Não conheço António Araújo, nem creio ter lido antes nenhum seu trabalho. Mas fiquei impressionado e aprendi imenso com este artigo, que muito me ajudou a "arrumar" ideias e a organizar e moldar algumas perceções a que tinha chegado de forma impressionista.
Alerto já que não se trata de um texto de fácil leitura. É também um trabalho relativamente longo, com alguma densidade conceptual que pode afastar muitos leitores, menos habituados a uma linguagem que releva de alguma prática académica.
Alerto já que não se trata de um texto de fácil leitura. É também um trabalho relativamente longo, com alguma densidade conceptual que pode afastar muitos leitores, menos habituados a uma linguagem que releva de alguma prática académica.
O artigo leva-nos pelo mundo da nova direita, explícita ou subliminar, no Portugal depois de abril, com os seus jornais, as suas revistas, os seus livros, os seus lugares, as suas músicas e até os seus blogues. É um trabalho muito completo. Senti, contudo, que nele talvez falte uma referência a um terreno de algum relevo - a nova historiografia, onde um inteligente revisionismo se insinua e tem vindo a progredir, de uma forma a que há que estar atento. Um ponto interessante é o facto do artigo destacar que a cultura de direita conseguiu, nas últimas décadas, uma muito maior qualidade intelectual e um justo reconhecimento, garantindo hoje um lugar no espaço público. Essa é a sua grande diferença face a uma certa escola antiga, tributária da ditadura, marcada por um tropismo "traulitano", por um reacionarismo pouco sofisticado, por uma espécie de nacionalismo primário e de seita, às vezes de um tradicionalismo bafiento. A nova direita portuguesa, mesmo para a esquerda que com ela convive, tem hoje muito mais graça, mais "mundo" e, não raramente, é politicamente inteligente. Porém, salvo algumas exceções, esta nova vaga de pensamento diretista deixa-se ainda frequentemente ficar, no plano estratégico, ao serviço de agendas partidárias de mero pragmatismo, de adubo doutrinário para alguns tropismos patrimonialistas. Mas não deixa de ser estimulante ter esta nova direita como adversário no domínio das ideias, em contraste com o que acontecia com aquela que, durante décadas, foi titulada por "reaças" e "fachos" sem a menor piada. Como no futebol, é muito mais interessante jogar contra equipas que "dão luta". E ganhar, claro.
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