quinta-feira, fevereiro 28, 2013

Ainda a língua portuguesa

A nossa língua continua a ser tema recorrente de debate. E ainda bem. Ontem, intervim no I Congresso Internacional de Língua Portuguesa, uma oportuna iniciativa do Observatório da Língua Portuguesa, com participação de representantes de vários Estados em que o português se fala. 

Foi um interessante momento de discussão sobre o modo de promover o estatuto internacional da terceira língua europeia mais falada no mundo, a língua mais falada no hemisfério sul - para usar duas imagens utilizadas por Guilherme Oliveira Martins, que moderou o painel em que participei. Deixei várias "dicas" para o trabalho junto das organizações multilaterais, à luz da minha experiência.

A realidade é que, já hoje, "o crescimento económico fala português", como sugestivamente lembrou a minha companheira de debate, a professora Maria Isabel Tavares. Quando, durante a sua intervenção, mencionou 1973 como o ano em que o árabe ganhou o estatuto de língua oficial das Nações Unidas, não pude deixar de recordar que esse foi precisamente o tempo do "choque petrolífero", em que o mundo percebeu melhor a sua dependência face ao petróleo dos países do Golfo. É que a força institucional das línguas depende muito do poder económico dos países que as falam e as impõem.

13 comentários:

Anónimo disse...

O Árabe é língua oficial em mais de vinte países. Isso faz toda a diferença.

Nós, além de termos poucos países, ainda nos preocupamos a arranjar diferenças e a promover o "Brazilian Portuguese" e o "Iberian Portuguese" e que outras fantochadas.

O Alemão é uma mistura de "dialetos" (vários ininteligíveis entre si), e ninguém se atreve a por em causa a "unidade" da língua. Aprendam com eles.

Defreitas disse...

O Sr. Embaixador escreve : "É que a "força" das línguas depende bastante do poder econômico dos países que as falam e as impõem."
Talvez seja necessário acrescentar : " e do poder militar" ! Por isso o mundo vive através do dólar. Que é a verdadeira língua universal!
A moeda não é nada mais que um reconhecimento de divida. Alguém paga um serviço com um "papel" que diz: " aceito de dar ao portador um bem que tem tal valor", isto é o valor do bem adquirido. Quando se utiliza este "papel" para adquirir algo doutro, é que alguém aceita de dar um bem que tem o mesmo valor.
Quando os USA compram bens no mercado internacional, eles pagam em dólares. Munidos destes dólares os fornecedores podem reclamar aos USA outros bens em troca. O circuito está fechado. Os USA forneceram bens dum certo valor em troca de bens de valor comparável.
O problema é que só se pode comprar petróleo com dólares ! Um pais que quer comprar petróleo está condenado a oferecer bens aos USA contra dólares e a utilizar estes para comprar petróleo.
Os países exportadores de petróleo só exportam praticamente que petróleo. As únicas divisas que têm são os dólares. O que compram ao estrangeiro será portanto pago em dólares, que servirão para comprar petróleo ... O circuito está fechado. Os dólares não voltarão mais aos USA e os USA podem continuar a imprimir mais dólares que não correspondem a nenhum compromisso deles.
O que se chama moeda falsa!
Aquilo que os USA compram com esta moeda de "singe" não lhes custa nada. Os bens comprados com moeda de "singe", quem os pagou? ou antes quem os vai pagar? O crescimento da economia mundial faz-se a crédito, que se assemelha cada vez mais a uma "batata quente" ! Ou a "batatas quentes", cada vez mais numerosas, que uns procuram passar aos outros.
Esta mecânica funcionará enquanto que o consumo de petróleo continuará a aumentar e que os países exportadores de petróleo se farão pagar em dólares. E não creio que haverá algum que quererá fazer-se pagar noutra moeda, porque o ultimo que experimentou abandonar o dólar, encontraram-lhe AMD's em casa !
Entretanto, o pais que tem os défices colossais , orçamental e comercial, mais elevados no mundo, a maior divida jamais igualada, continua a imprimir a moeda do planeta, importando-se pouco que o nosso euro, demasiado forte, nos ponha de tanga na competição internacional.
E mesmo se fôssemos o dobro a falar a língua portuguesa no mundo, isso não traria nenhuma alteração a esta situação de domínio imperial do "inglês" !

J. de Freitas
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A. disse...

O poder também se exerce através da língua.
Por isso, as potências dominantes impõem a sua língua àqueles que dominam, como fizeram os colonizadores.
Por isso, o português só foi, verdadeiramente, uma língua universal, uma língua franca, no séc. XVI, quando projectava o seu poder, sobretudo na Ásia.
Veja-se a rápida decadência do francês que, em poucos decénios, viu desaparecer a sua quase-paridade com o inglês.
O número de países que utilizam oficialmente uma língua não é relevante; o mandarim só se fala, oficialmente, em dois países.
Ao português resta apoiar-se nos países emergentes que o falam, tanto mais que demografia é mais uma "inimiga" do português europeu

Anónimo disse...

"A."

A sua frase...

"O número de países que utilizam oficialmente uma língua não é relevante; o mandarim só se fala, oficialmente, em dois países."

... acaba por me dar razão. O mandarim tem alguma importância?

Anónimo disse...

Snr. Embaixador,

uma das coisas que talvez ajudasse a difusão e o prestígio da nossa língua, era ser sempre utilizada pelos nossos governantes quando falam em público, em Portugal e no estrangeiro. Ora, o que se verifica, é muitas vezes exactamente o contrário... Ainda anteontem, o ministro dos estrangeiros comprazeu-se a falar em castelhano, quando podia (havia certamente tradução simultânea e se não havia, devia haver!) e devia falar em português. Alguém se lembra de um ministro espanhol falar em português, quando está em Portugal? Nem sequer os jogadores de futebol o fazem, alguns já com anos de permanência entre nós... É esta atitude de "facilitação", de "deixa andar" que prejudica o prestígio e difusão da nossa língua. Paulo Portas - e tão nacionalista que ele se afirmava, em tempos que já lá vão... -, perdeu uma excelente oportunidade de, em Madrid, fazer alguma coisa pela difusão da nossa língua.
Esperemos que uma certa leitora assídua deste blogue lhe explique, com maternal autoridade, o disparate que fez e que seria bom que não repetisse.
Com os habituais melhores cumprimentos,

A. Costa Santos

Helena Sacadura Cabral disse...

Concordo plenamente com o comentário de Defreitas.

Helena Sacadura Cabral disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Helena Sacadura Cabral disse...

Errata: A. Costa Santos. Recebido e entendido. A autoridade maternal é que , como o país, já não é o que era!
:-))

Anónimo disse...

"A. Costa Santos",

Tem toda a razão! Mas não há nada a fazer: o tuga é assim mesmo, independentemente do cargo que ocupe. Pois não vimos Jorge Sampaio ser chamado à atenção por Lula da Silva porque insistia em falar Castelhano numa cimeira iberoamericana?

Há pouco tempo, não vimos o governador do Banco de Portugal fazer uma triste figura em Madrid, falando aquela ridícula mistura de português com uma coisa que se imagina ser "espanhol"?

O português, quando confrontado com um hispânico, perde logo as "peneiras". É como se, no nosso ADN, estivesse implantado um gene que nos diz sermos um subroduto ibérico.

Anónimo disse...

Aprendam mas é Mirandês que é para verem se conseguem um lugarzinho na próxima "máquina" socialista...

http://www.dn.pt/politica/interior.aspx?content_id=3072208

patricio branco disse...

a promoção e internacionalização do português depende muito do investimento que se faz para se conseguir isso, sem investimento nada feito, logo, o futuro a curto e médio prazo da lingua portuguesa no mundo pertence em grande parte ao brasil

Gilrikardo disse...

Desde quando me apercebi neste mundo, ouço falar que a língua é dinâmica, que a língua é feita pelo povo, assim é fácil entender as diferenças que emergem a cada ajuntamento de pessoas. Aqui no Brasil mesmo, se eu da região sul utilizar as palavras regionais para entender-me com alguém do norte, é quase impossível. Mas em nome da unidade da pátria e redação das leis que deverão nos conduzir, mantemos e aprendemos o "idioma oficial". Assim, não acredito que essa unificação perdure, não há necessidade que nos obrigue a conectar-se com os demais países de língua portuguesa. Ou quem sabe, lá se vão meia dúzia de diplomatas, e aqui dentro da aldeia ficam 210 milhões treinando linguajar próprio.

Julia Macias-Valet disse...

"o crescimento económico fala português"
é pena é que a economia portuguesa não fale crescimento !

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