quinta-feira, janeiro 02, 2014

Viena

Durante anos, dava-me algum trabalho conseguir assistir em direto, na televisão, ao concerto de Ano novo que, em cada dia 1 de janeiro, a orquestra filarmónica de Viena executa no Musikverein, a mítica sala da capital austríaca. Às vezes não estava em casa, noutras tinha por lá gente, outras ainda andava em viagem. Os sistemas de gravação automática dos canais de cabo permitem-nos agora ver o espetáculo quando nos apetece, o que nos deixa sem desculpa para não assistir a um dos grandes momentos do ano musical à escala global. Foi o que fiz ontem à noite.

Quando vivi em Viena, nunca por lá passei os períodos de fim-de-ano, pelo que também nunca me vi obrigado a lutar para obter entradas para este concerto. Fui ao Musikverein diversas vezes, a mais curiosa das quais terá sido num dos meses iniciais de 2003, para o "Ball Der Industrie und Technik", um dos grandes bailes anuais da capital austríaca. Apesar de ser um "pé-de-chumbo", lá engalanei a labita de grã-cruzes para o evento, como é de regra. O Musikverein é uma das salas de espetáculo mais fascinantes que conheço, pelo que, confesso, tive pena de nunca ter estado, ao vivo, num seu concerto de Ano novo. Participar no tradicional acompanhamento, pelos espetadores, da marcha Radetzky, de Johann Strass, a tradicional última peça do concerto, foi algo que (ainda?) me ficou por fazer.

Viena foi um posto diplomático que me deixou "mixed feelings". Em 2002, fui para lá viver contra a minha vontade, interrompendo inopinadamente o trabalho que estava a fazer noutras funções. Coube-me então a responsabilidade de dirigir uma imensa representação nacional (só entre diplomatas, militares e técnicos vários, éramos, creio, 18 pessoas, além do pessoal administrativo), num período complexo, durante a presidência portuguesa da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa). Saído dessa tarefa intensa, passei, de um dia para o outro, e contrariamente ao que estava acordado, a um período que costumo qualificar como a minha "osceosidade". Porque estar sem praticamente nada para fazer se coaduna muito pouco com o meu feitio, optei por me dedicar a palestrar sobre um tema bem especioso, as chamadas CSBM ("Confidence and security building measures"). Em representação e a expensas da OSCE, andei então por sítios tão diversos como Trieste, Astana, Tóquio, Amman, Varsóvia, Tbilisi, Seoul ou Charm-el-Sheik, entre outros. Se Portugal me dava uma indesejada sabática, aproveitei para viajar e trabalhar. E, nas folgas, ouvir música.

Lembrei-me ontem disto e de muito mais ao ver e ouvir o magnífico concerto vienense de Ano novo, sob a direção de Daniel Barenboim.   

14 comentários:

Anónimo disse...

Isto sim é um exemplo concreto de sectarismo que o Senhor Embaixador experimentou na pele, com prejuízo para Portugal.
Cada vez mais penso que o sectarismo em Portugal, isto é a linha propugnada por um grupo ou líder de um grupo destinada a marginalizar alguém acaba, muitas vezes, por nem sequer ser guiado por uma motivação ideológica ou política, mas apenas pela volúpia de concretizar o ajuste de contas, pelo desejo da retorsão ou pelo instinto básico de relegar para plano secundário o concorrente óbvio.
No MNE onde há noites de facas longas estes episódios mesquinhos grassam sem que alguma vez cheguem ao conhecimento das hierarquias, mas que acabam por ter uma efectiva responsabilidade ao promoverem pessoas de duvidosa reputação.
Há dias ouvia na sic uma personagem que numa paragem extrema dizia a cada passo para se auto-louvaminhar dos feitos para o novo posto nomeado sem concurso: "eu faço, eu aconteço, eu, eu,eu". Foi pena que nenhum embaixador em início de carreira lhe tivesse ensinado que, por acaso, já agora, em primeiro lugar, se representava Portugal. Os tiques de personalidade podiam vir a seguir, se...

Anónimo disse...

Eu bem me parecia que nessas organizações OSCE, Conselho da Europa e quejandas não se faz nenhum! Olhe o Sr. Alcipe a escrever livros todo o tempo… Como dizia o chefe de gabinete do ministro Poincaré sobre Paul Morand "se tem tempo para escrever livros é porque não trabalha". Cambada de privilegiados ociosos, o *** (de quem não posso falar, mas que até é da oposição) é que vos topa. Isto comigo é assim, Senhor Embaixador, pão, pão queijo, o meu tio é que vos tratava bem demais… Atenciosamente

a) Marcolino da Mata, sempre activo e nunca osceoso

patricio branco disse...

andanças da vida com musica pelo meio

Defreitas disse...

Também assisto , através da TV, há mais de 20 anos a este concerto do Novo Ano na Musikverein - Grand Salle (Salle d ´or) de Viena. Ontem, também assisti . Daniel Barenboim, quis absolutamente cumprimentar cada membro da orquestra, ao som da "Radetzkymarsch". Foi muito simpático e algo insólito esta volta da orquestra , bem à sua imagem e da música dos Strauss. Que belo exemplo de fraternidade entre todos os homens.
Tenho uma simpatia particular por Barenboim.O que não retira nada às actuações dos seus predecessores, Karajan, Zubin Metha ou Georges Pretre, que dirigiram em anos precedentes este concerto de Viena.

Mas Barenboim, teve aquela iniciativa , que não agradou a toda a gente, de unir para a musica e a concórdia 80 instrumentistas de Israel, da Síria, do Egipto, da Jordânia e dos territórios da Palestina. Para a música, até conseguiu dirigir Wagner em Israel . Barenboim vive para a música, é um grande adepto da paz, do humanismo e da luta contra todas as segregações.

Este concerto do Novo Ano, que acompanho há anos, ajudou-me a esquecer uma certa antipatia que nutria desde o fim da guerra pela Áustria de Hitler, Kurt Waldheim e tantos outros!
Só é pena que os 2 000 bilhetes para este concerto estejam fora de alcance, sobretudo quando existem 70.000 pedidos todos os anos. E mesmo para os lugares de pé, os 300 euros talvez valessem a viagem.

Anónimo disse...

Para começar bem 2014:

COMO INICIAR UM DISCURSO INTELIGENTE.

Um exemplo de oratória e habilidade política, ocorrido na ONU, fez sorrir toda a comunidade mundial ali presente.

Falava Benjamin Nataniau, representante de Israel na ONU:

"Antes de começar o meu discurso, quero contar-lhes algo inédito sobre Moisés. (todos ficaram curiosos).

Quando Moisés golpeou a rocha com seu cajado e dela saiu água, pensou imediatamente":
“Que boa oportunidade para tomar um banho!
Tirou a roupa, deixou-a junto da pedra e entrou na água.

Quando acabou de tomar banho e quis vestir-se, a roupa tinha desaparecido!

Os palestinos tinham-na roubado!"

O presidente do Irão levantou-se furioso e gritou:

"Que mentira idiota e descabida! Não existiam palestinianos naquela época", todos os palestinianos presentes concordaram, aplaudindo.

O representante de Israel então sorriu e afirmou:

"Muito bem... então, agora que ficou bem claro quem chegou primeiro a este território e quem foram os invasores, posso enfim começar o meu discurso..."

Alexandre

Anónimo disse...

Vê-se que mudou o aspecto do blog. Que quadro é o da imagem? Bom Ano, caro Seixas.

CSC

Anónimo disse...

Estes caracteres tipográficos que agora Vossa Excelência usa empastelam a vista para confundir as mentes. Aqui d'El Rei!

a) Henrique de Menezes Vasconcellos (Vinhais), após visita às urgências de Oftalmologia

C.Falcão disse...

Um grande espéctaculo de musica classica. Magnifico!
Com um imenso maestro e uma grande orquestra.

2013, com a prova dos nove tirada, o rescaldo é positivo ! 2014, novo ano, novas circunstãncias ?... Sera que vai aplicar uma resolução para cada manhã do ano novo ? E a "ritual ideia"?
Finalmente, 2014 é um novo ano para ser feliz todos os dias. Tarefa ardua.

Passe bem
C.Falcao

Anónimo disse...

A minha visão melhorou consideravelmente. Querem o endereço do meu oftalmologista?

a) Henrique de Menezes Vasconcellos (Vinhais)

Defreitas disse...

Ao Sr. Alexandre:

Um Judeu e um Chinês estão calmamente sentados num banco do parque. De repente, o Judeu levanta-se , passa por trás do Chinês e dá-lhe um grande safanão. " Isto é para o ataque de Pearl Harbour." E o Chinês responde: Ah, mas Pearl Harbour foram os Japoneses ?. O Judeu diz: " Chineses e Japoneses, é a mesma coisa."
O Judeu voltou tranquilamente sentar-se. Então o Chinês aproximou-se por trás do Judeu e deu-lhe um safanão igual. "Isto é por ter afundado o Titanic. " E o Judeu de responder: "Mas o Titanic, foi um iceberg que o afundou?". O Chinês: "Iceberg, Goldberg, Greenberg, é a mesma coisa."

Moral da historia: Quando se é inteligente pode-se adaptar o discurso às conveniências, como Netanayou.

Defreitas disse...

A minha visão melhorou consideravelmente.

a) Henrique de Menezes Vasconcellos (Vinhais)


Boas noticias, Caro Senhor ! «Il faut de la visibilité pour relancer le marché»

Anónimo disse...

Eu, homem de sorte durante toda a vida ( até agora, pelo menos, e "pourvu que ça dure" ) mesmo quando achava que não a tinha, pude assistir ao vivo a três concertos de ano Novo no Musikverein. Dois deles foram absolutamente geniais ( o de Karajan e o primeiro do dois de Carlos Kleiber ). O terceiro ( Mariss Janssons) foi menos bom mas o ambiente estava lá. Cheguei das três vezes a Viena sem bilhete e consegui sempre entrar. Nunca mais me esquecerei deste privilégios, que são também imunidades para os momentos piores da existência. Bom Ano! JPGarcia

Anónimo disse...

Os sucessivos concertos do ano novo vienense são uma das boas recordações que eu tenho das quadras festivas da minha infância.

Pouco ligava à música, mas a mesa farta, a família em casa, o chá quente e o pão com manteiga (de vez em quando, também uma "madalena"), ligavam muito bem com aqueles senhores vestidos a rigor que via pela televisão.

De resto, Viena, pelo que presenciei nos últimos anos, parece-me uma cidade anacrónica, tensa, estranhamente rica, demasiado vigiada e sempre bela.

Quanto aos bailes que por lá se realizam e que monopolizam as televisões e os jornais, parecem-me de indiscutível mau gosto. Música pimba em versão concerto, cheios de patos bravos e de gente absolutamente decadente (no pior sentido). Comparando, lembra-me o Tango com duplos mortais empranchados à retaguarda.

Luisa Pacheco disse...

Há vários anos que tento através da minha candidatura durante o periodo em que estas estão abertas 2 a 26 de janeiro de cada ano a um dos bilhetes que são disponibilizados ao comum dos mortais.
Até hoje ainda não consegui mas a esperança é a última a morrer. Luisa pacheco

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...