Havia um velho aforismo que se costumava utilizar a propósito do Médio Oriente (mas cada vez gosto mais da precisão com que os franceses distinguem o conceito de Próximo Oriente do de Médio Oriente) segundo a qual, por aquela área geopolítica, "não há guerra sem o Egito nem paz sem a Síria". Lembrei-me de como esse tipo de afirmação está já datado quando ouvi o novo presidente da República egípcia denunciar abertamente o regime de Damasco, favorecendo uma alternativa democrática para o país.
Quem haveria de dizer que iríamos, um dia, assistir a uma coisa assim! Nunca, no passado, uma liderança egípcia se havia contraposto de forma tão aberta à família Assad, apesar das tensões entre o Cairo e Damasco não serem raras, antes pelo contrário. A verdade, porém, é que este é um novo Egito (seja lá o que isso venha a significar), chefiado por uma figura com um perfil legitimado democraticamente, com fragilidades económicas que, não obstante as suas renovadas tentações de protagonismo regional, o obrigam a continuar a respeitar uma dependência da Arábia Saudita sunita, que hoje tem o regime sírio, mais do que nunca, como inimigo jurado. E o herdeiro de Assad conseguiu perder, por efeito externo ou culpa própria, todos os "trunfos" com que o seu pai, de forma magistral, desenhara, por décadas, a estratégia nacional da Síria. Todos, não! Ainda lhe restam o apoio do Irão e a embaraçada proteção russa, para além da capacidade de destestabilização no Líbano.
Quem haveria de dizer que iríamos, um dia, assistir a uma coisa assim! Nunca, no passado, uma liderança egípcia se havia contraposto de forma tão aberta à família Assad, apesar das tensões entre o Cairo e Damasco não serem raras, antes pelo contrário. A verdade, porém, é que este é um novo Egito (seja lá o que isso venha a significar), chefiado por uma figura com um perfil legitimado democraticamente, com fragilidades económicas que, não obstante as suas renovadas tentações de protagonismo regional, o obrigam a continuar a respeitar uma dependência da Arábia Saudita sunita, que hoje tem o regime sírio, mais do que nunca, como inimigo jurado. E o herdeiro de Assad conseguiu perder, por efeito externo ou culpa própria, todos os "trunfos" com que o seu pai, de forma magistral, desenhara, por décadas, a estratégia nacional da Síria. Todos, não! Ainda lhe restam o apoio do Irão e a embaraçada proteção russa, para além da capacidade de destestabilização no Líbano.
As relações entre os países árabes sempre foram um labirinto de ambiguidades. No passado, eram "federadas" equivocamente por um apoio à causa palestina, que levava a uma oposição de princípio a Israel . Escrevo "de princípio" porque não houve nenhum país árabe com proximidade geográfica com Tel-Aviv que, num momento ou noutro, não tivesse enveredado por uma realpolitik de interesses, sempre disfarçada por uma forte retórica.
As diferentes "primaveras árabes" baralharam, contudo, todo este cenário e ninguém parece estar mais "baralhado" que Israel, que já se havia habituado a lidar com as ditaduras circundantes, as quais, na sua equação de segurança, funcionavam como constantes que conseguia ir gerindo. A suprema ironia é que Tel-Aviv, que sempre fez passar a ideia (real) de ser a única democracia da região, está agora em palpos de aranha com o facto das ideias democráticas, cuja ausência denunciava na sua periferia, estarem a atingir esses Estados da sua vizinhança. E, quem sabe?, levando ao poder governos, agora legitimados pelo voto, que, a prazo, lhe podem vir a tornar-se bem mais detrimentais que as "velhas" ditaduras. Qual é a "solução" para Israel? Aparentemente, tudo indica que pode ser tentado a fazer uma fuga em frente, desencadeando um ataque às supostas instalações nucleares do Irão. Desta forma, ao dispor-se a fazer um "dirty work" que espera que o Ocidente (no fundo) lhe agradeça, o Estado judaico compra tempo e complacência. Mas, uma vez mais, não ganha a paz.