sábado, março 09, 2013

Revelação

O cenário da curta conversa era clássico: um velório. Ontem, em Vila Real.

Chegou sozinho. Não percebi bem quem era. Foi simpático e agradável. Mas, quase de imediato, tentou "confessar-me" sobre a atual situação política no país. Procurava, claramente, "tirar nabos da púcara". Como eu não o conhecia bem e, pelos vistos, ele também me não conhecia muito melhor a mim, a conversa andou um pouco às voltas, comigo a dizer umas coisas redondas e óbvias, para perceber onde é que ele queria chegar. De certo modo, o diálogo divertia-me, embora o "outing" político me parecesse um exercício pouco adequado para aquele momento.

A certo ponto, olhou para ambos os lados, aproximou-se um pouco e deixou, em voz baixa, a informação: "Sabe? Eu apoio este governo e estou de acordo com quase tudo o que ele tem feito". E voltou a olhar em volta, claramente à espera que ninguém tivesse ouvido esta sua revelação.

O que é que eu lhe disse? Apenas o procurei sossegar, dizendo-lhe: "tem todo o direito a ter essa opinião". Sorriu-me, creio que grato, embora disso não tenha uma absoluta certeza. Minutos depois, vi-o afastar-se. Sempre sozinho.

Tempos difíceis, estes. Para todos, como se vê. 

11 comentários:

Isabel Seixas disse...

Há de facto ambientes que convidam a confissões discretas até dos atos de contrição...

Não era para menos,um mortório a própria revelação...

Fez bem sr. Embaixador , coitado do senhor bem basta a cruz do seu sentir...

Ai... Há sempre um Deus a perdoar.

Anónimo disse...

A coragem de quem apoia este governo, aqui bem descrita, demonstra bem a qualidade do mesmo.

Esse tipo de gente sempre se sentiu muito bem na escuridão das sarjetas.

Anónimo disse...

Com a identificação do cenário, descartamos uma quantidade enorme de personalidades indo, pelo "Seguro", a curiosidades insuspeitáveis...
A forma como o Sr. Embaixador exprime a sua opinião também é curiosa...

Anónimo disse...

Eu é que não há meio de estar de acordo com tudo. Poucas vezes mesmo consigo estar de acordo com tudo. Falo das decisões dos governos, é claro, que nem sempre fazem aquilo que dizem e nem sempre, também, sabem escutar os seus conselheiros como deve ser...
A propósito de luta contra o demprego, por exemplo, parece que António Borges aconselhou estes dias de reduzir ainda mais os salários minimos como incentivo à criação de empregos e, a meu ver, esta sugestão merece bem um estudo aprofundado. Se nem sempre estou de acordo com António Borges neste caso uma redução mensal de 400 ou 500€ no salário minimo nacional poderia vir dopar o mercado interno que começa a definhar...
Poderia sim senhor, é um caso a estudar.
José Barros

freitas pereira disse...

Nao é o medo do "goulag", de certeza, que impoê tanta discreçao. Mas é alguém que tem mais de 400 euros por mês para viver! E hoje, o limite a partir do qual se " arrisca" de perder algo baixou tanto, que mesmo aqueles que ontem se consideravam protegidos, se sentem hoje ameaçados de deriva fatal.

Peço desculpa pelo teclado ...

freitas pereira disse...

A duplicidade na sociedade é cada vez mais visivel, na medida em que as dificuldades para viver aumentam.

E preciso uma grande força de caracter e convicçoes arreigadas para recusar a cegueira e os preconceitos.

Phaedrus disse...

Então o Senhor Embaixador teve uma conversa com o Primeiro Ministro e nem sequer o reconheceu?!

Anónimo disse...


Uma das coisas mais patuscas dos tempos que correm é a quantidade de gente que "não votou neles" .

Como é que eles foram lá parar ?
Pois ninguém sabe !

E quando alguém se diz muito desiludido fica-se logo a saber que "votou neles" .
Eu não estou nada desiludido , mesmo nada ...

RuiMG

Anónimo disse...

Aqui-d'el-Rei, Senhor Embaixador, se Ele não estivesse por aí sozinho! Redondo era o apelido de um casal nosso vizinho, que tinhamos quando eu vivia na Madeira e frequentava o Liceu. Um dia o "Redondo" meu vizinho pouco letrado aquando da visita do nosso Presidente da República, a qualquer ponto do Ultramar, com passagem obrigatória pela Madeira - quando a minha avó lhe perguntou que no dia em que ele tinha tido folga no trabalho, para ir à Pontinha" ver o chefe de Estado, porque não tinha ido - respondeu: sou o "Redondo" não sou quadrado... Assim foi esse seu velório... de alguém que passou para a "outra margem" num rectângulo.

Anónimo disse...

Boa, tarde

A conversa, ou melhor a confissão, não foi do primeiro, foi do segundo, o ministro dos estrangeiros (PP).

Soube eu, agora. O 2º, não o 1º!

Jose Tomaz Mello Breyner disse...

Só espero que ele não seja leitor deste seu blog Senhor Embaixador

Adeus, "Costa do Sol"!

Há já uns bons anos, alguém me disse que, em Vila Pouca de Aguiar, tinha surgido um novo restaurante. Conhecia então toda a oferta de restau...