sexta-feira, dezembro 18, 2020
Suecas
quinta-feira, dezembro 17, 2020
Vidas
Soube que morreu, há meses. A morte esteve sempre ligada à sua vida. Dirigia a mais reputada casa funerária da cidade. Era um homem de uma imensa delicadeza, o senhor Euclides.
quarta-feira, dezembro 16, 2020
António Correia de Campos
A presidência e o governo
Não, não é sobre a relação entre os poderes que ocupam Belém e S. Bento que venho aqui falar. Teremos muito tempo para isso, no futuro. Hoje, gostava de refletir um pouco sobre o desafio que Portugal enfrenta, nos seis meses que aí vêm, na presidência da União Europeia.
terça-feira, dezembro 15, 2020
Boas Festas!
Pode ser minha impressão, mas fico com a sensação de que, este ano, as pessoas estão muito mais contidas ao desejarem Boas Festas aos outros, muito provavelmente pela consciência de que, para quase todos, os dias que aí virão, até ao início de 2021, não serão o que costumam ser, na alegria familiar que os costuma marcar.
Negócio da China
Era um tipo grande, cordial. Eu tinha acabado de estacionar o carro, numa vaga milagrosa, numa das Avenidas Novas. Preparava-me para ir a uma livraria. Cruzou-se comigo, quando eu já atravessava a rua, lançando-me um amável "Boas Festas, embaixador!". O facto de o não ter identificado não garantia que o não conhecesse, de algures. Mas a cara, de facto, não me dizia nada. Retorqui, agradecendo e retribuindo os votos. Já quase o tinha esquecido quando, do outro lado da rua, ouvi: "Embaixador! Tenho uma prenda para si!". Era ele. Voltou a atravessar a rua na minha direção e, enquanto se encaminhava para um carro que estava próximo do meu, perguntou: "Que número calça?". Perplexo e um pouco contrariado lá lhe disse. ("Deve ser de alguma empresa, é com certeza pessoa com quem me terei cruzado numa feira ou numa embaixada", pensei para comigo. "Se calhar, são sapatos! Só me faltava mais esta!"). Ele abriu a mala do carro e tirou um saco de plástico transparente, dentre vários que lá estavam, com meias de diversas cores (não eram feias, mas algumas das cores nunca as usaria). Continuava a falar, não se calava, agora sobre a qualidade do produto, sobre a quantidade de algodão, sobre o facto daquelas meias não terem costura. Confirmou: "É mesmo a sua medida! Que sorte! Onde está o seu carro?". Um pouco aturdido, lá atravessei a rua outra vez, coloquei a saca de meias sobre um dos banco e balbuciei um agradecimento, cumprimentando-o, tentando libertar-me. Fui-me afastando, pelo passeio adiante. Sentia uma sensação estranha, de algum incómodo, indefinível. Curiosamente, como se fosse na mesma direção, ele ia-me acompanhando pela faixa de rodagem, com os carros estacionados de permeio, continuando, por cima dos carros esstacionados, a dizer coisas sobre as meias, sobre as fábricas, nem sei bem o quê. Algumas pessoas com quem nos cruzávamos deviam estranhar aquele monólogo em voz alta, comigo calado e morto por me ver livre do homem. Por instantes, ele dava ares de que ia afastar-se, mas logo depois aproximava-se, como que ziguezagueando, no seu andar largo e algo desengonçado. Já estávamos aí a uns vinte metros do meu carro quando ele perguntou: "Sabe quanto estão a pedir por aquelas meias nas lojas? Diga um número?". Eu sabia lá! Eu nem sabia quantas meias o saco tinha (eram dez pares). Ele sabia: "Oitenta euros! Imagine! Bom, para um produto daquela qualidade, também se justifica...". E continuou a acompanhar-me, agora juntando-se a mim no passeio. "Para o meu amigo, são só vinte euros, claro! Tenho imensa consideração por si, como sabe!" Eu sabia é que tinha acabado de cair no conto do vigário. Pensei para comigo, com a auto-absolvição dos tolos: "É Natal. Isto até teve graça!" Não teve, eu sentia-me pateta, mas incapaz de rumar ao carro, já distante, e devolver o saco das meias ao homem. Parei, abri a carteira e tirei uma nota de vinte euros. Agarrada a ela veio uma nota de cinco. Ele estava atento e, com um sorriso, advertiu, generoso: "Atenção! Esses cinco euros não são meus!" Fui à vida. Quando regressei, meia hora depois, vi-o ao longe encostado a uma parede, a olhar a sombra. Entrei no carro, olhei as meias. Era chinesas. Péssimas! Medida "40-46". Era mesmo a "minha" medida, claro! (Isto passou-se há precisamente seis anos).
segunda-feira, dezembro 14, 2020
Os senhores do tempo
Aquele meu amigo, numa graça de ínvia solidariedade, reagia a um desabafo irritado que, horas antes, eu tinha deixado, nas redes sociais: “Vê lá se tens um bom alibi para a noite do desaparecimento da Maddie! E onde é que tu estavas quando o avião caiu em Camarate? Olha que ainda se lembram do teu nome!”.
domingo, dezembro 13, 2020
Le Carré
O segredo
Retratos
sábado, dezembro 12, 2020
“Observare”
Nesta noite de sábado para domingo, à meia noite e quinze, estarei no “Observare”, programa de relações internacionais da TVI 24 com Luís Tomé e Carlos Gaspar, sob a moderação de Filipe Caetano. Falaremos, nomeadamente, da cimeira europeia e da presidência portuguesa da União Europeia, em 2021. No meu caso, abordarei também a situação na Venezuela e uma vitória portuguesa obtida na Organização para a Segurança e Cooperação Europeia (OSCE).
sexta-feira, dezembro 11, 2020
Tenho de reler Franz Kafka
Voos
Era bom que trocássemos umas ideias
Reduzi o título deste artigo, que deveria ser “Era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto”. Não que a frase seja original: é o nome de um livro de Mário de Carvalho. Lembrei-me dele, há dias, ao assistir a um “webinar” em que se analisava a política externa americana, na era pós-Trump. E por ter então sentido, com assumida sinceridade, que não me revia em muito daquilo que por ali se dizia e pensava. Mais do que isso: que não estava solidário com os pressupostos na base dos quais a discussão estava a ter lugar. Pelo que achei que era necessário falar abertamente sobre o assunto.
quinta-feira, dezembro 10, 2020
Lusofonias
quarta-feira, dezembro 09, 2020
Vergonha e pânico
Senti vergonha, no caso de Tancos. Senti vergonha ao constatar que uma instalação militar portuguesa, com paióis de armamento e explosivos, instrumentos ideais para terrorismo e delinquência, esteve à mão de semear de uns gatunos de trazer por casa e que autoridades do meu país entraram, depois, numa ridícula competição clandestina de competências sobre quem devia tomar conta da aferição criminal daquela indignidade. Que tristeza foi ver Portugal a ter de explicar, lá fora, na Nato, aos parceiros, que não era grave, tudo se iria remediar...
terça-feira, dezembro 08, 2020
Anonimato e decência
De há uns tempos a esta parte, embora com honrosas exceções, os comentários aos posts deste blogue, a esmagadora maioria dos quais feitos sob um “corajoso” anonimato, revelam um crescente estilo de acidez crítica, não raramente insultuosa, que acho incompatível com a serenidade daquilo que por aqui se traz. E notem que o que tem sido publicado já é objeto de uma triagem! Para verem do que a casa gasta!
Assim sendo, “para grandes males, grandes remédios”: por algum tempo, pelo tempo que eu vier a achar mais adequado, os posts deixam de aceitar comentários de quem não tenha, pelo menos, uma conta Google.
Se um dia mudar de opinião, aviso. Também por aqui. E desde já agradeço as Boas Festas que alguns pensavam poder mandar-me por aqui.
segunda-feira, dezembro 07, 2020
Os compreensivos
TAP
Guerras
Coros
O pânico
Vergonha própria
E se...?
domingo, dezembro 06, 2020
Alguém sabe responder?
“Observare”
Pode ver o programa aqui.
sábado, dezembro 05, 2020
O Sousa
O Sousa não gostava de mim. Notava-se, à légua, há muito. O Sousa era, julgo, o contínuo mais velho do liceu. Não tinha o estilo futebolístico do Rocha, nem o ar desengonçado do Marques, nem o jeito comercial do Carminé. Mas cabia-lhe essa função inigualável de prestígio que era a gestão da entrada principal do liceu. Essa era uma zona que, por definição, nos era quase interdita, reservada aos trânsito dos professores ou para o cerimonioso acesso à secretaria, onde, atrás do balcão, nos olhava, com ar severo, o senhor Agarez. Contudo, num certo ano, por algum tempo, creio que por virtude de obras de construção de uma das alas do edifício, a entrada de todos os alunos passou a ser feita por esse átrio central, o tal que cabia ao Sousa controlar. (O Alfredo Branco, de bata branca, nesse 1° de Dezembro, cantou, no palco do Teatro Avenida, para a posteridade: “A entrada pró liceu / desta linda capital / já é feita como dantes / pela porta principal. / Por causa das confusões / p’ra evitar mais maçadas / à entrada para o átrio / está o código das estradas”). Eu tinha, confesso que por vício antigo, a mania de chatear o Sousa. Não me perguntem porquê! Nem como! Inventava coisas para o atazanar. Um dia, caiu neve na cidade. Como, ao que me dizem, hoje aconteceu. (Nesses tempos, nevava mais em Vila Real, acho eu). Desde a avenida, já desde o pelourinho (que, à época, estava em frente à Câmara, para quem não saiba), todos chegámos ao liceu, nessa manhã, a atirar bolas de neve uns aos outros. Nesse dia, sei lá bem porquê, entrei no átrio com uma bola de neve na mão. E, da porta grande da entrada, por sobre a cabeça de quem estava no átrio, lancei essa bola de neve, em percurso circular, jogando com a lei de Newton. E ela foi aterrar onde? Num olho do Sousa. Esquerdo? Direito? Tenho boa memória, mas nem tanto! Quase seis décadas depois, ainda me pergunto: terá sido de propósito? Era mesmo num olho do Sousa que eu queria acertar? Esquerdo? Direito? Não sei. Mas, se foi, a minha pontaria, há que reconhecer, foi excelente, magnífica, única, certeira, impecável. Melhor era impossível, se acaso foi (foi?) deliberado. Mas, repito, ainda hoje não tenho a certeza e isso, como é óbvio, absolve-me, em absoluto, de quaisquer culpas. O Sousa, recordo, recuou, sob o impacto do pedação de neve prensada saído da minha mão e, desestabilizado, foi visto a chocar contra uma daquelas vitrines envidraçadas nas quais, em manhãs de angústia, surgiam afixadas as nossa notas. Eu, imagino agora!, intimamente impante pelo indisputável êxito do arremesso, mas ao mesmo tempo temeroso de ver consagrado em fúria o meu rigor de precisão no alvo, ter-me-ei esgueirado para dentro do liceu, a caminho das aulas, contando (creio!) que ninguém bufasse ao Sousa que fora eu o autor de tão apurado, porém genial, feito. Mas alguém disse, porque a cidade, como bem sabemos, nunca foi de total confiança! E, ao final da tarde desse dia, no topo da escadas da minha casa, com quem é que eu deparei? Com a figura pesada e sombria do Sousa. A um oportunista “boa tarde, senhor Sousa!”, não obtive réstia de resposta. Tive logo um mau pressentimento. E tinha razão. O Sousa tinha ido a minha casa, apurei logo por uma criada, para falar com o meu pai. E falou. Um quarto de hora mais tarde, lá levei eu um bufardo na cara, dado pelo meu progenitor, como paga direta pela minha excecional pontaria matinal. Era assim a lógica das coisas nesse tempo. (E, valha a verdade, por muito que a pedagogia contemporânea me queira contrariar, essa bofetada não me traumatizou nada. Ou terá traumatizado? Por que razão lhes estou a contar isto agora?). O Sousa, confirmava-se, não gostava de mim. E eu, vou ser sincero, não gostava nada do Sousa. Pronto! Estamos pagos!
sexta-feira, dezembro 04, 2020
Na Farmácia Campos
quinta-feira, dezembro 03, 2020
90 anos
Jean-Luc Godard comemora hoje os seus 90 anos. Foi realizador de um filme que inspirou o nome de um blogue que talvez conheçam.
Giscard e a Europa
Giscard
quarta-feira, dezembro 02, 2020
Pé ante pé
Vale a pena olhar para trás, observar com atenção o percurso que foi fazendo, num ritmo de quem só dava um passo após ter firmado bem o anterior, depois de ter a certeza do que tinha acabado: de fazer, de dizer, de escrever. Foi assim a obra de Eduardo Lourenço.
terça-feira, dezembro 01, 2020
Em Paris, com Eduardo Lourenço (3)
Ao tempo em que dirigia a delegação em Paris da Fundação Calouste Gulbenkian, João Pedro Garcia organizou um interessante ciclo de conferências sobre a Europa. Figuras portuguesas e francesas diversas intervieram nessas jornadas, sempre muito concorridas, nos tempos em que a antiga residência de Gulbenkian na avenue d’Iéna acolhia esses eventos,
Em Paris, com Eduardo Lourenço (2)
A sala estava cheia, quer pelo interesse no intelectual francófono, um homem já idoso, com voz forte e presença imponente, mas também para ouvir Lourenço, que os portugueses “viciados” nas sessões da Gulbenkian e muitos “lusófilos” muito apreciavam. Prometia ser uma bela sessão.
Começou o homem do Caribe. E fê-lo lindamente, de improviso, arrebatando a sala. Passou mesmo o limite de tempo que lhe era destinado. A seu lado, Eduardo Lourenço ouvia-o com visível interesse. Sentado em frente a ambos, na primeira fila (alguma vantagem haveria em ser embaixador...), notei que Lourenço passou os dedos, por mais de uma vez, por algumas folhas que tinha diante de si.
E chegou o momento de Eduardo Lourenço falar. Começou por referir-se ao que tinha acabado de ouvir, citando dois livros do orador, elogiando a sua notável prestação. E, depois, no excelente francês que era o seu, disse mais ou menos isto: “Eu tinha-me preparado para vos falar sobre o tema que, a ambos, hoje aqui nos convocou. Tinha mesmo escrito um texto, para vos ler. Mas ao ouvir o que, de magnífico, nos trouxe o meu colega de painel, surgiram-me novas ideias e decidi dispensar a leitura desse texto. E, tal como ele fez, vou-vos falar livremente sobre o assunto.”
E falou. Durante bem mais de meia hora, de improviso, num francês de estilo, a que o sotaque beirão dava uma nota curiosa, Eduardo Lourenço encheu a sala de erudição e encheu-nos, a todos os portugueses que por ali tinham o privilégio de estar, de um imenso orgulho por termos como compatriota uma figura daquele calibre.
Em Paris, com Eduardo Lourenço (1)
Um dia, ao tempo que era embaixador em França, decidi organizar um jantar em honra de Eduardo Lourenço. Por uma qualquer razão, estavam também nesse jantar, recordo bem, Vasco Graça Moura e Guilherme de Oliveira Martins.
O jantar estava marcado para as oito e meia, mas o convidado principal atrasou-se. Já se aproximavam as nove horas quando, afogueado, o Eduardo chegou, pedindo imensas desculpas. E explicando a razão do atraso.
Tinha ido a um estúdio de cinema, em Saint Denis, na periferia de Paris, onde Manuel de Oliveira estava a filmar uma obra, ali tendo construído, em cenário, uma rua do Porto. E apanhara imenso trânsito no regresso, de táxi.
Perguntei a Eduardo Lourenço o motivo da deslocação ao local das filmagens. Fora para estar com Oliveira? Alguma curiosidade de ver a rodagem o filme?
Íamos na sala, a caminho da mesa de jantar, quando o Eduardo me puxou pelo braço, baixou a voz e fez uma confissão: “Vou-lhe contar por que é que fui!” E deu uma gargalhada marota, de que quem o conhecia se lembra bem. “É que eu sabia que o Oliveira tinha no filme a Jeanne Moreau e a Claudia Cardinalle. Ora dei comigo a pensar que esta era uma boa oportunidade de, por uma vez, conhecer aquelas duas mulheres, duas belezas do meu tempo. E, como tinha algumas horas, meti-me a caminho e fui ao estúdio”. “E esteve com elas?”, perguntei-lhe, já meio invejoso. “Qual quê! Quando lá cheguei já tinham saído. Acabei por pagar uma conta calada de táxi e, ainda por cima, chego atrasado ao seu jantar. Desculpe-me, sim?”
Lourenço
1º de Dezembro
Há oito anos, a pedido do "Expresso", no dia 1° de dezembro de 2012, escrevi este texto. Reproduzo-o agora, concordando comigo:
"Quem quer regueifas?"
Sou de um tempo em que, à beira da estrada antiga entre o Porto e Vila Real, havia umas senhoras a vender regueifas. Aquele pão também era p...