Não era muito dada a "futebóis", embora fosse uma discreta adepta do Futebol Clube do Porto. O marido pedira-lhe para o acompanhar a Lyon, onde os portistas disputavam um jogo com o Olympique local. Acedeu, com a condição de não ir para a tribuna, à qual o marido tinha direito de acesso, mas onde, no passado, ela nunca se sentira excessivamente bem. Assim, concordaram em utilizar bilhetes na bancada.
À chegada ao estádio, o casal foi surpreendido, contudo, pelos lugares que lhes haviam sido atribuídos: a zona da claque portista, dominada pelos "Superdragões". Depois de algum receio inicial pelo inusitado da companhia, ela acabara por achar a experiência algo divertida, naquele ambiente marcado por uma imensa tensão entusiástica, com uma sonoridade agressiva tingida pelo léxico nortenho, dessa vez algo atenuada pelo facto da partida ter sempre corrido de feição para o clube.
No final do jogo, a bancada dos "Superdragões" mostrava-se exultante e desejosa de abandonar o estádio. Porém, como sempre acontece neste tipo de eventos, e por razões de segurança, fora pedido aos adeptos do FCP para permanecerem nos seus lugares por uns minutos mais, a fim de proceder à sua saída organizada em direção aos autocarros, já depois de estar garantido o afastamento dos adeptos lioneses. Não era fácil para a claque portista aceitar aquela forçada clausura, entre gradeamentos fortes. As "bocas" dirigidas aos responsáveis pela segurança local eram, felizmente, intraduzíveis.
Sossegada em definitivo pelo animado curso dos acontecimentos, a episódica integrante da claque anotava discretamente os comentários, nessa noite feliz para as hostes azuis - talvez imaginando o que eles seriam se acaso o Porto tivesse perdido! Foi então que ouviu, de um adepto mais impaciente, desejoso de sair rapidamente daquela espécie de jaula, num sotaque inconfundível: "Bámus lá! Abride isso, carago! Atáum num fuâram bociês que inbentárum o "passe-vite" "?
Sossegada em definitivo pelo animado curso dos acontecimentos, a episódica integrante da claque anotava discretamente os comentários, nessa noite feliz para as hostes azuis - talvez imaginando o que eles seriam se acaso o Porto tivesse perdido! Foi então que ouviu, de um adepto mais impaciente, desejoso de sair rapidamente daquela espécie de jaula, num sotaque inconfundível: "Bámus lá! Abride isso, carago! Atáum num fuâram bociês que inbentárum o "passe-vite" "?
A "boca" perdeu-se no barulho coletivo, mas a sua divertida recordação ficou a marcar essa rara visita conjunta do casal a um estádio de futebol.
No dia subsequente àquele em que o Porto pode ter perdido na Madeira a revalidação do título, aqui fica esta historieta, que me foi contada, há dias, pelo marido da protagonista, numa conversa divertida por cima do Atlântico.