quarta-feira, maio 26, 2010

Missa

A culpa era dela, diziam os próximos da casa. Aquela embaixatriz deixava o marido tantas vezes só, naquele recôndito posto, que lhe dava fortes oportunidades para exercitar o seu consabido tropismo para escapadelas românticas. Nos últimos tempos, a mais persistente amiga do embaixador era a Cláudia. Todo o corpo diplomático conhecia a sua aventura com essa mulher de um empresário local, desde há alguns anos preso por corrupção. Com a embaixatriz ausente, a Cláudia, "viúva de vivo", era presença regular ao lado do embaixador, mesmo em locais públicos. "Uma boa amiga", dizia ele. Ninguém duvidava.

A Cláudia era, assim, como que uma figura quase natural no panorama daquela Embaixada. Mesmo durante as raras aparições da embaixatriz pelo posto, ela sempre surgia por lá, frequentando recepções e outras ocasiões sociais. Por isso, durante a visita que o seu  ministro dos Negócios Estrangeiros efetuou àquele país, ninguém estranhou que o embaixador a incluísse entre os convidados para o jantar em que reuniu alguns amigos mais chegados, juntamente com autoridades locais. A única estranheza residia na aparente inocência da embaixatriz, que, uma vez mais, admitia Cláudia, sem reticências visíveis, nesse círculo restrito de convidados. Coitada, não via nada...

O jantar com o ministro visitante corria normalmente. O embaixador entretinha o repasto com algumas historietas. A certo momento, lembrou, saudoso, o desaparecimento de uma figura tutelar da pequena comunidade que o seu país tinha no local. Sublinhou o quanto a sua falta fora sentida, o modo como as próprias autoridades tinham honrado o seu funeral: "Estava toda a gente na missa. Eu fui com a Cláudia...". Do fundo da mesa, Cláudia anuiu, discreta, com a cabeça.

Nesse instante, a embaixatriz gelou o ambiente: "Com a Cláudia? Eu já tinha ouvido que você fazia muitas coisas com a Cláudia, mas ir à missa nunca!". O jantar, praticamente, acabou por ali.

terça-feira, maio 25, 2010

Artistas portugueses em França

Tenho pena de não sermos nós a organizar esta exposição aqui em Paris, mas quero saudar vivamente a iniciativa da Câmara Municipal da Amadora ao apresentar, na galeria Artur Bual, até 13 de Junho, uma mostra de "Artistas Portugueses em França".

Aí fica a impressionante lista de artistas representados: Alfredo Margarido, Alvess, António Branquinho Pequeno, António Dacosta, Augusto Barros, Baptista Antunes, Benjamin Marques, Bertino, Cargaleiro, Costa Camelo, D’Assumpção, Darocha, Dimas Macedo, Eduardo Luiz, Gonçalo Duarte, Jacinto Luís, João Moniz, João Vieira, José David, Júlio Pomar, Isabel Meyrelles, Luís Rodrigues, Manuel Amorim, Paula Liberato, Pedro Avelar, Rodrigo Ferreira, Sónia Prieto e Vieira da Silva.

Parabéns por esta magnífica iniciativa. Para a ilustrar, deixo a imagem de uma obra de um dos artistas que figuram na exposição, Dimas Macedo, que há meses desapareceu.

Cabo Verde

Há semanas, andou por Portugal um (felizmente curto) debate sobre Cabo Verde, sobre se aquela magnífica república africana não estaria melhor se não se tivesse tornado independente e houvesse optado por se manter unida a Portugal. Uma polémica mais do que escusada, que a História, a seu tempo, já tinha encerrado.

Essa mesma História não se faz de "ses", mas posso perceber que, se acaso as coisas se tivessem encaminhado para a criação duma hipotética "região autónoma" caboverdiana, na noite de ontem não teríamos sofrido a humilhação futebolística de ver uma seleção carregada de estrelas, pagas a peso de muitos milhões de euros, mostrar-se incapaz de derrotar um valoroso mas frágil "onze" daquelas ilhas africanas.

Mas, afinal, a confusão entre os dois países continua a existir noutros locais. Veja-se esta notícia, num jornal suíço, onde se fala dos "portugueses de Cabo Verde"...

segunda-feira, maio 24, 2010

Aristides Sousa Mendes

Foi há dias lançado na nossa Embaixada, mas só estará acessível ao público no dia 3 de  junho este novo livro de Eric Lebreton, da editoria Le Cherche Midi. Trata-se de um relato muito bem escrito e documentado da odisseia do Cônsul português em Bordéus que, durante a Segunda Guerra Mundial e contra a vontade expressa do governo português de então, concedeu dezenas de milhar de vistos, para entrada em Portugal, a outros tantos refugiados, provavelmente salvando-lhes a vida que estava ameaçada pela ocupação nazi da França. Aristides Sousa Mendes foi demitido das suas funções e morreu na miséria. 

Hoje, a sua ação é cada vez mais reconhecida pela comunidade internacional, como o prefácio de Simone Veil a este livro assinala. Em Portugal, depois de anos de esquecimento, o feito de Sousa Mendes tem vindo a ser destacado e a merecer crescente acolhimento no âmbito da nossa diplomacia. 

Desde 1995, a  Associação Sindical dos Diplomatas Portugueses atribui o "prémio Aristides Sousa Mendes", para trabalhos na área histórico-diplomática.

Trigo duro

Lá está escrito, na placa de identificação, no último canteiro junto ao Rond Point: "trigo duro". Nestes dias, em que o feriado de hoje se soma ao fim-de-semana, os Champs Elysées, recuperando a sua vocação natural de "campos", enchem-se de plantas, transformando-se numa espécie de esplanada agrícola, uma imagem muito curiosa da França rural. E lá está o "trigo duro".

Entre 1997 e 1999, Portugal esteve envolvido numa complexa negociação no seio da União Europeia, para definir os apoios comunitários de que o país poderia beneficiar no período 2000-2006. Entre eles, estavam algumas ajudas agrícolas.

A certa passo da negociação, dei-me conta que o pessoal da Agricultura colocava sempre no seu "pacote", para além de questões na área da pecuária e dos produtos leiteiros, um pedido de extensão da quota para o cultivo do trigo duro. Assim, e durante meses, levámos nas nossas listas "reivindicativas", para os encontros bilaterais e com a Comissão Europeia, um pedido relativo ao trigo duro.

Já na fase final da negociação, tive que ir a Bonn, duas vezes na mesma semana, para ajudar a convencer os alemães, que tinham a presidência rotativa da União Europeia, da bondade e importância dos nossos pedidos. Era um tempo de transição, em que o SPD de Gerhard Schroeder acabara de chegar ao poder, aliado aos Verdes de Joschka Fischer, e a falta de "afinação" da nova aliança refletia-se de forma nem sempre favorável para nós, no tratamente de alguns dossiês. Por isso, tínhamos de ser uns "chatos", repetir as mensagens, dramatizar algumas situações. Na cidade onde então (ainda) funcionava a administração central alemã, passei várias horas a trabalhar no ministério dos Negócios Estrangeiros - o competente Auswartiges Amt, também conhecido por AA, dirigido por Fischer - e na chancelaria federal, com assessores de Schroeder. 

A jornada da segunda deslocação já ia longa, mas o nosso embaixador tinha combinado um encontro com jornalistas portugueses, na sua residência, para fazer o saldo possível desses contactos. Embora eu não estivesse em condições de poder revelar muito, lá expliquei as nossas principais preocupações. A certa altura, a título de exemplo, enfatizei a importância que prestavamos à autorização de uma quota maior para a produção de trigo duro. Foi então que uma jornalista me perguntou: "Mas que diabo é isso do trigo duro? Há trigo mole? Porque pedem quota para o trigo duro e não para outras variedades de trigo?".

Recordo-me que "bloqueei", por completo. A minha cultura tipicamente urbana, ou melhor, a minha falta de cultura rural impedia-me, em absoluto, de dizer fosse o que fosse sobre essa coisa que era o trigo duro. Nesse instante, devo ter-me dado conta de que andara meses a defender a importância para Portugal de um produto que não sabia minimamente o que era.  Eu era um negociador político, não um técnico, nunca me tinha passado pela cabeça aprofundar, nesse como em outros temas, a sua especificidade, até porque os meus interlocutores, também políticos, funcionavam num registo perfeitamente idêntico. Presumo que "meti os pés pelas mãos", dando uma explicação qualquer, que deve ter sido suficientemente habilidosa, porque me não vi ridicularizado na imprensa, do dia seguinte. 

Com certeza que já devo ter visto muitas vezes, pelos campos, muitas plantações de trigo duro. Mas só hoje, na realidade, liguei o nome à planta. E logo nos Champs Elysées...

Artur Agostinho

Há algumas poucas pessoas que atravessam gerações. Artur Agostinho, que acabo de ver na televisão, há minutos, a receber um "Globo de Ouro", é uma dessas figuras. 

Artur Agostinho parece estar conosco desde sempre. Lembro-me dele no "Leão da Estrela" (sempre Leão!) com António Silva, dos clássicos relatos de futebol na Emissora Nacional com Nuno Brás ("Bom dia, boa tarde ou boa noite, conforme a hora e o local onde nos estiverem a escutar" ou "E passo às Antas! Alô Nuno!"), da voz que, do pavilhão de hóquei de Montreux, nos fazia "ver" os golos de Jesus Correia e Correia dos Santos, do relato épico da chegada do "Santa Maria" ao Recife (lembro-me, muito bem, dessa noite de 1961), de como interrogava com graça no "Quem sabe. sabe!", ao lado de Gina Esteves, de representar, também nos primórdios da RTP, o divertido barbeiro sr. Gaspar, com Camilo de Oliveira. Pelo caminho foi um ativo jornalista desportivo e profissional da publicidade, além de outras atividades em que se envolveu. 

A Revolução tratou-o muito mal, caricaturou-o como imagem do regime caído no 25 de Abril, inventou-lhe cumplicidades e obrigou-o a emigrar. Deixou então escrita, em páginas que revelavam uma pessoa ferida, essa sua natural acrimónia com um certo Portugal. Mas soube "dar a volta". Reapareceu na vida portuguesa, andou pelo teatro, fez figuras patriarcais em telenovelas, para além de outras incursões públicas que devo ter perdido, por estar ausente do país. O sorriso de Artur Agostinho, que conhecemos desde os tempos das anedotas da rádio e da televisão, é hoje um valor estimável do nosso património de memória afetiva.

Não somos suficientemente ricos em personalidades públicas para que nos possamos dar ao luxo de não acarinhar figuras como Artur Agostinho.

Em tempo: na cerimónia, foi prestada também uma homenagem especial a Raul Solnado. Com o tempo, nós, os amigos do Raul, sentimos uma crescente tristeza, saudosa da sua alegria.

sábado, maio 22, 2010

No Congo

O nosso embaixador dormitava, no avião que o conduzia à cidade onde o presidente daquela república africana o receberia, para a apresentação de credenciais.

Estava-se nos anos 80 do século passado. Pela prática local, os novos embaixadores estrangeiros eram transportados, em avião do Estado, numa viagem de largas centenas de quilómetros, acompanhados do ministro dos Negócios Estrangeiros e de outros titulares elevados na diplomacia local. Isso acontecia porque o chefe de Estado desse país fazia questão de utilizar a sua cidade natal para organizar os atos de entrada formal em funções dos representantes diplomáticos. 

A certa altura, durante a viagem, o embaixador português acordou com uma sonora gargalhada, atrás de si. Era o ministro dos Negócios Estrangeiros, perdido de riso com algo que estava a ler. O nosso diplomata ainda resistiu, por algum tempo, à curiosidade, até porque ainda não tinha confiança com o governante que lhe permitisse, com facilidade, perguntar a razão dessa galhofa. Mas, minutos volvidos, porque a risada continuava, e "como quem não quer a coisa", olhou para trás e identificou o livro que tanto divertia o Ministro: "Tintin au Congo".

Nos tempos de hoje, em que esta obra de banda desenhada de Hergé, já muito antiga (1930/1931), parece votada a entrar no "índex" de algumas instituições culturais, seguindo as sisudas regras do "politicamente correto" que por aí imperam, não deixa de ser irónico que um ministro africano, negro, tenha saudavelmente mostrado como é possível achar divertida uma visão preconceituosa do mundo africano. É que o governante africano - repito, negro - tinha a consciência objetiva de que esse álbum devia, como deve, ser lido no contexto histórico em que foi elaborado.

Às vezes, tenho a sensação de que os zelosos censores contemporâneos parece quererem ser "mais papistas que o Papa". 

Perceber a Europa

Imagino que o discurso confuso e contraditório de alguns especialistas deva estar a causar grande perplexidade em muitas pessoas sobre o que, realmente, se está a passar na Europa, em face da crise do euro e da atitude dos países e das instituições no quadro da presente crise.

Para ajudar a explicar esse novelo de questões, recomendo vivamente o artigo que o antigo ministro português e comissário europeu António Vitorino publicou ontem no "Diário de Notícias". Leia-no (bem) aqui.

sexta-feira, maio 21, 2010

Pintura

De um museu de Paris foram roubados cinco quadros de outros tantos pintores: Picasso, Modigliani, Braque, Léger e Matisse (na imagem). O valor estimado (conceito muito discutível) destes quadros é de 100 milhões de euros.

Se tivermos em conta que nenhuma destas obras pode vir a ser vendida no mercado legal, o que reduz imenso o seu valor objetivo, devemos concluir que alguém pagou para poder guardar, num local reservado da sua casa e para um prazer de olhar quase pessoal, estas obras-primas.

Para além do aspeto criminoso do ato, não podemos deixar de considerar que o receptador é uma pessoa de imenso bom gosto. Sem lembrar Arsène Lupin, há que convir, com sinceridade, que há ladrões e ladrões.

quinta-feira, maio 20, 2010

Lisboa e o resto

Com o meu habitual pedido de desculpas aos pessimistas de serviço na blogosfera, deixo aqui registado que a cidade de Lisboa acaba de ser considerada o "Melhor Destino Europeu 2010", pela Association des Consommateurs Européens, entre 10 grandes cidades, onde estão "apenas" Londres, Barcelona, Praga, etc.

A capital portuguesa foi selecionada com base em critérios de qualidade de vida, infaestruturas, oferta cultural e turística.

Já agora, a mesma Associação nota que Portugal é o país do sul da Europa com maior oferta balnear com a "bandeira azul" relativa a "qualidade ambiental exemplar", tendo este ano mais 14 praias com tal designação do que em 2009.

Sei que isto custa a alguns, mas às vezes foge-me o pé para esta fraqueza de dizer bem do nosso país...

Pedras Salgadas em ponto!

A Unicer é empresa nacional de grande dimensão, cuja atividade na área dos refrigerantes é bem conhecida. Por essa via, encontra-se ligada aos parques termais de Vidago e das Pedras Salgadas.

Perante alguma polémica suscitada, no ano passado, pelo atraso na implementação das promessas da revitalização desses parques termais, a que se comprometeu contratualmente com o Estado português, que para tal lhe concedeu facilidades de natureza económica, a Unicer entendeu por bem vir a terreiro, numa entrevista de um seu responsável ao "Expresso", em Outubro de 2009, esclarecer algumas dúvidas, em matéria do calendário de execução das obras. E esse responsável disse, nessa entrevista, entre outras coisas, a seguinte e inequívoca frase:

"A abertura oficial está agendada para Maio de 2010, altura em que será anunciado o projecto definitivo para o hotel de Pedras Salgadas, cujas obras irão arrancar em 2011."

É com o conforto da convicção de que uma empresa com a dimensão da Unicer não arriscaria a sua credibilidade se acaso não mantivesse os compromissos que publicamente assumiu que, ao que julgo saber, muitas pessoas nas Pedras Salgadas aguardam com ansiedade conhecer - nos próximos 11 dias, claro! - o "projeto definitivo para o hotel das Pedras Salgadas" que a empresa vai anunciar.

"Apéro"

Está-se sempre a aprender. Até há algumas semanas, a palavra "apéro" era, para mim, uma versão simplificada da palavra "apéritif". Por isso, quanto li, num título de jornal, que alguém tinha morrido num "apéro", tive a curiosidade de tentar perceber se se tinha engasgado com alguma azeitona ou coisa similar.

A surpresa foi saber que os "apéros" são a designação contemporânea, aqui em França, para ajuntamentos de jovens (não me consta que as pessoas de mais idade tenham vocação para isso) que decidem reunir-se, por vezes aos largos milhares, a certa hora e num determinado local público, para conviver e, em especial, para... beber. A convocatória é feita através das redes sociais da internet e, durante horas, passam a ter lugar vastas libações, quiçá como "aperitivo" para outras subsequentes atividades lúdicas. 

Ao que agora se sabe, este tipo de eventos tem vindo a acontecer, com crescente frequência, um pouco por toda a França (e. provavelmente, noutros países), tendo já dado origem a incidentes com alguma gravidade, por descontrolo alcoólico. Por essa razão, as autoridades estão já a proibir alguns "apéros", procurando reconduzi-los à legislação comum sobre reuniões em lugares públicos.

Há cerca de um ano, falou-se aqui de outro estilo de "apéro". Alguém sabe onde será este ano?

Portugal em Shangai

Quem tiver 7 minutos para ver um belo filme sobre Portugal, em exibição no pavilhão português na exposição internacional de Shangai, pode clicar aqui.

quarta-feira, maio 19, 2010

Horácio Roque (1944-2010)

Um dos grande problemas com que Portugal se defronta (e de que, curiosamente, poucos falam) é o facto de não ter muitos empresários com vocação e capacidade de ação externa.  Andar constantemente a viajar, falar línguas, ter uma longa agenda de contactos e dar-se ares de cosmopolitismo bem-falante - vestindo bem, comendo melhor e ficando por bons hotéis - está longe de ser uma garantia para se ser um bom empresário no plano internacional.  Ao longo dos já muitos anos que levo de vida diplomática, pude apreciar que, no domínio empresarial, o trabalho mais produtivo e sustentado no tempo é quase sempre conseguido por personalidades mais discretas, que conseguem estabelecer laços de confiança, projetar uma imagem de seriedade e revelar um sentido de compromisso e equilíbrio. Quase sempre, sem grande "frenesim" nem muitas parangonas.

Horácio Roque, que hoje faleceu, provou ser um empresário realista, com uma vocação internacional medida à luz das ambições que foi fixando. Com esforço e determinação, soube construir um interessante grupo económico. O Banif é hoje uma bandeira de que Portugal se orgulha. Tive oportunidade de testemunhar e apoiar a sua afirmação crescente no mercado brasileiro e de aí confirmar o prestígio e capacidade de liderança de Horácio Roque.

terça-feira, maio 18, 2010

Investir em Lisboa

Mostrar a capital portuguesa como destino para o investimento estrangeiro foi a aposta ontem ganha pelo presidente da Câmara Municipal, António Costa, numa iniciativa conjunta com a Associação Comercial de Lisboa, realizada em Paris. Ambas as entidades são parceiras na InvestLisboa, que organizou uma eficaz jornada de promoção na nossa Embaixada.

Ao almoço, juntámos grandes empresários da comunidade portuguesa. À tarde, esclarecedoras apresentações suscitaram um animado diálogo com advogados, jornalistas, empreendedores e diversos outros agentes económicos, franceses e portugueses.

Nesta ação promocional, ficaram muito claras as vantagens comparativas que Lisboa pode oferecer ao investidores externos, projetando a nossa capital para áreas diferentes dos mercados sectoriais onde os seus créditos estão já bem firmados, como sejam o turismo ou os congressos. Ao esforço de renovação por que Lisboa passa é importante associar capitais internacionais que queiram aproveitar a oportunidade para explorar novas zonas de expansão urbana ou as várias intervenções previstas em setores a requalificar.

Como se viu em dois magníficos filmes, muito apreciados pelas cerca de 100 pessoas presentes no evento, Lisboa tem uma imagem contemporânea nova e muito sedutora.

Tal como diz o meu querido amigo Marcos Vilaça, presidente da Academia Brasileira de Letras, Lisboa está cada vez mais... Lisótima!

Irão

O Brasil e a Turquia, dois países que ocupam lugares de membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU, acabam de mediar um acordo com vista a reconduzir o Irão a um diálogo com a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA). Ao longo dos últimos meses, o governo de Teerão tinha-se mostrado muito refratário em aceitar os termos de um entendimento que daria à comunidade internacional garantias de que o respetivo projeto nuclear tem fins pacíficos e não se destina a abrir caminho à sua utilização com finalidades militares.

O Irão tem agora uma oportunidade soberana para demonstrar a sua boa vontade e o seu interesse em atuar em conformidade com as regras impostas pelo Tratado de Não Proliferação Nuclear, de que foi subscritor. Se o não fizer, e se acaso vier a optar por processos que possam ser vistos como dilatórios no cumprimento dessas regras, o Irão confirmará todas as suspeitas que muitos países ainda mantêm quanto à sua vontade efetiva de cumprir as regras da AIEA. 

Porém, mais importante do que isso, Teerão poderá vir a perder a boa vontade de alguns países - como é, manifestamente, o caso do Brasil e da Turquia - que, ao lhe proporcionarem este entendimento, lhe permitiram ganhar tempo e obter uma nova oportunidade. Esses países, para quem o empenhamento neste processo tem algum preço político, não estarão dispostos, com toda a certeza, a pactuar com novas justificações iranianas, destinadas a não darem cumprimento àquilo a que agora se comprometeram. Seria a própria credibilidade de tais países que ficaria inapelavelmente em jogo.

Os três Estados ocidentais (EUA, Reino Unido e França) que, com a Rússia, já se  haviam mostrado abertos à fixação de um regime sancionatório contra o regime iraniano, no âmbito da ONU, por virtude do incumprimento de anteriores compromissos por parte de Teerão na matéria, olham agora este entendimento com alguma suspeição, porque, de certo modo, ele pode colocar em causa o seu anterior calendário de fixação das sanções. Porém, vistas as coisas de outro modo, esses mesmos países podem vir a recolher de uma nova recusa iraniana um argumento, desta vez decisivo, para levarem a cabo a imposição de tais medidas. É que, na hipótese de isso acontecer, vê-se mal como muitos dos Estados que, até agora, se têm mostrado compreensivos ou complacentes para com Teerão poderiam, com um mínimo de legitimidade, vir a opor-se à imposição de sanções. Em especial, esse é o caso da China, que tendo um potencial direito de veto do Conselho de Segurança, tem vindo a condicionar. desde há meses, o desenho de tal regime sancionatório.

segunda-feira, maio 17, 2010

"Histoire du Portugal"

Destaco hoje aqui a recente reedição (a 4ª), pelas Editions Chandeigne, da já clássica obra de Albert-Alain Bourdon, "Histoire du Portugal", desta vez com um complemento do professor Yves Léonard dedicado ao Portugal contemporâneo.

Trata-se de um belo trabalho global de divulgação sobre a História portuguesa (214 páginas, em tamanho "de poche"). O acrescento agora introduzido por Yves Leonard completa e prolonga muito bem o antigo texto.

Bourdon havia sido o autor de uma "Histoire du Portugal" publicada na clássica coleção "Que sais-je?", da Presses Universitaires de France, em 1977.

Com tempo, procurarei dar conta aqui de outras obras sobre Portugal que hajam sido editadas em francês.

domingo, maio 16, 2010

Tailândia

Um excelente e inesperado blogue português de Bangkok tem-nos dado conta, bem melhor que muita imprensa, da tensão que se tem vivido na Tailândia e que parece pressagiar dias ainda muito complicados. Só de nome conheço o seu autor, Nuno Caldeira da Silva, mas felicito-o por este verdadeiro serviço público, num país com o qual Portugal tem uma histórica relação.

Ontem, e a propósito desta crise, também ouvi na rádio a voz serena do embaixador português, António Faria e Maya, com uma avaliação inteligente, marcada pela experiência, pela sensatez e pelo bom-senso. É uma sensação reconfortante, para um colega, constatar que, em momentos e locais de crise, a nossa "corporação" está muito bem representada.

Em tempo: foi-me chamada a atenção para mais três blogues portugueses em Bangkok, que se podem consultar aqui, aqui e aqui.

Liga de Paris

Foi uma agradável surpresa ver a Embaixada encher-se com várias dezenas de pessoas, na passada sexta-feira, para assistir ao colóquio que tomei a iniciativa de organizar, dedicado à Liga de Paris - a estrutura de coordenação política que aqui juntou vários republicanos portugueses no exílio, na tentativa de preparar a resistência contra a ditadura militar implantada após o movimento de 28 deMaio de 1926.

Os professores Fernando Rosas, Yves Léonard, Cristina Clímaco e Luis Farinha, numa sessão que durou cerca de 4 horas e que culminou num interessante debate, fizeram uma análise muito aprofundada sobre a organização e clivagens políticas desse grupo de democratas portugueses, que por aqui tentaram criar aquela que seria a primeira estrutura de luta para combater o regime saído do golpe militar. As intervenções, aliás, abordaram alguns outras dimensões dessa longa aventura política expatriada, que se prolongou por meio século, nomeadamente aspetos ligados à Guerra Civil de Espanha, à Segunda Guerra Mundial e à luta anti-colonial.

Julgo que todos os presentes saíram satisfeitos por terem tido oportunidade de participar nesta iniciativa, que foi feita sob a égide das comemorações do Centenário da República.

Deixo no post a imagem de uma das figuras tutelares da Liga de Paris, o último presidente da I República, Bernardino Machado - um homem que se recusou a regressar a Portugal enquanto não tivessem sido autorizados a fazê-lo todos aqueles que a ditadura militar de 1926 tinha forçado ao exílio.

Mourinho

Pois é! Criticam-no, acham-no arrogante, agressivo e "peneirento". Talvez seja. Mas é, sem dúvida, o melhor treinador de futebol que anda por aí. Hoje, ganhou o dificílimo campeonato italiano, depois de ter conquistado a taça. E está ainda na grande final europeia. Habituem-se!

O outro 25

Se a manifestação dos 50 anos do 25 de Abril foi o que foi, nem quero pensar o que vai ser a enchente na Avenida da Liberdade no 25 de novem...