sexta-feira, dezembro 27, 2013

A outra cidade

Vi-o ontem, a dar comida aos pombos. Deve ter cerca de 80 anos. Na Vila Real da minha adolescência, um tempo em que a homofobia tresandava na sociedade portuguesa, era objeto regular de sorrisos irónicos, quando não de "bocas" soezes, ao cruzar, com passos curtinhos e andar bamboleante, os nossos grupos de adolescentes, "armados" em machistas. Viamo-lo passear sozinho ou com outro amigo de perfil público similar. Às vezes, perdia-se com soldados "do 13", pelos caminhos do Circuito. Fazia então parte de um grupo de figuras que viviam num outro mundo, nessa sociedade de província que, nos anos 50 e 60, deve ter sido um espaço asfixiante e trágico para quem era forçado a desafiar a "normalidade" instalada. Esta é também uma imagem, bem menos gloriosa mas seguramente inevitável para a época, da cidade da minha juventude.

7 comentários:

patricio branco disse...

pois, fazem parte do panorama social de todas as vilas/cidades, personagens que se caracterizam por alguma particularidade, costume, aspecto, diferença, comportamento, preferencias sexuais, maneira de vestir, falar, habitos, etc.
pois era assim, e cada tempo com o seu comportamento em relação a esses personagens...

Anónimo disse...

Até Sting,numa sua música, retratou uma destas figuras em Nova York. Até naquela cidade livre se podia encontrá-los.

Anónimo disse...

Existem em todas as cidades pessoas com dificuldades em aceitar determinadas diferenças de orientação.
Às vezes chega a constituir-se o seu próprio Handycap...
Isabel Seixas

Anónimo disse...

Lembro-me de uma criatura semelhante, em Lisboa. Costumava andar pela Av. de Berna, ainda no tempo em que o sítio onde está a Univ. Nova era um... quartel. Os gestos efeminados, o andar bamboleante, a cara sempre ostentando um largo sorriso. Ao passar pela porta do quartel, tudo era ainda mais exagerado. Passava uma imagem de promiscuidade a que poucos eram indiferentes. Insultos não se ouviam mas havia sempre quem comentasse "lá vai aquele".

Misturar homofobia com o desprezo que semelhantes pessoas provocam está errado. Com um mínimo de esforço lembramo-nos de figuras públicas homossexuais que nos merecem todo o respeito ao mesmo tempo que outras nos provocam repúdio pelos "tiques" que apresentam.

São disse...

Se me permite assino por baixo, porque a mesma tragédia (que , penso, ainda se manterá na província)vi eu viver em Setúbal.

Só não sei se ainda será vivo: onde quer que esteja desejo-lhe paz !

Os meus cumprimentos.

Anónimo disse...

Catinga disse...
..."uma imagem de promiscuidade"
... nos provocam repúdio pelos "tiques" que apresentam.

Eu Digo:
Pois É! Devia continuar tudo debaixo do pano... , e assim se cumpria Portugal.
Bom Ano e Parabéns para o nosso anfitrião.
Maria Helena

Anónimo disse...

Maria Helena,

Estava aqui a pensar que é pena que o seu comentário não tenha ficado debaixo desse tal pano...

Quanto à referência a Portugal, é triste.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...