fuga, por um momento, para a adjacente Estufa Fria e, estou seguro que eles logo perceberão o "calor" ímpar da sombra, das árvores, da delicadeza da luz filtrada. Eles verão que é a noite e o dia, ou melhor, um quase vice-versa.

Lembram-se das imagens brancas, desertas ou quase, muito ensoleiradas (em especial aos domingos, em que a brutalidade da luz parece apostada em rimar com a santidade do dia), dos filmes do neo-realismo italiano? Pois bem, o velho "novo cinema português" tentou reeeditar esse registo, jogando com a alvura das avenidas a que nos habituámos a chamar "novas", usando e abusando de uma luz sem vergonha. E se revisitarmos essas películas, com alguma sofisticação no nosso olhar, é hoje um regalo ver as imagens, inundadas de branco, ganharem de imediato « cor », logo que a câmara se descai, com bom gosto, para a intrusão das sombras, que conferem à naïveté das histórias um sentido digno de recato, de discrição, um toque de intimismo, que a luz não permite e até antagoniza. Não será por acaso que, na expressão «  a-preto-e-branco » o preto surge primeiro...

Como o leitor já presumiu, cansa-me muito escutar o rame-rame do discurso obsessivo, turístico-folclórico, sobre a luz de Lisboa. Tanner - um cineasta suíço que, talvez por isso, não percebe muito de cores da vida do Sul - chamou a Lisboa "A cidade branca". Nunca percebi onde é que ele foi descobrir a "kasbah" que o fez encontrar Argel por aqui. Lisboa não é uma "cidade branca", é uma terra de cores vivas, a que as sombras fazem ganhar novos cambiantes. Por isso também é falso o que cantou Sérgio Godinho, no "Lisboa que amanhece", ao dizer que "as sombras de Lisboa são da cidade branca a escura face". Uma ova !

As sombras são a face mais "luminosa" da cidade e, claro, ganham outra expressão na noite quando, finalmente, a cidade se liberta do sol. É então que a saudável e pecaminosa - no bom sentido, que é o do bom pecado - face de Lisboa se revela. 

Olhem-se com atenção as sombras incomparáveis da ruas que atravessam a Bica em noites de copos e música, procure-se uma ruela esconsa no Cais do Sodré onde se imagina o « deal » final entre a meretriz e o marinheiro da esquadra da NATO, visite-se a tristeza quase suburbana da entrada de uma pensão "com águas correntes" na Almirante Reis, atravesse-se a Praça das Flores na penumbra de um fim de tarde da Lisboa « colorida » pela diversidade sexual, faça-se uma romagem romântica à sombria estátua de Sousa Martins, no Torel, numa noite de luar, ou à ímpar marca de solidão da Triste-Feia, a mais misteriosa rua da Alcântara que foi operária. Ou olhe-se a sombra do Tejo nas Docas, as esquinas onde os adolescentes trocam « shots », com o iPhone na outra mão, nas madrugadas divertidas de Santos ou (ainda) do Bairro Alto. As sombras de Lisboa não têm fim, morrendo no cansaço do alvor do novo dia, feito de olheiras e, claro, de sol.

É essa a minha Lisboa, feita de mil sombras, de mil e uma noites, de uma resistência denodada à ditadura da luz, cuja única verdadeira virtualidade é ter o mérito de ser geradora dessa glória eterna da imagem que é a sombra. 

Que este texto possa ter ajudado os visitantes de Lisboa a melhor entenderem que, aqui chegados, têm uma magnífica Lisboa de sombras pronta para ser consumida. Tenho fundada esperança que o que aqui deixei, este guia irónico em forma de elegia da cidade escurecida, tenha contribuído para que, sobre este tema, haja sido feita, finalmente, alguma luz.

(Artigo publicado no nº 1 da revista "Bica")

sábado, outubro 22, 2016

Michel Barnier e as línguas


A figura que a União Europeia indicou para negociar, em seu nome, com o governo britânico, a saída do Reino Unido da União Europeia é o antigo comissário europeu (e também, embora breve, MNE francês) Michel Barnier. Conheço Barnier desde 1996, quando ambos representámos os nossos respetivos países na negociação do Tratado de Amesterdão. Não deixa de ter graça que o ministro britânico que está encarregado de negociar o Brexit, David Davis, tenha sido também, à época e por algum tempo, o negociador britânico desse tratado.

Porém, a razão porque hoje trago aqui o nome de Barnier é outra: acabo de ler no "Independent" que ele propôs que as negociações com Londres venham a decorrer em francês. Imagino o "agrado" com que a notícia deve ter sido recebida no governo de sua Majestade... E é preciso não conhecer o "estado da arte" em Bruxelas, em matéria do uso de línguas, para pensar que esta ideia tem pernas para andar. É, claramente, uma afirmação de natureza política, numa "guerra" que a França já perdeu, a meu ver, infelizmente.

(Há dois dias, na reunião da OSCE em Viena em que participei, fiz a minha primeira intervenção em inglês. Convidado no final da sessão a intervir de novo, falei em francês. A embaixadora da França junto da OSCE saudou de imediato no Twitter o facto de eu ter falado na sua língua, repetindo-mo pessoalmente durante o almoço. De facto, fui o único a fazê-lo e a outra língua que ouvi falada na reunião foi... o russo!)

Quando me iniciei nas lides europeias, há 30 anos, o francês competia perfeitamente com o inglês nos trabalhos comunitários. 15 anos depois, quando saí dessa área diplomática, o francês estava já em acelerada perda de força. Dizem-me que hoje, em especial por efeito do alargamento, que trouxe para Bruxelas culturas onde a língua francesa tem já muito escasso acolhimento, a situação é bastante pior. Os ingleses podem sair da União Europeia, mas o inglês tem hoje um lugar eterno garantido como "língua franca" no seio da UE.

Deixo ainda uma historieta, a propósito de Michel Barnier e das línguas. 

Um dia de 1996, convidei-o a vir a Lisboa e ofereci-lhe um jantar nas Necessidades. Estendi esse convite a alguns membros do governo português a quem, em razão dos dossiês que titulavam, poderia interessar conhecer o ministro francês. À entrada, um jovem (e brilhante) secretário de Estado português inquiriu: "O Barnier fala inglês?". Achei que fazia a pergunta por curiosidade, atenta a escassa apetência dos políticos franceses (e ingleses e americanos e espanhóis e alemães, etc) para línguas estrangeiras. Expliquei-lhe que o inglês de Michel Barnier, não sendo (à época) excecional era, contudo, aceitável, inquirindo da razão da sua pergunta. A resposta deixou-me siderado: "É que eu não falo uma palavra de francês!". 

Foi nesse instante que me dei verdadeiramente conta de que uma nova geração portuguesa (e europeia), com uma idade bem inferior à minha, já não tinha o francês como essencial e, pura e simplesmente, não falava, e muitas vezes não compreendia sequer, aquela bela língua. Se assim era há duas décadas, bem pior será hoje. Se Barnier quiser conduzir as negociações com os britânicos em francês, vai ter de arranjar um intérprete... 

sexta-feira, outubro 21, 2016

Florestas e inquietação cívica


Hoje à tarde, pelas 18 h, no Centro Cultural Regional de Vila Real, no largo de S. Pedro, intervirei na apresentação do livro "A Floresta Portuguesa - um apelo à inquietação cívica", da autoria do meu amigo e camarada de armas no 25 de abril, Victor Louro.

Numa perspetiva diferente do habitual, este livro, de grande oportunidade, lança um alerta que é muito importante escutar.

Vêm aí os russos?


Alguma imprensa internacional vem a alertar para a escalada de tensão Leste-Oeste, potenciada pelos conflitos na Ucrânia e na Síria. Alguns falam mesmo da possibilidade de estarmos nas vésperas de um novo confronto de dimensão global. Terá isto algum sentido?

Com o fim e a implosão da União Soviética, países que viviam sob a tutela de Moscovo e algumas Repúblicas da antiga URSS procuraram estruturar sociedades políticas de matriz similar à dos países democráticos da Europa “de cá”. Diga-se que isso correspondeu a um evidente desejo das respetivas populações, ciosas de uma soberania que lhes fora “raptada” desde o fim da Segunda Guerra mundial. A posterior entrada de muitos desses Estados para a UE e a sua inclusão na NATO, em ambos os casos aproveitando a “janela de oportunidade” dada pela debilidade conjuntural de Moscovo, levou ambas as organizações até junto da fronteira russa. 

Atravessada por fragilidades de vária natureza – económicas, tecnológicas, militares, demográficas, etc – que afetavam o estatuto a que se achava com direito, a Rússia viu-se mergulhada num cenário de impotência, que se somava ao sentimento de humilhação histórica pela derrota na Guerra Fria. Neste contexto, a tentativa de alguns de modificar a posição da Ucrânia, vista pela Rússia como o último bastião da «buffer zone» que a separava do ocidente, seria sempre inaceitável. O sonho russo era conservar em Kiev um poder «amigo» que, em especial, não colocasse minimamente em causa o seu livre acesso naval ao mar Negro e ao Mediterrâneo. A mudança «de lado» da Ucrânia não podia assim ser aceite pela Rússia, que deu força militar às populações russófilas no leste do país e aproveitou para tomar a Crimeia, área chave para o poder naval meridional russo. O poder em Kiev pode ser pró-ocidental, mas a Rússia provou conseguir instabilizar o país.

O mal-estar russo criou o caldo de cultura política interna para a emergência de um «cesarismo» na figura de Vladimir Poutin, num registo nacionalista autoritário, tendo como objetivo a restauração de algum poder global de Moscovo. Como resposta aos avanços europeus da NATO, que não esteve em condições de travar, a Rússia colocou em questão os equilíbrios em matéria de forças convencionais acordados no fim da Guerra Fria e assume agora iniciativas destinadas a forçar um novo equilíbrio de poder, de que a postura na Síria é uma componente essencial. Moscovo parece aguardar pelo novo poder americano para dialogar olhos nos olhos com a única potência de que se considera (de novo) rival. Até lá, mexe algumas peças do xadrez militar, para aumentar as suas possibilidades no tabuleiro estratégico.

Vêm ai os russos? Não me parece, mas a solidão decisória de Putin não garante a prevalência da racionalidade sobre algum possível aventureirismo.

quinta-feira, outubro 20, 2016

Verbos Irregulares


Foi numa daquelas estantes que, há muitos anos, encontrei o "Portuguese Irregular Verbs". É mesmo vício de livros ou vontade de gastar dinheiro, deve estar a pensar o leitor! Para quem é português, o que é que pode interessar um livro em inglês sobre um assunto gramatical tão especioso?

Também tive dúvidas, confesso, embora o surgimento do (pouco volumoso) volume naquela zona da Shakespeare & Cia, a mais interessante livraria inglesa de Viena, me tivesse despertado a curiosidade. Quem se dedicaria àquilo e porquê? Como na "Balada da Neve", fui ver... Afinal, a explicação era simples. Tratava-se de uma obra de ficção.

O livro, de Alexander McCall Smith, relata a divertida história (conto de memória) de um filólogo alemão que, com um zelo notável, terá empreendido um estudo aprofundado sobre tão escaldante temática. Segundo a novela, a edição do livro, em que espelhava toda a sua sabedoria sobre o assunto, não se terá consagrado num êxito estrondoso, se nisso descontarmos a satisfação proporcionada ao seu próprio ego.

O estimado professor lusófilo, de que o volume acolhe pormenores deliciosos de um seminário passado na Índia, e cujo grande objetivo de vida era ser agraciado com uma condecoração portuguesa (estou a pensar levar o assunto ao Conselho das Ordens) tinha como hábito procurar saber do destino das escassas centenas de exemplares da edição da sua obra-prima. E, por essa razão, sempre que se deslocava a casa de um amigo, procurava perceber o destaque dado nas respetivas estantes ao seu monumental e volumoso estudo, incontroverso referencial sobre a matéria no mundo gramatical da lusofonia. E algumas desilusões teve. Complexa foi, porém, a sua relação com uma namorada, dentista de profissão, a quem, como era natural, oferecera um exemplar dedicado da sua tão estimada obra. O único imponderável foi, contudo, o facto desse laço afetivo se ter entretanto desfeito, com a antiga afeição, por vingança, a decidir destinar a utilização do volume como apoio para o seu pé, no arranque de dentes aos clientes...

Há horas, dei uma saltada à Shakespeare & Cia, numa rua esconsa não muito longe da catedral, como sempre faço quando calha vir a Viena. Desta vez, comprei à Shelia um estudo sobre a atual política russa. À saída, recomendou-me: "não deixe que o saco de papel apanhe chuva. A impressão do nosso logo é feita à mão e fica logo tudo sujo". Já há pouco disto...

O que mudou?


Gosto dos regressos pontuais aos locais que vivi noutras "encarnações". Ontem, sentei-me no mesmo lugar em que, há mais de 14 anos, dirigi a minha primeira reunião como presidente do Conselho Permanente da OSCE, em Viena. 

Voltar ali, agora na qualidade de orador convidado, para falar sobre questões de segurança e controlo de armamentos na Europa, foi uma experiência muito curiosa e interessante. A minha linguagem foi deliberadamente bem mais "solta" do que a que usava quando tinha responsabilidades oficiais. Não ter os constrangimentos de estar a falar em nome do país dá-nos uma cómoda liberdade, a qual, contudo, nos não isenta de, ao ouvirem-nos, saberem bem de onde vimos. E, por isso, não ser indiferente o que dizemos.

Os diplomatas mudam muito, pelo que, à volta da mesas, só encontrei meia dúzia de caras conhecidas, na maioria cruzadas noutros postos. O secretariado da organização, contudo, tem mais estabilidade, pelo que alguns contínuos, técnicos e funcionárias dos serviços de apoio me fizeram "uma festa". Estamos todos mais velhos, mas a simpatia desses velhos tempos renasceu hoje, nessas escassas horas no palácio Hofburg.

Mudou alguma coisa desde esses tempos? No essencial, não. As tensões no seio da OSCE persistem e a situação ucraniana é hoje uma pesada núvem acrescida sobre o quotidiano da organização. A minha intervenção, bem como o debate que se seguiu, versou precisamente sobre o "estado da arte" da instituição, criada para "pilotar" o fim da Guerra Fria e que agora vive atravessada por uma tensão de novo tipo. Fui "provocatório" qb, o que, creio, terá ajudado a estimular o debate. No final, o secretário-geral da OSCE, que conheço dos tempos passados notou, com agrado, que eu tinha falado, a certo ponto, da "nossa organização". "You are still one of us", gostei de o ouvir dizer.

Mas, ao olhar agora para a mesa, dei-me conta de uma diferença: passei de "chairman" que então era para "chairperson", para atender às preocupações de igualdade de género. Isto é importante? Há quem pense que sim. E a primeira pessoa a pensar assim (estou certo, mas não lhe perguntei) é a embaixadora portuguesa junto da OSCE, Graça Mira Gomes.

quarta-feira, outubro 19, 2016

Os princípios do Peter


Peter é um cozinheiro austríaco. "Herdei-o" do meu antecessor, João Lima Pimentel, quando vim para Viena, em 2002.

Era uma figura curiosa, avantajada, com forte bigodaça, fumador compulsivo, homem bastante nervoso e agitado. Mas uma jóia de pessoa. Falava uma mescla de inglês macarrónico misturado com espanhol, aprendido com as duas peruanas que a embaixada tinha ao seu serviço.

Tinha tido um restaurante, mas a sua vida dera algumas voltas inesperadas e menos felizes. Um dia, num jornal, através de um anúncio, veio parar à residência portuguesa, recrutado pelo meu predecessor. Ficou por lá 15 anos, até se aposentar.

Era um profissional de primeira água. Tinha mais de um milhar de menus diferentes e era preciso pedir-lhe a repetição de um prato, caso contrário inventava sempre algo de novo. Uma sua especialidade eram os doces, para mal eterno da minha glicose.

No meu último dia de serviço em Viena, há quase 12 anos, eu havia dito à minha mulher que gostava de ir jantar fora. Estava cansado da trabalheira que sempre é "fechar" um posto e queria espairecer um pouco. O Peter moveu montanhas para me dissuadir. Disse que tinha preparado algo especial para a nossa derradeira refeição. Pronto, lá teria que ser!

À hora de jantar, notámos que a mesa parecia posta para um banquete. Isso contrastava um tanto comigo, à vontade e de jeans, bem como com o ambiente do resto da casa, toda num reboliço de malas e empacotamento.

Começávamos a refeição quando ouvimos uns ruídos na zona da entrada. Foi-nos dada uma explicação qualquer e o jantar prosseguiu com normalidade. Até ao momento em que, da sala ao lado, saiu um som musical. De violino. E não era um, eram cinco violinos, um grupo que o Peter tinha recrutado numa escola de música, uma oferta sua para acompanhar o último jantar que nos preparava.

E foi então que ele próprio entrou na sala, fardado a rigor, com os olhos cheios de lágrimas, naquela língua de Babel, explicando, num discurso embargado, que tinha sido seu desejo despedir-se de nós com aquilo que a cultura do seu país tinha de melhor: a música. Todos nos comovemos.

Eram esses os princípios do Peter, um amigo austríaco que ganhámos.

Saudades do Esperanto

Tinham-me avisado: o condutor é sérvio, fala muito pouco alemão (eu não falo nada) e não entende uma palavra de inglês. No aeroporto, tinha um letreiro com o meu nome e percebi que sabia o endereço onde me devia conduzir. Eu até sou um conduzido geralmente prolixo mas, desta vez, fui num silêncio sepulcral (dado o meu cansaço, não me desagradou, confesso) toda a viagem. Ao chegar ao destino, vi-o passar olimpicamente em frente à porta onde eu devia ser depositado e começar a meter-se por ruas cada vez mais distantes. Tentei explicar-lhe o erro, ele respondia numa língua mistura da de Milosevic com a de Merkel, mas era difícil conseguir passar a mensagem. Entre uns "go back!", "right", "left", cheios de gestos imperativos, lá consegui levar o homem ao porto pretendido, ao fim de alguns minutos. Valeu-me conhecer bem esta cidade. Sorrimos no final da confusão.

É nestes dias que tenho pena que o esperanto, essa língua universal que anularia todas as fronteiras culturais, não tivesse afinal vingado. 

terça-feira, outubro 18, 2016

A Rússia, a Geringonça e algo mais

Tive na passada semana uma conversa com Sebastião Bugalho, jornalista de "O Sol", que deu origem a um artigo que pode ser consultado aqui.

OSCE


É com imenso prazer que regressarei amanhã, por umas horas, à Organização de Segurança e Cooperação (OSCE), em Viena, onde fui convidado a fazer uma intervenção, a título pessoal, numa reunião conjunta do Fórum para a Segurança e Cooperação e do Conselho Permanente da organização, envolvendo os representantes dos 57 países membros naqueles dois órgãos. O tema do controlo de armamentos e a necessidade de reencetar um diálogo em torno do quadro normativo das CSBM's (medidas geradoras de segurança e confiança) será a base da minha intervenção.

Não deixarei de lembrar que um importante marco na vida da OSCE foi a Cimeira de Lisboa de 1996, de onde derivou uma Declaração que se mantém como um eixo fundamental da organização e também que foi durante a Presidência portuguesa da OSCE, em 2002, que, pela última vez, foi possível ter todos os Estados a subscreverem as conclusões. A Declaração do Porto, de 2002, é o último elo de ligação entre os mundos "a Oeste" e "a Leste de Viena".

Vai ter graça regressar àqueles corredores do Palácio de Hofburg.

segunda-feira, outubro 17, 2016

Caixadóculos


Ontem, escrevi por aqui um post sarcástico em que falava de uma "caixadóculos", uma expressão que, recordo, Alexandre O'Neill consagrou na sua poesia. Logo caiu o Carmo e alguma Trindade, choveram insultos, em blogues e páginas alheias, não obstante eu nem sequer ter referido o nome da possível senhora. Ofensa, o "caixadóculos"? Eu próprio uso óculos. Está visto que a capacidade de aceitar o humor já teve melhores dias.

O orçamento

É muito curioso observar certos comentários sobre o Orçamento. Uma das conclusões mais comuns é que o PCP e o Bloco decidiram subordinar-se aos ditames de Bruxelas, a troco da anuência do PS à sua agenda reivindicativa em matéria de pensões, bandeira com que se contentarão. E, "preocupados", esses comentadores interrogam-se sobre como irão essas duas formações explicar essa "cedência" ao seu eleitorado. Preso por ter cão...

domingo, outubro 16, 2016

Aí, Valente!

                      
Algum país ansiava pelo regresso de Vasco Pulido Valente. A sua pausa na escrita jornalística, por alguns meses, aparentemente para concluir um livro, criou uma expetativa de que a retoma da sua coluna no "Público", bem como a anunciada nova colaboração semanal no "Observador", viessem a revelar a falta que, lá no fundo, ele fazia à pátria. Ainda não dei conta da primeira mas já li a segunda e, tenho que confessar, foi aquilo que se pode qualificar como um regresso pífio. Um texto sem inspiração, previsível, destituído de garra, com banalidades a propósito do quotidiano e clichés sobre os seus habituais inimigos de estimação.

Sigo Vasco Pulido Valente com alguma atenção, e muitas vezes com interesse, desde há muitos anos. Desde "O Tempo e o Modo", passando pelos seus livros (creio ter lido todos) e alguns dos seus surgimentos mediáticos, para além da fugaz e muito pouco notável fase política. Nos últimos anos, a inegável qualidade do seu português e algumas "trouvailles" bem esgalhadas trouxeram popularidade à coluna que tinha no "Público", embora uma experiência televisiva tivesse revelado as limitações expressivas da figura, pouco ajudada por uma voz desagradável, um tom arrogante e um discurso tartamudeante.

O modelo de crónica que Valente utiliza é vetusto, vem direto do nosso século XIX, em que o historiador se especializou. Baseia-se numa denúncia cáustica, com esforçada graça, das figuras da moda, política ou mediática, quase sempre numa caricatura do género "o rei vai nu", muito em sintonia com o prazer da má-língua que o português adora.A fórmula: tudo o que luz por cá é medíocre, banal, pretensioso e, quando tem alguma graça, é porque mais não é senão uma cópia deslavada de algo que o "déjà vu" de Pulido Valente (que tudo leu e tudo sabe) nos mostra que, afinal, era já conhecido por quem conhece as coisas. No fundo, Portugal é a "choldra", é a "piolheira", como dom Carlos chamava ao país em que reinou até à esquina do Arsenal.

Como é sabido, este tipo de crónicas de escárnio e mal-dizer é, entre nós, uma receita com sucesso quase sempre garantido. Há um visível concorrente de Valente no "Diário de Notícias" e na "Sábado", embora com uma azia vesicular que já começa a cansar. E há outros cultores do modelo, desde uma caixadóculos direitolas de taxa arreganhada, que se desunha para ter uma graça que nunca consegue ter, até outros que ousam, de quando em vez, dizer bem de alguma coisa, o que logo lhes fragiliza o estatuto de profissionais do arraso.

Pulido Valente não escapou - ganhei uma aposta com isso - ao óbvio da moda: dizer mal de Guterres. O gosto do português de tentar liquidar quem, de entre nós, atinge alguma notoriedade é um vício nacional de regra. Se o mundo escolheu o antigo primeiro-ministro para a ONU, só havia dois caminhos: falar da "irrelevância" da ONU (para desqualificar o feito) e elencar os "defeitos" da personagem. Foi o que Valente fez, sem chiste e sem chama.

Um amigo meu teimava em que Pulido Valente não ia cair nessa esparrela: "ele vai ter a superioridade de ignorar Guterres, vais ver!". Não teve essa "superioridade", pelo que teve, como eu previa, o seu contrário, isto é, essa inferioridade. Ganhei assim a aposta de uma refeição no Gambrinus onde, na mesa do canto, escondido atrás de uma multidão de brasileiros, lá iremos encontrar Vasco Pulido Valente, o "Carlinhos" dos Bilhetes de Colares de A.B. Kotter, como José Cutileiro o crismou e lhe retratou os consumos.

sábado, outubro 15, 2016

À conversa

Ontem na Antena 2, tive uma excelente hora de conversa, moderada por Luis Caetano, no programa "Um certo olhar", com Gabriela Canavilhas e Luisa Schmidt, duas mulheres muito inteligentes (e muito bonitas). Falámos (claro!) da eleição de Guterres e do que ele pode vir a fazer, mas também de Trump e das declarações a seu respeito do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, bem como do Nobel atribuído a Bob Dylan e de bibliotecas e livros. (Quem estiver interessado no programa, pode ouvi-lo aqui.)

(Para ilustrar, envergonhadamente, o caos da minha arrumação de livros, contei uma história, incrível mas verdadeira: há dias, precisei de um texto que escrevi há anos num livro da minha autoria; corri várias estantes... e não consegui encontrar um único exemplar desse livro!)

Na conversa, falei dos livros "a mais" que tenho, em estantes e em caixotes, da falta de tempo para os ler e, mesmo assim, da pulsão incontrolável para comprar, a cada dia, ainda mais livros, na velha lógica de que melhor do que ler um livro só é comprá-lo! Mal eu sabia que, ao final da tarde de hoje, regressaria a casa com mais 9 livros! Alguns policiais, talvez para comemorar o novo imposto sobre munições...

José Lello


Conheci pessoalmente José Lello num encontro que Jaime Gama organizou no seu gabinete da Assembleia da República, juntamente com José Lamego, ainda antes da nossa tomada de posse no primeiro governo de António Guterres, em finais de outubro de 1995. Já nos havíamos cruzado algumas vezes, curiosamente sempre no estrangeiro, mas apenas em ocasiões sociais e circunstanciais. 

Talvez porque algumas memórias comuns do Porto tivessem sido evocadas, entre o Zé e eu perpassou de imediato uma corrente de simpatia, que o tempo veio a converter em sólida amizade. Uma amizade de duas décadas, que nunca teve uma sombra, uma reticência, sempre sublinhada com um imenso e caloroso abraço, como aquele que, há meses, demos na Versailles, aqui em Lisboa, da última vez que nos vimos.

Correndo o assumido risco de entrar no terreno da polémica, mas julgando ter alguma autoridade profissional no terreno para afirmar o que penso, não tenho dúvidas em qualificar José Lello, a par de Manuela Aguiar, dos melhores secretários de Estado das Comunidades Portuguesas que a governação democrática produziu. Durante mais de cinco anos, tive o ensejo de acompanhar de perto o trabalho de Lello e pude testemunhar o entusiasmo com que se dedicou à tarefa e os excelentes resultados que na sua execução obteve. 

José Lello era um personalidade frontal e com imensa coragem. Tinha alguns ódios de estimação e estes retribuiam-lhe no registo público com que ele os enfrentava e, não raramente, os afrontava. Tinha a palavra fácil, o coração ao pé da boca, mas uma grande lealdade aos amigos, típica da gente do norte. O sorriso, a alegria e a simpatia eram a sua imagem de marca. Caloroso, agradável e belo contador de histórias, ficou célebre a sua definição do "núcleo duro" do chamado "gamismo", isto é, dos apoiantes de Jaime Gama nos anos 80 e 90: "No gamismo, éramos quatro: o Jaime Gama, o Miranda Calha, o Eduardo Pereira e eu. Agora só somos três: o Gama saiu..."

José Lello morreu ontem. Deixo aqui um abraço sentido à sua família.

sexta-feira, outubro 14, 2016

Imposições


"Leiam os meus lábios: não vai haver novos impostos". E houve. A frase de 1988 do presidente americano Bush (pai) ficou célebre pelo seu tom enfático e foi erigida como mais uma das mentiras históricas que vão ajudando à erosão da credibilidade dos políticos, perante os eleitores com alguma memória.

Dizer uma coisa e fazer outra em matéria de impostos passou mesmo a ser uma banalidade na atitude dos Estados, que hoje já só surpreende os mais ingénuos.

Entre nós, o debate público sobre a fiscalidade tem vindo a aumentar de tom. Fala-se hoje muito mais de impostos do que era habitual no passado, talvez pelo facto dos cidadãos, face aos escândalos bancários e às notícias sobre corrupção envolvendo bens do erário público, se terem tornado mais atentos e informados. Daí que a preocupação com o uso que se faz daquilo que o Estado lhes tira dos bolsos tenha crescido. E ainda bem, porque isso obriga os agentes políticos a serem mais transparentes. Infelizmente, isso não os inibe de manterem taxas de fiscalidade verdadeiramente escandalosas.

Mas porque é que isso acontece? Porque a máquina do Estado tem a dimensão e o peso financeiro que tem - e que nem sequer é muito exagerada, em termos comparativos europeus, por muito que se diga o contrário. Parte substancial da despesa pública corrente tem uma grande rigidez, dado que dela dependem áreas vitais do Estado, como ficou patente no fracasso de muitas das medidas para atacar as supostas e míticas "gorduras" estatais, que nem mesmo a troika foi capaz de eliminar. Acresce que o serviço da dívida é um encargo incontornável e o ataque às pensões de reforma tem limites que só a indecência política do anterior Governo austeritário teve o desplante de considerar como legítimo ultrapassar.

A verdade é que, no quadro europeu atual, a certos Estados restam muito poucos meios para conseguirem fazer a "quadratura do círculo". A pressão externa, feita por essa "ASAE do euro" que dá pelo nome de Comissão Europeia, obriga a constrangimentos quantitativos em matéria de redução de défice e percurso de redução da dívida, num modelo "one fits all", que praticamente trata da mesma forma economias desafogadas e com excedentes e países com défices endémicos de competitividade e situações conjunturais graves.

Enquanto as coisas se processarem desta forma, enquanto o peso das dívidas públicas não for revisto, enquanto cada economia não puder ter objetivos de convergência, quantitativos e temporais, realistas e adaptados à sua real capacidade, os governos nacionais só têm um instrumento para poderem mostrar-se "cumpridores" no retrato anual apresentado a Bruxelas: jogar com os impostos nacionais, por muito que isso retraia o consumo (e o crescimento) e abafe a atividade dos agentes económicos.

quinta-feira, outubro 13, 2016

Dylan


Com a idade, fico mais inseguro. Estava hoje numa reunião, a tratar da construção de estradas e de pontes noutras partes do mundo, quando alguém me sussurrou: "o prémio Nobel da Literatura é para Bob Dylan". Fiquei com aquele ar que o general Pedro Cardoso, nos meus tempos das "secretas" militares, me aconselhou a ter sempre perante novidades: impávido e não surpreendido. 

É que eu não tive a imediata certeza de que estivéssemos a falar "do" Bob Dylan mais óbvio, do cantautor que eu ouvira em Oslo, em Londres e em Viena - em três espetáculos que (aqui entre nós) não me entusiasmaram por aí além. De quem tenho um monte de CDs.

Sou um assumido ignorante (relativo, claro) em matéria de literatura. Nunca li algumas obras tidas por "incontornáveis", não sigo as novidades que se publicam e, mais importante do que tudo, tenho ano após ano sido confrontado com vencedores do Nobel da literatura de quem nunca tinha ouvido falar. E já perdi a vergonha de o confessar.

Por isso, quem me podia assegurar que esse tal de Bob Dylan não era um poeta qualquer do Burkina Faso ou um romancista do Sudão do Sul?  Desde que por essa África antes chamada de "negra" (com o politicamente correto atual já não sei como dizer) surgiram líderes políticos com nomes de estrelas de rock, como John Garang ou Jerry Rawlings, tudo é possível! 

Mas não! Era mesmo o Bob Dylan. Agora, vai ser por aí uma polémica desatada. Eu acho que se devia começar por entrevistar o Godinho, o Palma e o Fausto - afinal, pares lusos da mesma bela literatura em que Dylan se distinguiu.

quarta-feira, outubro 12, 2016

Não vale tudo!


Zeid Ha'ad Al Hussein, Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos do Homem*, é um diplomata (e príncipe) que foi representante permanente da Jordânia junto das Nações Unidas durante vários anos. 

O seu escritório era por cima do nosso e, também por essa razão, foi o primeiro colega que visitei quando, em 2001, cheguei a Nova Iorque, como embaixador junto da ONU. Mas não só por essa razão: foi também porque me foi dito que era um grande amigo de Portugal. E era. Pouco tempo depois ajudou-me imenso a promover a candidatura de Paula Escarameia na eleição para a Comissão  de Direito Internacional - a primeira mulher que viria a integrar esse órgão, infelizmente já desaparecida.

Hoje, vi que Zeid, nas suas novas funções, fez o que não podia fazer: avisou, em conferência de imprensa, que uma eventual eleição de Donald Trump nos EUA configuria um risco sério para os Direitos humanos no mundo. Mesmo sendo Trump o que é, um funcionário das Nações Unidas não tem o direito de se referir assim, por mais razões de fundo que tenha, a um participante legítimo num ato eleitoral livre num país democrático. 

Não tudo vale, na vida internacional.

(*Escrevo "Direitos do Homem" porque é essa a expressão que figura na Convenção de 1948. Compreendo, contudo, que alguns sigam o mais "faishionable" "Direitos humanos", na condição de que me deem a mim o direito de poder usar a fórmula original).

terça-feira, outubro 11, 2016

... e lá veio a chuva!


Já recebi três telefonemas, neste fim de tarde, a "culpar-me" por ter surgido a chuva. 

"Foste tu que a chamaste com o texto de há dias, a dizer que só havia sol e que tinhas saudade da chuva!" - foi este, basicamente, o tom médio das chamadas.

Pronto, eu assumo as minhas responsabilidades, embora, confesso, não soubesse que este espaço, por muito popular que fosse, chegasse tão "alto". E, também, desconhecia que, "por lá", tivessem um espírito de contradição tão apurado. Que flores de estufa, já não se pode dizer nada!

segunda-feira, outubro 10, 2016

RTP 2


Na tarde de hoje, no programa "Sociedade Civil", sob a moderação do jornalista Luís de Castro, o professor universitário Carlos Gaspar e eu discutimos a história e o destino da Organização das Nações Unidas, tendo como óbvio pretexto a eleição de António Guterres.

É muito agradável participar em programas com uma agenda de puro serviço público, sem constrangimentos de tempo, com espaço para aprofundar os temas, sem polémicas e tendo a vontade de informar como objetivo.

Não me canso de chamar a atenção para o excelente trabalho desenvolvido pela RTP 2, magistralmente dirigido por Teresa Paixão. Encontrei-a à saída e felicitei-a por ter conseguido preservar o "seu" canal da infernal praga para-futebolística (isto é, programas, reportagens e entrevistas sobre futebol, mas sem futebol).

O outro 25

Se a manifestação dos 50 anos do 25 de Abril foi o que foi, nem quero pensar o que vai ser a enchente na Avenida da Liberdade no 25 de novem...