quinta-feira, agosto 16, 2012

Ciganos

A questão do tratamento dado aos ciganos em França está na ordem do dia. Hoje como ontem. O assunto já foi aqui abordado neste texto, escrito precisamente há dois anos, pelo que não tenho mais a dizer. A não ser contar agora uma pequena história.

Lembro-me que era um fim de semana, aí por 1997. Eu estava parado, a guiar o meu carro, no semáforo da rua Barata Salgueiro com a avenida da Liberdade. Aproximou-se uma mulher cigana, de saias longas, com uma criança desgrenhada ao colo, de mão estendida. Abri o vidro para lhe dar alguma coisa e ouvi da sua boca uma expressão que, no início não entendi, mas que ela repetiu: "Bósnia-Herzegovina".

Eu era responsável pelos Assuntos europeus, no governo da altura. Mas - devo confessar, com toda a honestidade e sem esconder esta fragilidade - estava muito longe de supor que, naquela época, as migrações ciganas do centro da Europa tivessem já chegado às ruas de Lisboa. O encontro com aquela pobre mulher, saída de tão longe para tentar atenuar a sua pobreza em Portugal, foi, para mim, uma imensa surpresa, que nunca mais me saiu da cabeça. Desde logo, aprendi que estar no governo nem sempre é sinónimo de estar atento a todas as coisas.  

8 comentários:

gherkin disse...

Conduzindo o próprio carro, em vez de ser conduzido, como acontece com muitos ex colegas, e ser generoso como foi, APRENDE-SE MUITO da VIDA REAL! Aqui em Londres, pelo menos há alguns anos atrás, predominava a chusma de ciganos ou não, provenientes desse país, mas especialmente da Roménia, em que não paravam de bater ÁS NOSSAS PRÓPRIAS PORTAS. O Governo, felizmente, atacou o problema, embora não completamente. Abraço. Gilberto Ferraz

C.e.C disse...

É um tema complexo, esse que visa minorias. Admito não ter uma opinião plenamente vincada, mas confesso sentir algumas tendências mais negativas sobre tal tema.
Pergunto-me se fossem 150 habitantes - nativos - franceses a viverem de forma ilegal, se haveria tanta tinta a correr.

Permitam-me até que partilhe uma pequena história, e que até vai em conta a alguns comentários que li no texto que o Sr. Embaixador escreveu em 2010.

Tendo participado, há alguns anos, na criação de alguns bairros para etnia cigana, houveram três coisas que me deixaram marca.
A primeira foi algum exagero que vi nos materiais que foram utilizados para a construção; estou-me a referir a loiças de certo valor assim como detalhes arquitectónicos (muros em pedra, pavimentos importados, etc.).
A segunda foi a história que uma assistente social partilhou comigo, dizem-me que anualmente tinha de ir verificar algumas habitações pois já no passado tinha encontrado restos de fogueiras no chão da sala, e ¡imaginem! um porco (suíno mesmo) na banheira de uma das casas.
A terceira e última foi quando decidi questionar um dos futuros habitantes do bairro que estava a ser concluído sobre o facto de nunca ter visto nenhum membro da sua etnia a trabalhar na sociedade que inevitavelmente os acolhe. Na minha magnânima forma de pensar, até imaginei que não seria fácil encontrarem quem lhes desse emprego; quando os meus pensamentos são interrompidos pelo olhar sério do meu interlocutor que me responde: "Nós.. se formos trabalhar para fora da nossa família, somos expulsos."

Entretanto, os ferros das obras iam desaparecendo.

Ana Paula Fitas disse...

Lindo, Senhor Embaixador!!!... muito, muito obrigado pelo notável Humanismo... essencial, profundamente essencial nos tempos que correm!
Um grande abraço, grato e amigo.

Anónimo disse...

A Baixa de Lisboa está completamente ocupada por estes nobres "étnicos". São tantos que até já se juntam aos grupos à porta do Hard Rock Café, da Estação do Rossio, no próprio Rossio, Rua Augusta, Terreiro do Paço, Campo das Cebolas. Enfim, onde possa haver turista, lá estão eles. E, digo-vos, o sentimento de injustiça e incompreensão que eles sentem é tal que, se porventura não lhes ligarmos quando, simpaticamente, nos oferecem as delícias dos narcóticos, imediatamente somos insultados e ameaçados. Fazem bem: se há coisa que não se tolera é gente mal educada!

A mim, prometeram-me, um dia, "furar uma perna". Boa gente com ainda melhor gente para os proteger...

Helena Sacadura Cabral disse...

Como tem razão!

Isabel Seixas disse...

Estava a pensar que a promoção do cumprimento dos deveres de cidadania deveria começar na familia sempre que nasce um novo membro e desde logo um novo cidadão.

Ao cargo de profissionais no contexto de promoção de saúde social nomeadamente assistentes sociais sociólogos e psicólogos sociais encetariam o processo.

Talvez assim ao concetualizar gente bem e mal educada falemos das origens das mesmas oportunidades.

Claro que nalguns contextos constato(e sinto) o mesmo que o comentador Catinga.

Mas já vi gente da nossa "etnia"
muito bem educada mal educada.

APODEC disse...

caros amigos e amigas sou de Etnia cigana de muito me orgulho e sinto-me indnigado com tantas discriminaçôes sobre nós .pois em todas culturas há boms e maus

APODEC disse...

Caros amigosª já repararam na euducação que nos deram .Depois de quinhentos anos em Portugal ...

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