O cenário da curta conversa era clássico: um velório. Ontem, em Vila Real.
Chegou sozinho. Não percebi bem quem era. Foi simpático e agradável. Mas, quase de imediato, tentou "confessar-me" sobre a atual situação política no país. Procurava, claramente, "tirar nabos da púcara". Como eu não o conhecia bem e, pelos vistos, ele também me não conhecia muito melhor a mim, a conversa andou um pouco às voltas, comigo a dizer umas coisas redondas e óbvias, para perceber onde é que ele queria chegar. De certo modo, o diálogo divertia-me, embora o "outing" político me parecesse um exercício pouco adequado para aquele momento.
A certo ponto, olhou para ambos os lados, aproximou-se um pouco e deixou, em voz baixa, a informação: "Sabe? Eu apoio este governo e estou de acordo com quase tudo o que ele tem feito". E voltou a olhar em volta, claramente à espera que ninguém tivesse ouvido esta sua revelação.
O que é que eu lhe disse? Apenas o procurei sossegar, dizendo-lhe: "tem todo o direito a ter essa opinião". Sorriu-me, creio que grato, embora disso não tenha uma absoluta certeza. Minutos depois, vi-o afastar-se. Sempre sozinho.
Tempos difíceis, estes. Para todos, como se vê.
Tempos difíceis, estes. Para todos, como se vê.
11 comentários:
Há de facto ambientes que convidam a confissões discretas até dos atos de contrição...
Não era para menos,um mortório a própria revelação...
Fez bem sr. Embaixador , coitado do senhor bem basta a cruz do seu sentir...
Ai... Há sempre um Deus a perdoar.
A coragem de quem apoia este governo, aqui bem descrita, demonstra bem a qualidade do mesmo.
Esse tipo de gente sempre se sentiu muito bem na escuridão das sarjetas.
Com a identificação do cenário, descartamos uma quantidade enorme de personalidades indo, pelo "Seguro", a curiosidades insuspeitáveis...
A forma como o Sr. Embaixador exprime a sua opinião também é curiosa...
Eu é que não há meio de estar de acordo com tudo. Poucas vezes mesmo consigo estar de acordo com tudo. Falo das decisões dos governos, é claro, que nem sempre fazem aquilo que dizem e nem sempre, também, sabem escutar os seus conselheiros como deve ser...
A propósito de luta contra o demprego, por exemplo, parece que António Borges aconselhou estes dias de reduzir ainda mais os salários minimos como incentivo à criação de empregos e, a meu ver, esta sugestão merece bem um estudo aprofundado. Se nem sempre estou de acordo com António Borges neste caso uma redução mensal de 400 ou 500€ no salário minimo nacional poderia vir dopar o mercado interno que começa a definhar...
Poderia sim senhor, é um caso a estudar.
José Barros
Nao é o medo do "goulag", de certeza, que impoê tanta discreçao. Mas é alguém que tem mais de 400 euros por mês para viver! E hoje, o limite a partir do qual se " arrisca" de perder algo baixou tanto, que mesmo aqueles que ontem se consideravam protegidos, se sentem hoje ameaçados de deriva fatal.
Peço desculpa pelo teclado ...
A duplicidade na sociedade é cada vez mais visivel, na medida em que as dificuldades para viver aumentam.
E preciso uma grande força de caracter e convicçoes arreigadas para recusar a cegueira e os preconceitos.
Então o Senhor Embaixador teve uma conversa com o Primeiro Ministro e nem sequer o reconheceu?!
Uma das coisas mais patuscas dos tempos que correm é a quantidade de gente que "não votou neles" .
Como é que eles foram lá parar ?
Pois ninguém sabe !
E quando alguém se diz muito desiludido fica-se logo a saber que "votou neles" .
Eu não estou nada desiludido , mesmo nada ...
RuiMG
Aqui-d'el-Rei, Senhor Embaixador, se Ele não estivesse por aí sozinho! Redondo era o apelido de um casal nosso vizinho, que tinhamos quando eu vivia na Madeira e frequentava o Liceu. Um dia o "Redondo" meu vizinho pouco letrado aquando da visita do nosso Presidente da República, a qualquer ponto do Ultramar, com passagem obrigatória pela Madeira - quando a minha avó lhe perguntou que no dia em que ele tinha tido folga no trabalho, para ir à Pontinha" ver o chefe de Estado, porque não tinha ido - respondeu: sou o "Redondo" não sou quadrado... Assim foi esse seu velório... de alguém que passou para a "outra margem" num rectângulo.
Boa, tarde
A conversa, ou melhor a confissão, não foi do primeiro, foi do segundo, o ministro dos estrangeiros (PP).
Soube eu, agora. O 2º, não o 1º!
Só espero que ele não seja leitor deste seu blog Senhor Embaixador
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