domingo, fevereiro 17, 2013

Boas notícias

Ontem, ao ver a imensidão de vidros partidos na Rússia, por virtude do meteorito, lembrei-me de um colega, de um determinado ministério, que comigo fazia parte de um grupo de trabalho criado para as relações com os países árabes, nos idos de 76 ou 77, do século passado.

Nesse grupo técnico, procurávamos explorar as possibilidades de trabalho e os "appels d'offres" que íamos recolhendo, informando as empresas e gizando o apoio que podíamos mobilizar através das nossa incipiente rede de embaixadas na área, bem como das Câmaras de Comércio, em que então muito nos apoiávamos. É que, acreditem ou não, a diplomacia económica já de fazia por esses dias... e antes.

A sala de reuniões das "Económicas" do MNE acolhia esse nosso encontro. O tal colega foi dando a sua contribuição para os pontos de situação que fazíamos, país a país, aproveitando o bom ambiente de que Portugal beneficiava da parte desses Estados, como ressaca positiva do 25 de abril. A sua área técnica era muito específica, ligada aos transportes, razão pela qual todos ficámos um pouco surpreendidos quando o vimos intervir sobre uma questão de puro comércio externo:

- Um país onde temos de aproveitar as oportunidades novas que surgiram é o Líbano. Há novos nichos de mercado para certos setores da produção industrial nacional que é preciso explorar já! 

À volta da mesa, ficámos curiosos. Não tinhamos nenhuma informação nova sobre o Líbano, embora então houvesse uma embaixada portuguesa em Beirute, pelo que o representante do Fundo de Fomento de Exportação - antecessor do atual AICEP -, perguntou a que é que, em concreto, ele se referia. A resposta foi esclarecedora:

- Então não viram na televisão? Ontem rebentaram por lá várias bombas, em vários locais. Dizem que está tudo escaqueirado. Parece que os vidros de vários bairros desapareceram por completo. Vocês não acham que isto são excelentes notícias? Temos de alertar a Covina!

A sala rebentou em riso, mas o nosso homem não parecia perceber porquê: mas então a ideia não era boa?

13 comentários:

Anónimo disse...

Quantas não terá guardado na mala, como esta?! Há algumas que só mesmo depois de passar algum tempo, numa hora de tertúlia se tornam pura diversão...

Anónimo disse...

A ideia de explorar os vidros partidos no Líbano ou em qualquer zona devastada pela guerra pode ser cruel. Mas nas perspetivas de comércio, também pode ser rentável!
Li, embora tudo quanto se escreve não sejam só verdades, que antes ainda da América invadir o Iraque, com a benção do governo português de então, (nunca me senti tanto em harmonia com a politica da França - e do Chirac - como aqui) já havia diplomatas e gente de negócios a fazerem cálculos de "escolha" de empresas que iriam reconstruir Bagdade...
Assim, ainda as louças não tinham ido pelos ares, já se falava de negócios: as pontes sobre o tigre serão para mim, os aeroportos serão para ti, os prédios dos Ministérios e os arruamentos serão ...
E o que é que Portugal foi depois reconstruir?
A ideia pode ser cruel, mas na perspetiva de comércio...
José Barros

Anónimo disse...

Acho que o ministro da economia já
está na Russia.

Anónimo disse...

Claro que era uma ideia fora do contexto.

O seu post lembra-me o que se passou á tempos com o banco alimentar na pessoa de Isabel Jonet, "foi assassinada" na praça pública pelo que disse.

Se o banco alimentar tivesse o "patrocínio" da esquerda bem pensante ou da "caviar" mais "up to date", nada disso teria acontecido!
A "verdade", neste país pertence sempre à dita esquerda, nem que para isso distorçam a realidade!

Alexandre


Fernando Moura Santos disse...

Ao ler esta historia deliciosa, lembrei-me daquela do secretário de estado dos transportes que afirmou publicamente, quando a ponte acabada de construir da Figueira da Foz apresentou defeitos de construção, que era positiva a sua reparação porque daria muitos empregos...

Anónimo disse...

Claro que a ideia pode ser "cruel", mas pelo menos lembrou-se de uma empresa nacional e não deixa de estar implícita a oportunidade de negócio.

Caro Alexandre, sendo apartidária, estou completamente à vontade para discordar do seu comentário porque se há a "esquerda bem pensante ou da "caviar" mais "up to date"... também há a direita benzoca dedicada à caridadezinha para comungar aos domingos e temer as "brazinhas" do Inferno.

Isabel BP

P.S. Sou católica não praticante.

Anónimo disse...

Fiz eu isso há quanto, quando pus putos a partir vidraças, para o charlot, vidraceiro, ir reparar.

a) Charlie Chaplin

Anónimo disse...

Mais requintado ainda é destruir para haver necessidade de reconstruir...
Charlot, em filme, foi percursor.
xg

patricio branco disse...

é preciso saber detectar as oportunidades, assim são os bons profissionais da venda...

Defreitas disse...

O Sr. José Barros tem razão : As guerras, desde sempre , foram oportunidades de "business"! Antes e depois ! Mesmo mais: quantas guerra foram desencadeadas "só" para fomentar o "business" ? Quem não se recorda das duas guerras do ópio lançadas contra a China pelos ocidentais ? Do tratado de Nanquim, após a primeira guerra, que resultou na abertura "forçada" de 5 portos aos mesmos ocidentais, para abrir a porta do comércio! E da segunda guerra que levou os exércitos ocidentais até às portas de Pequim, ao incêndio e à pilhagem do Palácio de Verão?

Sabe-se bem que as oportunidades de negócios florescem desde que as hostilidades cessam. Dizemos em França que as 30 gloriosas começaram à saída dos 4 anos de ocupação! E a América nunca foi tão rica que após o fim da guerra de 45.

Haliburton nunca ganhou tanto dinheiro que durante a guerra do Iraque. Mesmo a água para os GI vinha da América. Quanto à reconstrução, que maná !
Hoje o novo eldorado é a Líbia ! Tudo para refazer!

Por isso mesmo, uma situação de perigo de guerra existe quando as possibilidades de fazer "negocio" rareiam.
Por exemplo, é completamente louco de pensar que os Estados Unidos poderiam encontrar-se em "default" de pagamento das suas obrigações, na medida em que é impossível de o quantificar. Mas se isso fosse realmente possível, seria perigoso para o mundo. A despesa atual dos americanos é de 2 200 biliões de euros. O défice é financiado em grande parte pelo aumento da divida do Estado. Cada mês a divida do Estado aumenta de mais de 90 mil milhões de euros para o serviço da divida corrente. Desde o fim do ano passado, o "plafond" atingiu os 12 000 biliões de dólares. Se as agências de notação baixam a nota em 2013, como se receia, as despesas da divida aumentariam e a divida ela mesmo também.

Imaginemos as conseqüências dum "default" de pagamento dos EU : contas das obrigações bloqueadas, queda das bolsas, PIB mundial em queda livre, dólar em pane, mercado das matérias primas inerte, e filas às portas dos bancos para retirar as economias, inflaçao,etc.!!! Uma guerra é entao possivel.

J. de Freitas

Santiago Macias disse...

Há um outro nicho de mercado a explorar por essas bandas, e que talvez interesse à nossa indústria têxtil: o fabrico de bandeiras. À velocidade a que as queimam nas manifs...

Defreitas disse...

A verdade, Sr. Alexandre, é que a direita governou Portugal durante meio século, sem oposição, e que o caviar era só para alguns, enquanto que a maioria nem pão tinham! Como vê, a verdade não pertenceu sempre à esquerda...

Julia Macias-Valet disse...

Se aquela táctica de atirar os sapatos à tola do adversário tivesse pegado...também teria sido uma boa oportunidade para a nossa industria do calçado :)

Mas nestas coisas do comércio o que estraga tudo é que por vezes ha uns "SE"...

Confesso os figos

Hoje, uma prima ofereceu-me duas sacas de figos secos. Tenho vergonha de dizer quantos já comi. Há poucas coisas no mundo gustativo de que e...