Faz hoje dez anos. Um tropismo seguidista de enviezamento ideológico levou o então governo português, não apenas a acompanhar uma atitude aventureirista da América face ao Iraque, sem qualquer mandato e sob um álibi de mentiras, mas chegou mesmo ao ponto de organizar nos Açores uma cimeira que ficou nos anais mais tristes da vida internacional.
Pela primeira vez, em muitos anos de vida diplomática, senti-me então tentado a expressar publicamente a minha distância face a um lamentável gesto de política externa, porque feito à revelia de uma linha de atuação internacional responsável, que é um importante património em que se sustenta a imagem de Portugal no mundo. Optei por não o fazer, porque, nessa como noutras ocasiões, prezei acima de tudo a lealdade que considerei ser devida ao Estado, independentemente da transitoriedade de quem o titula e tem uma desculpa democrática para o poder comprometer com os seus erros.
Os anos passaram. Tanto quanto se sabe, os responsáveis pelo humilhante "catering" açoreano não fizeram qualquer mea culpa nem pediram perdão ao país pelo modo como o comprometeram com a sua flagrante irresponsabilidade. Convém não perder a História de vista - mesmo a "pequena História", como foi o caso - para a necessária memória futura, que tudo indica virá a ser útil daqui a uns tempos.
23 comentários:
Meu caro senhor, desculpará,mas esperar uma atitude responsável de Durão Barroso demonstra ingenuidade.
Aliás, não houve um elemento desse Governo que afirmou ter visto as provas de armas iraquianas? Alguém o ouviu já a dar uma explicação, pedir uma desculpa?
E dos restantes comparsas nem sequer vale a pena falar, obviamente!
Bom fim de semana
O Durão Barroso terá lata para concorrer a Presidente da República Portuguesa?
Os protagonistas portugueses desse vergonhoso episódio da "pequena história", são eles próprios de pequena estatura intelectual e política.
Um dos membros do Governo de então faria em Julho de 2010, na Assembleia da República, a intervenção que pode ser vista e ouvida aqui:
http://videos.sapo.pt/fqIM4EZZzyGbpoI2Ykmy
Se tivesse um mínimo de honestidade política e de consequente desapego ao poder, há quanto tempo não teria este Maquiavel de pacotilha renunciado ao cargo que tem neste desGoverno?
Voilà, Senhor Embaixador, um "post" que o honra e que me traz remorsos de não ter descoberto mais cedo o seu blogue, por aquilo que aí aprendo e pelo debate que de vez em quando surge sobre diversas matérias.
Não há nada a acrescentar , salvo, talvez, além das desculpas que não foram apresentadas ao povo português pela vergonha que o primeiro ministro de então nos causou, mas também pelo fato que participou numa reunião da qual viria a sair uma decisão que causou a morte de centenas de milhares de pessoas no Iraque e além. A quem nunca ninguém apresentou desculpas.
Sempre perguntei a mim mesmo se o primeiro ministro português não jogou aí a sua carta pessoal para obter o "tacho" da Comissão de Bruxelas, onde continua a servir (!) , desprezando o povo português, mais uma vez, ao abandonar a função para a qual foi eleito em Portugal.
"L'esclave n'a qu'un maître; l'ambitieux en a autant qu'il y a de gens utiles à sa fortune ".
Jean de la Bruyère
J. de Freitas
Faz então 10 anos que o senhor Barroso foi porteiro, nas Lajes!
Durão Barroso foi, deflação, o estalajadeiro submisso e complacente, dos três comparsas maiores.
Mas o "post" refere - e bem - OS RESPONSÁVEIS.
Convém lembrarmos-nos que havia outros (e não menos entusiastas e "matadouros".
Os maoistas evoluiram para o PSD e PS, enganchando-se no Estado e vivendo em grande parte á sua custa.Não queriam a economia da livre concorrência mas sim as EP+s monopolistas para colocar os fieis.
Foram úteis para travar a onda comunistas do PCP, MDPCDE e outros grupelhos de origem soviética de tomar o poder e evitar uma RDA á beira do Atlântico.
Actulmente desde 2005, por causa da fuga para a UE, suportamoa a canga dos jotas, que começou com o sr Sócrates (o défice era tudo,
a divida externa não interessava...Expresso), consultor numa farmaceutica "e prestigio" e continuou com o Sr.Coelho (a divida
externa é tudo...o défice não interessa, Expresso).
Chegados aqui, valeria perguntar que democracia é esta, se calhar com o atrazo mental que existe por aí ..vamos acabar com um regime tipo "el comandante...." de direita ou de esquerda !
No money no clowns !
Alexandre
e agora os amigos franceses com o negocio do armamento em baixo querem dar umas armas aos jihadistas da siria.
nao ha nada como animar as hostes
sobretudo for lonje aqui da europa esse lugar de paz
Esta foi forte, mas certeira Senhor Embaixador. E o que é certo é que hoje em dia o Iraque não está melhor do que estava
Senhor embaixador.
Hoje me deu saudades do senhor.
Estava desanimada de fazer posts e de le los. Um abraço sua amiga Monica
Esse encontro nos Açores com os quatro da vida airada ficou assinalado com uma fotografia (que me ficou na memóra em fundo escuro) onde o americano aparecia como o anfitrião que recebia convidados e os colocou perante a objetiva por ordem de importancia. O chefe do governo português também lá ficou. Com a importância que o outro lhe relegou...
Ainda que com um atrazo de dez anos (mas parece ter sido ontem !) e mesmo que "le malheur des autres ne fasse pas notre bonheur" é particularmente agradável saber que, afinal, não estava sozinho perante quela humilhação. Obrigado Embaixador.
José Barros
É verdade senhor embaixador, convém que se preserve a memória futura,também em relação a todos, como aqueles que, depois de embrulharem isto tudo tiveram medo do pântano e também abandonaram o país, é que no futuro próximo isto também pode ser útil.
Caro Seixas da Costa,
Diz a conhecida frase "primeiro estranha-se depois entranha-se".
Desculpe a quebra de protocolos, que ultimamente até tem sido partilhada pelo Sumo Pontífice. Não estou a fazê-lo por desconsideração à sua pessoa, antes pelo contrário, faço-o por considerar inusitado residir num país que tem mais doutores que médicos.
Se houve o tempo em que estavam na moda os condes, os duques, viscondes e marquesas, verdade é que agora estão na moda os doutores.
Os doutores é que sabem.
"Sim, Sr. Doutor. Bom dia Sr. Doutor? Como está Sra. Doutora? Com certeza Sr. Doutor! Como Vossa Excelência entender Sra. Doutora. A que horas podemos marcar a reunião Sr. Doutor? A Sra. Doutora está ocupada."
E bem mais se poderia referir.
Na era da tecnologia digital, da sociedade civil e dos "mass media", em que a educação, as liberdades de expressão e informação florescem no ocidente, os velhos títulos nobiliárquicos persistem sob novos nomes.
E persistem em todos os aspectos quotidianos: nos empregos, nas relações com colegas equiparados, subalternos ou superiores, círculos sociais nos próprios cartões bancários, cheques bancários até às cartas postais.
A minha questão já nem é se isto terá algum termo final. A minha questão agora é outra: depois dos doutores o que virá?
Cumprimentos.
"Mar Português"
Como muito bem escreve o Sr. José Barros, os outros comparsas também ficaram na foto, segundo a ordem que o Chefe lhes impôs!
O "caniche" britânico não pestanejou! Não ladrou e conseguiu ser o mais risível com o seu temor da bomba fatal que atingiria o Reino Unido em 45 minutos ! O espanhol, obteve mais tarde, após o drama de Atocha e a sua exploração indecente do ato terrorista para fins partidários, um lugar de docente numa prestigiosa universidade americana! O português já se sabe.
O Chefe ainda conseguiu mais um mandato, o que prova bem que os povos são lentos na reflexão.
Mas na realidade, o que seria preciso é acabar com o Império, para evitar outros dramas no futuro.
Isto faz-me pensar no livro de William Blum - "l'Etat Voyou" :"
"Se fosse presidente, acabaria em poucos dias com os ataques terroristas contra os Estados Unidos. Definitivamente.
Primeiro, apresentaria desculpas a todas as viuvas, aos órfãos, às pessoas torturadas, àquelas que caíram na miséria, aos milhões doutras vitimas do imperialismo americano.
Em seguida, anunciaria aos quatro cantos do mundo que as intervenções americanas no mundo estavam definitivamente terminadas, e informaria que Israel não seria mais o 51° Estado dos Estados Unidos mas a partir de agora - coisa curiosa a dizer- um pais estrangeiro.
Depois, reduziria o orçamento militar de pelo menos 90%; utilizando o que sobra para pagar indemnizações às vitimas. Isto seria mais que suficiente. O orçamento militar dum ano, seja 130 mil milhões de dólares, eqüivale a 18 000 dólares por hora desde o nascimento do Cristo !
Voilà o que faria nos três primeiros dias.
No quarto dia, seria assassinado.
J. de Freitas
O mais ridículo de todos foi o Aznar. O nosso ainda pode alegar que fazia de anfritrião agora, o outro, foi para lá armado em importante, como se o país dele fosse tido ou achado na questão do Iraque ou qualquer outra decisiva a nível mundial. Patético.
Mas... como eu não acredito em coincidências, depois desta palhaçada, o Durão foi para a UE e a Espanha conseguiu (com a ajuda da CIA), acabar com a ETA...
Já agora, uma fotografia ficava bem, não? E há tantas... :)
Fui visitar o blogue da Mônica que escreve com muita ternura!
bom domingo
Angela
Boa.
Houve tempos em que os militares e os diplomatas quando não estavam de acordo com as políticas dos governos pediam a demissão das suas funções. De há uns anos a esta parte isso já não aconteceu.
Se o meu caro amigo ficou "atazinado" imagine eu, que fui colega (e dos moderados) da personagem na Universidade !!!
Zé de Bagdad
que teria passado pela cabeça de durão barroso? uma futura recompensa internacional?
Quando foram os tempos em que os militares e os diplomatas se demitiam quando não estavam de acordo com as políticas dos governos?!!
Acho que foi SEMPRE o contrário.
Quando muito, alguns governos demitiam militares e diplomatas (e professores e juízes) quando eles não estavam de acordo.
Senhor Embaixador:na verdade manter viva a memoria é indispensavel para nos prevenir quanto ao que certas pessoas são capazes de fazer no futuro.
Isto, evidentemente, se lhe for dada a opurtunidade.
Por mim espero que isso não aconteça.
Quanto ao serem capazes de assumirem as suas responsabilidades
seria necessario que tivessem a dimensão que,para tanto, se exige.
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