Integro, desde há uns meses, o Conselho Geral Independente (CGI) da RTP, órgão responsável pela definição das orientações estratégicas que a empresa deve observar, em especial das suas obrigações de serviço público, bem como pela designação do respetivo Conselho de Administração.
Sou também, enquanto simples cidadão, um espetador, tanto quanto possível atento, da generalidade do panorama audiovisual português.
Nessa singela qualidade, ainda antes de ingressar no CGI, tinha formado a opinião de que a informação da RTP, estando muito longe de ser ideal, era - para mim, sem a menor sombra de dúvida - a mais equilibrada e isenta existente em todo o panorama televisivo nacional, muito em especial nos últimos anos. O CGI não intervem minimamente na condução dessa informação, mas entendo que os seus membros, como é o meu caso, não estão impedidos de, a título pessoal, a apreciarem.
Estes anos foram aqueles em que Paulo Dentinho, que agora abandona a direção de informação da RTP, por virtude de um incidente que, embora inultrapassável e ao que parece claramente impeditivo da sua continuidade em funções, mas que rigorosamente nada tem a ver com a produção noticiosa da estação, foi por esta responsável.
Naturalmente que, por essa razão, funciona a crédito de Paulo Dentinho, bem como de colaboradores que escolheu para com ele trabalharem, a qualidade de muito daquilo que a RTP fez, desde essa altura, em matéria de informação. E esse é um património que deve e tenho a certeza que vai ser preservado.
Isso deve ser-lhe reconhecido, nesta hora de fim de ciclo, porque joga em favor do seu profissionalismo, do seu sentido deontológico, do grande repórter televisivo que sempre foi e que, seguramente, continuará a ser, para benefício de todos nós, nas funções e tarefas que o seu futuro na RTP estou certo lhe destinará.
Quero aproveitar esta nota para destacar que a RTP tem sido a “bête noire” daquilo que é a sua concorrência no panorama audiovisual português, em sinal aberto ou no cabo. Posso estar equivocado, mas creio que, se acaso dependesse da vontade desta, com certeza que a televisão pública já não existiria.
Talvez por isso, mantêm-se hoje, em especial na imprensa dependente de algumas das empresas que controlam meios televisivos privados, colunas regulares de denegrimento especializado contra a RTP, nas quais, quase diariamente, se procura vilificar o trabalho da televisão pública e dos seus colaboradores. Julgo que era preciso dizer isto, alto e bom som, porque o não tenho visto constatado com a necessária frontalidade.
O mais pequeno sobressalto interno na RTP é hoje explorado e potenciado, como se de uma imensa crise existencial da empresa se tratasse. Nomeadamente, vejo combatido, com escandalosa demagogia, o princípio do custeio do serviço público de rádio e televisão através da taxa incluída na fatura energética - escondendo que a RTP custa ao contribuintes portugueses uma fração ínfima daquilo que é praticado pelos seus congéneres estrangeiros, que a RTP tem apenas metade do tempo de publicidade que por cá é permitido aos operadores privados, com limites absurdos neste domínio na TDT, que a empresa suporta as obrigações estratégicas que o país tem perante a África e no quadro do seu serviço internacional (coisa que não se passa noutros países), e que os canais de rádio, portugueses e universais, mantidos pela RDP, neste caso sempre sem recurso a qualquer apoio de publicidade, prestam hoje um inestivável serviço ao país, às suas relações externas e às diversas culturas que se expressam em língua portuguesa.
E, convém lembrar, porque alguns parece que teimam em esquecer, que, em incumprimento daquilo que a lei postula, a “contribuição audiovisual” não tem sido atualizada à luz da inflação e o Estado não tem feito o reforço do capital da empresa a que está obrigado. Pena é que a Assembleia da República persista em manter, sobre este assunto, um estranho silêncio.
Como cúmulo da atenção negativa sobre a RTP, há hoje por aí alguns cronistas/jornalistas, alguns na indisfarçável nostalgia de tempos em que estiveram avençados pela RTP, que fazem do ataque à RTP e ao próprio princípio do serviço público audiovisial o seu “fond de commerce” e de ácido comentário. Trata-se de um “jornalismo” estranho, bizarro, que será facilmente identificável em algumas reações que este meu post virá com certeza a suscitar, bem como na exploração que o caso ocorrido com Paulo Dentinho, mobilizará, com toda a certeza, nos próximos dias.
Tem isto alguma importância? Na realidade, nenhuma! Mas é um sintoma que não deixa de ser preocupante, revelador de um país que vive mal com um setor que representa, com toda a liberdade e equilíbrio, o interesse coletivo e público que é comum a todos nós.
Seria mais fácil, e até mais cómodo, não escrever o que acabo de escrever? Seguramente. Mas entendo ter o direito de, de uma vez por todas, chamar os bois pelos nomes e o dever de não fugir à verdade das coisas, doa a quem doer. E entendi - repito, a título exclusivamente pessoal - que esta era a ocasião adequada para o fazer.