Governantes
empolgados louvam a importância das exportações para a nossa economia. Em
encontro com a diáspora de sucesso, o chefe do Estado sublinha a necessidade da
promoção externa do país, com vista a cativar o investimento estrangeiro. Os empresários
turísticos afadigam-se a explicar que Portugal deve promover a sua oferta em
cada vez mais mercados. Todos entendem decisivo garantir a valorização do actual
esforço financeiro português junto dos nossos parceiros e instituições.
As relações com antigas
colónias degradam-se, sendo necessário sustentar persistentes esforços de diálogo,
em várias dimensões, para as reconduzir à normalidade. Empresas portuguesas
expandem a sua actividade em novos mercados, nos quais importa acompanhar com
atenção a sua presença e a dos seus trabalhadores. A emigração portuguesa
aumenta exponencialmente para vários países, em números que se equiparam aos
dos anos 60 do século passado, requerendo esses novos migrantes e suas famílias
apoio e aconselhamento consular.
Escritores,
artistas e figuras da intelectualidade portuguesa são hoje admirados pelo
mundo, sendo vital aproveitá-las como “soft power” de prestígio para
recuperação da imagem do país. A CPLP, sendo a única instância multilateral
onde Portugal tem uma posição nuclear, deve funcionar como alavanca para a
promoção da língua portuguesa, que tem no ensino no exterior um dos veículos
essenciais. Uma política para o mar, onde Portugal dispõe de vantagens
comparativas à escala de uma potência, obriga a um esforço multilateral de
grande envergadura.
Elenquei alguns
dos muitos desafios que competem hoje à nossa diplomacia. A acção externa
revela-se um dos terrenos essenciais onde Portugal pode encontrar soluções para
a superação das suas debilidades, para ajudar à recuperação da sua soberania e
imagem.
O “Seminário
Diplomático” que ontem e hoje decorre, reunindo governo e diplomatas, vai, com
toda a certeza, trazer respostas concludentes para o facto de um Ministério que
já tinha uma das mais baixas dotações do Orçamento Geral do Estado (inferior a
1%), nele ter sofrido um dos maiores cortes de todos os departamentos oficiais
(11,2%). Vai também, estou certo, explicar porque tem vindo a diminuir drasticamente
o número de diplomatas, técnicos e funcionários administrativos do MNE, em
Portugal e na nossa rede externa. Deve, seguramente, dar conta clara da
racionalidade subjacente à redução e descapitalização funcional de postos
consulares em tempo de maiores migrações, à diminuição dos professores junto
dessas comunidades emigradas, à imensa quebra das verbas atribuídas ao Camões
para a ação cultural. E permitirá, não tenho a menor dúvida, fazer entender o
modo como a redução das quotizações e contribuições devidas às organizações
internacionais se torna consequente com uma política externa capaz de estar à
altura da defesa dos interesses do país. Estou certo que o “Seminário
Diplomático” vai esclarecer tudo isso. Até lá, continuará o mistério dos
Negócios Estrangeiros.
* Artigo que hoje publico no "Diário Económico"
5 comentários:
Descontada a manifesta falta de habilidade e falta de sentido político de um ministro manifestamente inábil e desajeitado, o PS teria condiçôes para fazer uma diferente gestão de recursos humanos? Mobilizaria gente mais qualificada para por à frente de Embaixadas? Promoveria mais mulheres para Chefes de Missão? Teria mais força para bater o pé aos interesses perversos e resistir aos barretes da corporação que propõem à hierarquia gente duvidosa para lugares de responsabilidade? Dariam mais conteúdo político à acção do MNE? Promoveriam de forma mais eficaz o potencial das diásporas e dos imigrantes que regressam de Portugal aos seus países de origem? Nivelariam as relações de Portugal com os seus parceiros lusófonos para patamares decentes? Poriam gente mais qualificada na REPER para promoção dos portugueses nas instituições europeias? Dariam ao MNE o papel de verdadeiro articulador da diplomacia económica e os meios correspondentes? Eu gostaria de pensar que sim e não que isto fosse mero wishful thinking...
Caro Anónimo das 02.13. Este não é um debate sobre quem faria ou não melhor. O que eu gostava é que alguém respondesse a esta simples questão: num momento em que é no exterior que as soluções para Portugal se encontram, qual é a racionalidade do MNE ter sido mais sacrificado, em termos orçamentais, que qualquer outro ministério, quando é uma realidade que a sua fatia do OGE é uma gota de água no oceano? Há dinheiro para mandar um (oportuno) conselheiro policial para Paris, mas não o há para ter por lá um conselheiro cultural?
A questão básica é a do poder. E o poder no que respeita aos Estrangeiros não está nas Necessidades mas sim para os lados do Jardim Zoológico. Se e quando o poder voltar ao MNE, talvez haja algum " leverage" para este último conseguir ganhar as batalhas de que fala o Senhor Embaixador, a começar pelo aumento do respetivo orçamento. Até lá, suspeito que só ouviremos " words, words, words " quase sempre sem efeito prático, inconvenientes ou desajustados da realidade, para estupefação dos portugueses e incredulidade das Embaixadas estrangeiras em Lisboa.
Temos uma Diplomacia a condizer com esta austeridade e com esta falta de imaginação política.
É o destino, como dizia o fado.
É, sem dúvida, uma mistério o facto do ministério dos negócios estrangeiros ser o que mais sofre com os cortes do OE2014. Aquando da chegada do Doutor Paulo Portas, a diretiva do novo governo era a da aposta na Diplomacia Económica e do papel vital das Embaixadas de Portugal. 2 anos depois, e após a crise política de junho de 2013, o que é feito dessa teoria ?
Segundo o que leio na imprensa, embaixadas e consulados são fechados ( alguns em França e o de Andorra)e vários embaixadores (por exemplo o Excelentíssimo Embaixador Tadeu Soares)tem alertado para a falta de pessoal qualificado na rede externa do ministério dos negócios estrangeiros. De forma a colmatar essa falta, o governo/ministério elaborou uma rede de estagios curriculares em várias embaixadas e serviços do MNE. Não tenho dúvida que os estágios são uma excelente oportunidade de desenvolvimento pessoal e profissional, porém não acredito que seja a melhor forma de colmatar as falhas e lacunas do MNE. Espero que os nossos diplomatas continuem a fazer o seu excelente trabalho e dignifiquem o nome de Portugal. Em relação ao adido cultural, creio que a vaga será preenchida com um estágiario não remuderado em Paris. A informação poderá ser consultada no seguinte link, no qual encontrará ( o leitor ) todos as posições disponiveis para os estagiárioshttp://idi.mne.pt/images/estagios/estag_set13_mar14_ext.pdf.
Desejos de um excelente ano a todos os leitores e ao senhor Embaixador Seixas da Costa.
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