quinta-feira, outubro 04, 2018

Tarde


É uma hora que não tem a menor graça quando já regressámos a casa. Tem ainda bastante menos quando estamos a trabalhar. Mas sempre achei magnífico o final dos dias nos cafés das cidades, em especial nos inícios do outono. Já não há por ali grupos de tertúlia, como nas manhãs ou a meio da tarde. Os espaços rarefazem-se progressivamente de gente, porque o jantar se aproxima e a novela (ou qualquer outra coisa) convoca. É a hora dos solitários ou de quantos, por qualquer razão, vão atrasando o regresso a penates (ainda alguém sabe o que isto significa?). Quase que nos empurram das mesas, os que por ali estão, sem gosto, no último turno de serviço e nos olham com alguma piedade desconfiada (“o que é que este tipo ainda faz por aqui?!”). No que me toca, sempre vi esta hora como mágica - e lembro-me dela, por décadas, em várias cidades, em muitos cafés, em diversos climas, em ocasiões muito diferentes. Alguns, ao que parece, acham-na triste. Coitados, não percebem nada! Talvez porque eu seja “do contra”, sempre adorei esta hora magnífica! À saída do café (que interessa onde é?), estavam estas árvores e esta luz. Percebem agora?

7 comentários:

Anónimo disse...

o lusco-fusco é sempre magnífico sr embaixador.

o ir a penates sempre o utilisei no sentido de ir a pé, mas visivelmente não é esse o sentido original da expressão.

cumprimentos

Anónimo disse...

deixo lhe como compensação da minha ignorância do penates esta pequena recordação de um fado do antigamente

DESORDEM ENTRE REFRESCOS(1873)
No botequim do Martinho
A dona carapinhada
Deu um tabefe valente
N'uma pobre limonada
Um capilé estava lendo
O que o Popular trazia
Eis apanha uma sangria
Em um artigo tremendo,
Grita a groseille: «Eu defendo,
O que vem no artiguinho,»
Eis salta com agua o vinho,
Com o seu ar pedantesco,
A chasqueiar o refresco.
No botequim do Martinho.

O sorvete poz-se á teza,
N'isto, viu a gente toda,
Ferra-lhe um murro uma soda
Que quebra a pedra da mesa.
Salta uma cerveja ingleza
Dá em tudo bordoada,
Assanha-se a laranjada,
E entre ditos esquisitos
Vae presa entre copitos,
A dona carapinhada.

Um limão amarelinho
Deu um murro, mas que murro,
No tal capilé casmurro
Mas sem ser de cavalinho.
Um boocks muito tezinho
Co'a pinhoada innocente,
Do barulho põe-se á frente,
E depressa... oh! maravilha,
Na pobre salsa-parrilha,
Deu um tabefe valente.

Serviu de empenho a orchata,
Para isto se acabar,
Pois era p'ra lastimar,
Entre o refresco a bravata.
A Dona altéa barata.
Paga a fiança coitada,
E no Carmo foi tratada,
Vamos lá com ,seu dichote,
Saltando a agua do pote,
N'uma pobre limonada.


cumprimentos

Francisco Seixas da Costa disse...

Penates eram os deuses do lar, na mitologia romana. ‘Regressar a penates” é ir para casa

Rui C.Marques disse...

Hora mágica - está tudo dito.

Anónimo disse...

Ou retomar uma actividade ou quaquer outra coisa que não apetece fazer . Claro , num sentido menos científico do que o da mitologia romana ... mais popular .

Anónimo disse...

Se fosse por mim acho que os cafés fechavam todos. Vai para mais 3 dezenas de anos que não me sento num, seja dentro ou fora dele. Abomino completamente esse conceito.

Anónimo disse...

Texto de quem, à evidência, se sente bem com a vida. Que assim continue, senhor embaixador...

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