quarta-feira, março 13, 2013

Chavez

Já não tenho qualquer vínculo de subordinação hierárquica ao Ministério dos negócios estrangeiros. Por essa razão, e porque o que é verdade deve ser dito, estou muito à vontade para afirmar que me revejo totalmente nas declarações proferidas pelo ministro Paulo Portas, por ocasião da morte do presidente da Venezuela, Hugo Chavez.

A política externa é uma política de Estado. As divergências neste domínio podem existir e até é saudável que se expressem em público. Ao contrário de outros, nunca considerei "anti-patriótico" que as temáticas do nosso relacionamento externo sejam amplamente debatidas. Essa é sempre uma forma de enriquecer a necessária definição desta política pública e de lhe dar real substância, procurando impedir que a política externa de Portugal se confunda com uma espécie de preguiçosa reiteração da sua prática diplomática. Porém, é ocioso estar a procurar, de forma artificial e apenas por motivos de chicana política, diferenças e divergências que não têm razão de ser.

Portugal e os portugueses têm importantes interesses a defender na Venezuela. A posição assumida pelo chefe da diplomacia portuguesa correspondeu, na minha opinião, a uma correta e eficaz defesa desses mesmos interesses. Discordo assim, em absoluto, de quantos o criticaram pela posição que tomou.

17 comentários:

patricio branco disse...

não vi nem ouvi as declarações do ministro paulo portas, apenas sei que foi aos funerais de hc.
as politicas externas baseiam-se no realismo e em interesses, não em proximidades ou diferenças de ideologias nem em niveis de respeito pela democracia. máximo, reflectem situações de agressão como portugal com a indonesia e a india naqueles tempos.
na venezuela vivem 200 mil portugueses, compra-nos magalhães e encomendou ou reservou 2 navios aos estaleiros de viana de castelo de que ainda não pagou a entrada inicial e cuja construção está parada, parece.
o que se passa com a morte de hc, os seus funerais, o embalsamento, o mistério da sua doença, quando morreu realmente, qual o papel e interesse de cuba ou melhor dos irmãos castro em tudo isto (venezuela tem hoje em relação a cuba o papel que já teve a urss), enfim, todo o espectaculo macabro e incompreensivel para mim baseado no aproveitamento dum cadaver e no culto da personalidade do caudillo.
o populismo continua vivo na america latina, nuns países menos, brasil e chile, noutros mais, argentina, bolivia, noutros avassalador, venezuela, é o mal endémico do continente, as evitas e os seus corpos embalsamados e expostos têm um seu seguidor no regime bolivariano de hc. mas cada pais tem o que quer e não fomos agredidos pela venezuela, temos interesses económicos e muitos portugueses a viver lá lutando duramente pelas suas vidas.
se chavez tinha p ex admiração por carlos o chacal, lhe escreveu cartas já depois de presidente chamando-lhe meu irmão (estão na internet) isso era assunto dele, não nosso, e é correcto mantermos relações normais com o país.
as próximas eleições de 14 de abril, um acontecimento interessante de seguir que vou seguir.

Anónimo disse...

Um opinião de quem sabe vale mil opiniões de quem julga saber...

Obrigado por partilhar a sua, em questões de diplomacia, elimina a necessidade de ler outras mil.

N371111

Anónimo disse...

Completamente de acordo.

São disse...

Haja alguém que defenda os interesses portugueses...nem que seja Paulo Portas e no estrangeiro!

Desejo-lhe um óptimo dia.

Anónimo disse...

Inteiramente de acordo.
Biscaia

Anónimo disse...

Não sei o que Paulo Portas disse na Venezuela. Sei que a politica de Chavez agradava mais ao povo com menos recursos e era mais combatida pelos poderosos. Sabemos também que é muito dificil ir contra os factos e negar os avanços positivos da politica de Chavez na melhoria da situação dos mais necessitados.
A Venezuela tem recursos naturais que nós, em Portugal, não temos. Mas também não temos, hoje, à frente do país, politicos com a craveira de Chavez. Este, estou convencido, não aceitaria com o mesmo sorriso que os nossos politicos aceitam aquelas submissões da Troïka que levam mais e mais miséria para os mais fracos.
Quando outras potencias estrangeiras, com exércitos poderosos, queriam bolir com a nossa soberania, as tropas de Napoleão por exemplo, "ficaram a ver navios". Estes nem para o Brasil fogem!
Aonde estão os liberais dos outros tempos? Para onde atiraram a noção de que é o povo quem mais ordena?
Bater nos mais fracos não é vantagem nenhuma, já o meu pai dizia.
José Barros

Anónimo disse...

Compañero, el Centro Norte-Sur te necesita! Trae toda tu energía revolucionaria acá.

a) El Che de la Orangerie

Anónimo disse...

Excelente comentário !

Penso que Cavaco Silva também devia ter ido como fez o futuro Rei de Espanha !

O homem tem medo de sair de Belém !

alexandre

Defreitas disse...

Sim, Senhor Embaixador, estou de acordo com tudo o que escreve sobre as palavras do Ministro Português.

Os rancorosos, no interior e no exterior da Venezuela, não lhe perdoaram nem nunca perdoarão, de ter sido o primeiro presidente do mundo a rasgar o véu da grande mentira neoliberal e de ter dinamizado pelas idéias e pelo petróleo uma região, que fez que esta obteve crescimento, pela primeira vez, em duzentos anos,
Mas não graças a mais desigualdade. Com mais ou menos método, com mais ou menos boa gestão econômica, primeiro uma coisa e depois a outra,(devia industrializar primeiro? Talvez! )) mas fê-lo. Combateu o analfabetismo e... ganhou. Combateu a doença, e fez do povo venezuelano o mais bem tratado do continente. E tantas coisas mais. Como seria possível que aqueles que beneficiaram da prioridade absoluta do Comandante não lhe seja dedicado, até à exaltação? Outros povos europeus, mais cultos, seguiram outros Chefes no holocausto de milhões de mortos! Populista Chavez ?

Pois é isso que eles não lhe perdoam. Que tivesse ganhado dez anos economicamente e socialmente. Que ele tivesse posto o espirito, o coração e as políticas no social, isto é, aquilo que o Ocidente esconde hoje sob o tapete!

Chavez tornou evidente o que parecia impossível. Que se pode ser um militar que defende a sua pátria, mas que a pátria é o povo, e não os financeiros obesos e corruptos. Que se pode redistribuir a partir de baixo a renda, isso pelo qual outros invadiram países, mentiram à opinião publica, assassinaram e pelo qual se morre.
Com a sua franqueza impudente Chavez disse ao mundo : êh, as compressões orçamentais não são inevitáveis; os bancos não são damas de caridade; o que é nosso é nosso e de todos, os índios, os mestiços e os piolhentos, todos aqueles que não tinham direito a bilhete de identidade nem direito ao voto.
E insulto supremo: Ter sido sempre eleito DEMOCRATICAMENTE ! Mais bem eleito que o seu inimigo mortal, que necessitou de contar os votos duas ou três vezes, nas máquinas trafulhas na Florida, para ser Presidente.

Hugo Chavez não alinhou como a maioria dos militares que a CIA pôs no poder na América Latina. Não foi mais um daqueles a quem o Pentágono dava um diploma de bom aluno.
Isso era imperdoável para o Império. Ele foi o primeiro que ousou mexer a agulha que estava bloqueada. Ele orientou-a em direção do povo e pagou o preço.

O Ocidente desprezava Chavez. Normal. Se olharmos bem para a nossa Europa, podemos perguntar a nos mesmos se não precisamos de algumas lições. A Europa continua sem rumo. Talvez seja preciso que alguém ,- não sei se entre os dirigentes atuais esse "alguém" existe- , que seja capaz de sintetizar e conduzir os desejos e anseios coletivos de mudança.
Alguém que não tenha medo das coisas e diga como Kischner, antes da maior refundição de divida da historia, que os "mortos não podem pagar"! Antes que estejamos todos mortos!

Hoje, pouca coisa resta dos Europeus" indignados" que saíram para a rua em 2011. Esses jovens que punham em questão o sistema, mas que continuavam a identificar o sistema à política, como se fosse inevitável que a política não fosse outra coisa que pura imundice.

J. de Freitas

Anónimo disse...

Para os madeirenses em geral a posição do ministro dos Negócios Estrangeiros é mais coerente com outros momentos em que os estadistas dos dois países se encontravam... O mesmo não sucedeu no MNE quando Pik Botha passou por Lisboa a caminho da Madeira! Quando Andrés Pérez (duas vezes presidente eleito na Venezuela) visitou a ilha da Madeira via-se obrigado a parar a comitiva em todas as curvas do Campanário. Foi impressionante. Como nota: lembro que quando os nossos dirigentes políticos não se queriam encontrar com Pik Botha, semanas depois, ele voltava a fazer parte da governação na África do Sul já com o Presidente Mandela... Foi assim.

Anónimo disse...

e nao da para levar uma moça assim quando se esta a aterrar... ou a levantar voo?





Defreitas disse...

Acho que o nome de "Caudilho" aplicado pelo Sr.Patricio Branco ao ex-presidente Chavez é injusto. Este nome recorda-me Francisco Franco e outros ditadores do mesmo gabarito, vizinhos ou sul americanos como o general chileno. Ora Chavez não era em ,nada comparável a um caudilho.

.Um ditador? Catorze eleições em quinze ganhas por Chavez. Nenhuma manifestação reprimida .Mas posso recordar a repressão dum seu predecessor , Carlos Andrès Perez, em 1989, aquando das revoltas contra a fome: 3000 mortos, pobres das favelas e estudantes abatidos pelo exército por ordem do governo.
.80% dos media , escrita, a maioria dos rádios e das cadeias de televisão nas maos das oligarquias venezuelanas.
A pobreza ? enquanto que ela aumenta na Europa , ela diminuiu consideravelmente desde a chegada de Chavez ao poder, segundo a ONU.
A saúde ? nunca as camadas desfavorecidas deste pais beneficiaram de meios tão importantes para se tratar.
O ensino? O analfabetismo recuou espetacularmente em dez anos, segundo a UNESCO.
A solidariedade sul-americana ? Ela desenvolve-se com toods os paises, particularmente com Cuba, Argentina, Equador, e Bolivia.
A soberania nacional? A Venezuela não é mais uma colônia americana.
A renda do petróleo? Ela não vai mais para os bolsos da oligarquia corrompida, mas financia os planos sociais. Mas devia, é certo, financiar melhor a criação de estruturas.
Veremos um dia, quando os americanos deixarem o Iraque, se o deixarem !, em que estado se encontrará o povo iraquiano.

Anónimo disse...

a propósito...
Penso que P.Portas,se for sério,poderá desempenhar um papel importante na politica.Mas, só se for sério, honesto e intrego.Tem que provar.Lá boa casta,têm.Prove que tem o resto.
LC

EGR disse...

Senhor Embaixador:também me pareceram corretas as afirmações do MNE.
E julgo, mesmo, que implicitamente enviaram uma mensagem a algumas pessoas que continuam a viver assustadas.

patricio branco disse...

peço licença para voltar ao tema,
da venezuela actual com alguns factos e curiosidades.
1. a retorica antiamericana de hc procura disfarçar a realidade das relações comerciais entre os 2 países - dos 1,7 milhóes de barris de petróleo exportados pela venezuela diariamente, entre 800mil e 1 milhão são comprados pelos eua, logo, em média, metade da produção diária exportada. como as exportações da venezuela são constituidas em 95% por petroleo e outros hidrocarburos (a industria, agricultura e turismo estão reduzidas à minima expressão) metade das receitas em usd do país provêm dos eua. o vendedor não sobreviviria sem o comprador. aliás parte dos hidrocarburetos da venezuela são constituidpos por lamas e areias que exigem uma tecnica especial de refinação que os eua têm, mas não interessa muito a outros paises.

2. o preço dum unico depósito de gasolina em portugal daria para encher o mesmo deposito e andar durante 5 anos na venezuela. a gasolina é altamente subsidiada internamente, pode dizer se que é oferecida, embora a venezuela seja importadora de refinados.

3. uma curiosidade: ontem o presidente interino nicolás maduro pronunciou-se sobre a eleição do novo papa argentino dizendo seriamente que chavez no paraiso tinha influenciado a eleição do cardeal latinoamericano "nosotros sabemos que nuestro comandante ascendió a esas alturas y está frente a frente a cristo...cristo le dijo, ahora llegó la hora de la america del sud...en el cielo sabemos que (chavez) influenció, etc, etc" vem no you tube. foi dito em acto transmitido pela tv, claro que se trata de campaña eleitoral, destina-se a impressionar a população para votar nele, o candidato chavista

4. hugo chavez defendeu até ao fim o seu amigo gadafi oferecendo-lhe inclusivamente asilo se quisesse, tal como apoiou saddam hussein.

5. o novo vice pr da venezuela é o genro de h c, casado com uma das filhas dele.
Toda a familia de chavez, incluindo o pai e irmãos, tem tido cargos importantes, governadores de estado, ministros, embaixador em cuba

isto são particularidades dum regime, curiosidades, aspectos internos da venezuela e seu regime, está correcto que tenhamos relações diplomaticas e consulares com o país, aliás na minha pequena opinião até deveríamos ter em caracas uma mais forte representação não digo ao nivel da espanha mas pelo menos ao nivel da italia ou frança.


por fim: o novo ministro das relações exteriores da ven elias jaua já esteve em portugal depois do funeral de chavez e vai haver na av da liberdade um acto de homenagem a chavez junto da estátua de simão bolivar.

Defreitas disse...

Ao Sr. Patricio Branco:

1°- Não creio que HC procura disfarçar o que quer que seja. Ele não era estúpido ao ponto de cortar o abastecimento de petróleo aos USA. Ele viu o que aconteceu a Mossadegh, no Irão e ao Saddam Hussein, no Iraque. Bastaram alguns frasquitos de plástico na ONU, exibidos pelo Colin Powell, para desencadear o apocalipse! A maior base militar americana na região está a alguns minutos de Caracas. E a 4a. frota naval US voga ao largo da Venezuela. Ele não era suicidário. Quanto à venda do petróleo, não faltariam compradores par ele no vasto mundo. A China em primeiro lugar.

2°- Verdade seja dita que os venezuelanos beneficiam dum preço anormal para o carburante. E que, como o Irão, ambos importam os refinados.

3°- A mediação do HC lá nos altos do céu, em favor do Cardeal de Buenos Aires é risível, na medida em que mesmo se HC era crente, não sei se apreciava verdadeiramente o passado do novo papa. Este não foi tão corajoso durante a ditadura de Videla, como o foi o primado de Santiago do Chile sob Pinochet. Há algo que me escapa neste fervor indicado pelo u-tube!

4°- A amizade de HC com Gadafi , Ahmadinejad e Saddam não é de admirar. O primeiro foi recebido com o tapete vermelho por Sarkozy e foi autorizado a tirar o leite da camela na tenda do Palácio de Marigny; Saddam recebeu a visita e fez negócios chorudos com Bush sénior, antes de se zangar com o filho. E enfim, o asilo prometido a Gadafi, não me choqua mais que o asilo oferecido pelo governo português a Fulgêncio Batista, na Madeira, e o do Papa Doc, filho do ditador sangrento de Haiti, que a França acolheu, e ainda vive na Côte d'Azur! Alors, a diplomacia tem caminhos tortuosos que a razão quer desconhecer, mas que o interesse nacional comanda.

5°- A família integrada no sistema ? Vergonhoso, mas num pais com tantas particularidades, essa não é a pior. O pior é a incompetência eventual que só pode acarretar prejuízos para a nação. Vimos em França, ultimamente, um Presidente da República procurar impor o filho, de trinta e tal anos, que ainda não tinha acabado os seus estudos de direito, para presidente do EPAD, Estabelecimento Publico de la Défense, o maior centro de negócios da Europa.
Felizmente que ainda estamos em democracia!

Isabel Seixas disse...

Assumindo desde logo a minha ignorância para emitir uma opinião capacitada é evidente que concordo que representar um pais ou uma instituição vai muito mais além dos principios e linhas de conduta individuais.

Depois é transversal a algumas duas ou três classes profissionais no mundo o direito inalienável de privilégios adquiridos por inerência e aprovação dos deuses,
O a quem parte e reparte per si ter direito à melhor parte...

Além de que seria de uma ingenuidade atroz não se mostrar a solidariedade nos momentos de todos os perdões onde se encontram os lideres dos paises,mesmo os da promoção de desigualdades vestidos de anjinhos...

Entrevista à revista "Must"

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