sábado, setembro 29, 2018

Marquês

Com alguma ironia à mistura (coisa que não costuma “passar” nas redes sociais), pode dizer-se que o Ministério Público é o grande “vencedor” da escolha do juíz Ivo Rosa para a instrução da Operação Marquês.

Se, no termo do julgamento, vier a haver condenações, conhecida que é a importância que Ivo Rosa confere ao seu papel como “juíz das liberdades” dos acusados, isso conferirá uma extraordinária legitimidade à acusação. Alguns dirão, contudo, que as eventuais condenações ocorreram “apesar de” Ivo Rosa.

Caso diferente, mas também “a favor” do Ministério Público, acontecerá se predominarem as absolvições ou vier a prevalecer uma fragilização das acusações. Nesta circunstância, a infirmação das provas será atribuída à conhecida tendência de Ivo Rosa de privilegiar provas diretas, o que o tem, com regularidade, colocado em confronto com a orientação do Ministério Público.

Nestas circunstâncias, acho que Joana Marques Vidal tem motivos para ter ficado satisfeita com o sorteio de Ivo Rosa. Ah! e também Carlos Alexandre pode sorrir: sempre dirá, no primeiro desfecho, que “eu é que tinha razão” ou, no segundo caso, que “eu é que devia ter ficado com o assunto a meu cargo”. 

8 comentários:

APS disse...

Mas por aqui, sr. Embaixador, também raramente a percebem...

Anónimo disse...

O seu post, senhor embaixador, faz lembrar aquele dito antigo acerca do Abel Pereira da Fonseca que quando ensinava ao filho as variadíssimas maneiras de fazer vinho lhe disse: E não te esqueças que da uva também se faz vinho.

jose neves

António disse...

Provas directas em crimes de colarinho branco é coisa que não há. Estão todos safos, e já estão a celebrar, o que diz muito sobre o que se está a passar.

Anónimo disse...

Lido.

Despacho:

Dá para tudo.
O que é preciso é podermos acreditar num dos maiores atributos do Estado, que ainda é o exercício da justiça.
O resto é má lingua burguesa, no pior dos sentidos.
Aguarde-se resultados.

Não deferido

Anónimo disse...

«Provas directas em crimes de colarinho branco é coisa que não há.»

Como pode fazer tal afirmação tão categórica?
Então todos os crimes de colarinho branco ou corrupção são perfeitos? Tretas, meu caro.
Sejam inteligentes, trabalhem com diligência e persigam até ao fim o rasto do dinheiro, que alguma prova subsistirá sempre. Levantem o rabo da cadeira e exercitem a epistemologia e não a imaginação.
Essa afirmação vem na sequência do slogan contumaz daqueles que adoptam e praticam uma justiça segundo Códigos onde tudo o que lá está inscrito é a "título indicativo". Assim sendo, como diria o Abel Pereira da FOnseca, "de provas também se faz justiça".
Porquê os alemães encontraram provas de corrupção no caso dos "submarinos" quer lá como cá e os nossos magistrados, nada: talvez tenham achado que tal informação era a título indicativo, não!
A UE já detectou nas contas e informou que houve desfalque de milhões no caso Tecnoforma e requer a devolução do dinheiro e os senhores magistrados, nada: mais uma informação a título indicativo e os portugueses que paguem.
O "apagão" no Secretariado das Finanças do Núncio precisamente no momento de transferências de uma dezena de milhões de milhões não deixou rasto ou ninguém foi no seu rasto?
No caso "Portocale" houve, além de outra documentação assinada,o rasto bem visível de um tal "Capelo" a depositar cheques em contra-relógio na conta do CDS, mas, claro os "crimes de colarinho branco nunca deixam rasto".
Caro, o único crime que não deixa rasto é aquele que nunca existiu e quando se procura tal existência insistentemente através de códigos a "título indicativo", ou seja à la carte, isso é também uma prova de que realmente não há crime.
Fiz-me explicar!

jose neves


Reaça disse...

E não vale ensinar!

Muita classe!

Ninguem nos chega aos calcanhares.

Os nossos alunos , angolanos e brasileiros, bem tentam imitar-nos, mas são todos apanhados.

Não aprenderam nada, embora digam que fomos nós que os ensinámos.

Anónimo disse...

Alguém me faz um desenho para eu perceber, porque carga de água para escolher entre duas hipóteses, é necessário um programa informático, que em pleno direto na TV bloqueia duas ou três vezes antes de dar a "resposta desejada". A velha moeda ao ar ou o saco com bola branca/bola preta não serviam. Fazem de nós parvos com um descaramento.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Sr. Embaixador, impecável!

José Neves, esta coisa de provas concretas é muito melindrosa, pois estraga ao arranjinho a essa entidade omnisciente chamada "toda a gente". Se "toda a gente" diz que é malandro (o "l" pronuncia-se "lh"), é porque é mesmo, logo dispensam-se provas.

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