Este blogue não tem vocação, até ver, para se imiscuir em questões de política interna portuguesa. Mas há limites para a retração no exercício do direito de legítima cidadania.
O que se passa com as empresas públicas de transportes, que entraram em mais uma sempre "oportuna" greve, passa esses limites. Quando se pede aos portugueses - e em especial aos servidores públicos - esforços sem par, é perfeitamente escandaloso que certas classes profissionais tomem o país como cíclico refém. É que se o Estado tem um défice, muito desse défice deve-se àquilo que esse mesmo Estado atribui, em termos de ajudas financeiras, às empresas que empregam essas pessoas.
As regras que os guiam fazem parte dos intocáveis "acordos de empresa"? Também as regras que atribuíam ao funcionalismo público o subsídio de férias e o 13º mês faziam parte de um sólido "contrato" que todos supúnhamos ter com o Estado e que, no entanto, foram suspensas.
Às vezes, argumenta-se com a necessidade de haver entendimentos de regime sobre determinadas temáticas de interesse nacional. A alteração radical de certas vantagens em vigor nas empresas públicas de transportes deveria, num país de bom-senso, merecer uma reflexão transpartidária.
E, tendo em atenção que todas essas empresas parece estarem em situação precária, não seria boa ideia colocar à frente delas algumas conhecidas e mediáticas "vedetas" da gestão pública, que tanto se ilustram, a peso de ouro, em áreas económicas que dão lucros? Sempre era uma oportunidade patriótica que se lhes dava para mostrarem o que valem, embora em tarefas talvez um pouco mais difíceis...
E, tendo em atenção que todas essas empresas parece estarem em situação precária, não seria boa ideia colocar à frente delas algumas conhecidas e mediáticas "vedetas" da gestão pública, que tanto se ilustram, a peso de ouro, em áreas económicas que dão lucros? Sempre era uma oportunidade patriótica que se lhes dava para mostrarem o que valem, embora em tarefas talvez um pouco mais difíceis...
24 comentários:
Senhor Embaixador, leio-o quase diariamente e nunca o cumprimentei -soa-me a enorme falta de educação, mas é a verdade -,e hoje não posso deixar de o fazer.
Deu voz ao meu profundo sentimento de revolta. Muito obrigada.
Maria Helena
Pimba!!! É mesmo assim!
Subscrevo. Então o último parágrafo que reforço de lucidez.
O PM disse ontem que ele é dos que pensam que a crise não é culpa só dos políticos. Todos os portugueses têm responsabilidades…
Acho que TODOS os políticos pensam da mesma maneira. Caso contrário não eram políticos…
Resta saber o que os portugueses que “arranjaram” esta crise podem fazer para por “ordem na casa”… (será que os dos transportes se acham “responsáveis” pela crise?. Os funcionários públicos que “acharem que estão a mais” também podem dar uma ajudinha e ir voluntariamente para o desemprego, reduzindo o défice, em grande parte da “culpa deles”…)
A insensibilidade à crise é geral. Veja-se, por exemplo, os militares com os sempiternos choradinhos relativos às promoções. Com a agravante de esta classe profissional (absolutamente necessária em qualquer Estado que se preze, diga-se), ter um enorme problema de imagem junto da população...
O egoísmo faz parte do ser humano. No nosso caso, por uma questão de ausência de espírito de comunidade, a coisa complica-se ainda mais.
Pois é.... mas a luta de classes ainda está muito presente no ideário português. O que é preciso é sempre ganhar mais e a qualquer preço, mesmo que tenha de haver revolução. Mas eu já não sei nada.
problema ou dilema dificil de equacionar. os sectores profissionais em serviços mais necessarios ao quotidiano da sociedade têm igual direito à greve. por sua vez os utentes são prejudicados na sua rotina. por sua vez as empresas já não estão muito bem financeiramente, etc. como se cociliam estes direitos quando há reações em cadeia?
um bom gestor privado por outro lado só aceitará o lugar na empresa publica se for pago principescamente, etc.
Excelente e oportuno, "grito de guerra”! Como dirigente sindical que fui, creio que responsável, confirmado pelos dirigentes da BBC, patronato com quem tive,durante 12 anos de chefia, longos diálogos e algumas, mas poucas disputas, é inadmíssível, como muito bem aponta, o comportamento dos sindicatos Portugueses, especialmente os dos transportes. Devido à clareza do texto, com o qual me identifico, evito desnecessárias repetições. Aponto, apenas, como é neste setor que o Partido Comunista tem maior representatividade, - e poder! -, em vez de simples e compreensível, que não é, reivindicação trata-se, simplesmente, de uma atitude POLÍTICA por parte de um partido minoritário consciente do seu poder sindical e de rua! Um comportamento irresponsável, não perante o Governo, mas os pobres e sacrificados utentes, afinal AQUELES TRABALHADORES que tanto o PC insiste defender! Cumprimentos. Gilberto Ferraz
Seixas da Costa, você com a idade está cada vez mais “conservador” (para não dizer reaccionário). Este seu Post é, no mínimo, inaceitável.
Não o preocupa o PIB a descer, a economia em queda constante, o número de desempregados a aumentar escandalosamente, a demagogia de anúncios futuristas (como aquela de que a crise acabará em 2013), a queda do investimento, do consumo, o aumento das falências, a total incompetência e incapacidade de quem nos governa na resolução desta nossa calamitosa situação económico-financeira (numa qualquer empresa privada esta gente já tinha sido despedida por má gestão, entre outras razões), a emigração crescente visto não haver trabalho neste país que você representa aí, a ausência de futuro com nos deparamos, sim porque, sejamos realistas, Portugal não tem qualquer futuro, enquanto continuarmos a seguir esta política de austeridade, sem um projecto que permita reanimar o consumo e o investimento interno. Não o preocupa igualmente a existência de milhares de reformados com pensões de miséria, que mal podem subsistir, a miséria crescente neste país, o gradual desaparecimento da classse média, sem a qual não há consumo sustentável em nenhuma economia, a asfixia, aos poucos, do nosso tecido industrial, que quem trabalha tenha cada vez menos direitos, mas, em contrapartida, se pague as dívidas do BPN com o dinheiro dos contribuintes, para depois vender a pataco o mesmo Banco a uns abutres (BIC) epeculadores, que se venda também a pataco empresas que deveriam estar na mão do Estado, bem geridas por gente capaz, que a temos por cá igualmente, que se crive o contribuinte, singular e colectivo, de impostos e se poupe quem mais tem, quem é mais rico, numa política fiscal desigual e injusta, etc.
Seixas da Costa, deixe lá os grevistas em paz, coloque no seu blogue coisas mais comezinhas e, a preocupar-se com Política – que, na sua situação não pode – então tenha coragem para atacar ouros males deste fustigado País!
Goze um bom feriado, aliás o último do género, pois para o ano 15 de Agosto será dia de trabalho.
Caro anónimo das 14.24: nada como uma boa provocação para dar espaço a uma reação ("honni soit!")
Todos achamos bem que se corte desde que seja nos outros. E é por isso que está a ser tão difícil moralizar - se é que essa é a intenção - o uso dos dinheiros públicos.
No caso dos transportes há muito onde corrigir, inclusivamente nos alegados direitos dos trabalhadores, contudo como primeira medida e para servir de exemplo devia começar-se pela administrações. Nomeadamente com significativas reduções de ordenado e outras regalias e, se fosse o caso, com processos em tribunal. Alguém tem de ser responsabilizado pelo estado desastroso a que chegaram essas empresas.
Não foram só os funcionários públicos que ficaram sem os famosos dois meses. Pior foi terem aplicado o mesmo aos pensionistas.
E pior, ainda, aplicarem igual receita aos reformados «do sistema geral».
Acho bem, em teoria, que «obriguem» os famosos «grandes gestores» a mostrarem a sua competência nas empresas públicas em falência.
Mas a verdade é que não espero nada deles e estou cansada de lhes subsidiar a inteligência, o ordenado, os prémios e prebendas.
Para falar com franqueza e extrapolando um pouco, confesso que entendi finalmente a razão primordial da nossa aventura das Descobertas: todos sabemos que para morrer mais vale que seja depressa. E aqui, como se sabe, a morte é lenta, miserável.
Penso que é mais proficuo para todos preocuparmo-nos com a greve de qualidade, mérito e competência que bafeja os nossos governantes e seus apaniguados, do que implicar com a greve daqueles que têm por destino o desemprego.
Ao menos que acreditem em si por algumas horas.
Porque depois não haverá greve nem amanhã.
Cortadas as gorduras ao post (para utilizar uma linguagem cara aos competentissimos governantes que temos) restam nele 2 propostas: limitar o direito de greve e arranjar mais uma sinecura para um qualquer futuro ou ex-ministro.
Pelo meio, a aceitação implícita do esbulho dos subsídios de férias e de Natal e, claro, da culpa e da maldade intrínseca do sector público.
Estamos bem, estamos...
Caro Anónimo das 19.24: conseguir ler no post uma "aceitação implícita do esbulho dos subsídios de férias e de Natal e, claro, da culpa e da maldade intrínseca do setor público" é, na realidade, uma exegese bem sofisticada. Mas, enfim...
Senhor Embaixador:é tristemente espantoso que alguém interprete o post de hoje como expressão de uma
discordancia do direito a greve.
Mas quem considera que, mesmo como é o caso,abusar de exercer um direito é legitimo são os mesmos que no passado,e no presente, permanencem fieis a uma certa ortodoxia que denominam de defesa dos trabalhdores.
Quanto a sugestão de colocar as tais vedetas a gerir essas empresas não posso estar mais de acordo.
Elas merecem que se lhes dê uma opurtunidade de moestrarem os seus méritos.
"As regras que os guiam fazem parte dos intocáveis "acordos de empresa"? Também as regras que atribuíam ao funcionalismo público o subsídio de férias e o 13º mês faziam parte de um sólido "contrato" que todos supúnhamos ter com o Estado e que, no entanto, foram suspensas. "
Com o devido respeito, esta frase contem uma aceitação IMPLICiTA do esbulho, uma vez que o texto atribui aos acordos de empresa - que deveriam ser intocáveis - a "proteção" dos "tomadores de reféns ", o que parece estar errado.
Q.E.D.
Ex-Anónimo das 19:24
Mais de 90% dos administradores das EP's vem do sector privado, há muitos anos. Um pilantra de um Presidente da CP, Metro, CCFL, REFER tem um vencimento bruto de cerca de 60.000€ ANUAIS + viatura e motorista nos dias úteis (se usar a viatura fora disso paga IRS).
A situação financeira dessas empresas deve-se à ausência de capital social em correspondência com os investimentos que o accionista - TODOS OS GOVERNOS - lhes têm imposto ao longo dos anos. Para as equilibrar em termos de resultados operacionais não são precisos supergestores, mas para dizerem NÃO ao accionista é necessário INDEPENDÊNCIA e VALORES que muitos não podem demonstrar.
Nestas circunstâncias de penúria financeira ao longo de décadas e para evitar as greves, as sucessivas administrações foram comprando com concessões de direitos - alguns surrealistas, como o dos maquinistas do ML que têm subsidio para oculos de sol por trabalharem nos túneis - os sindicatos que , conhecendo a fragilidade, mais não fazem do que aproveitá-la.
Tendo governantes na Tutela directa -os actuais são, talvez, o exemplo mais sofisticado - que não conhecem o sector, não conhecem as empresas, não sabem nada de política de transportes e se rodeiam de meia duzia de elementos nos Gabinetes que nada fazem, por não saberem, que não seja transmitido/ensinado pelos "nucleos" do partido nas empresas, o resultado só pode ser este triste espectáculo.
E o mais fácil é sempre criticar os "outros"......, nomeadamente quando os Pilantras , por indigência, nem sequer sabe do que fala, mas a Tia do Solnado existe!
Em 2008 perdeu-se um grande momento de sermos patrióticos. Era o tempo de termos tido um governo com elementos da direita à esquerda. Pena. Agora, depois do leite derramado, não vale a pena chorar. O mais patriótico se calhar é irmos dizendo a verdade aos portugueses: a Europa se calhar já nem manda. Governa talves, pois quem manda está fora da Europa. Quanto à greve nos transportes é o canto do cisne de um tempo passado. Isso já todos perceberam. Senhor Embaixador, espero que muitos dos nossos governantes reconheçam que o Senhor Embaixador tem feito um grande papel... trazendo à colação problemas, reflexões e matérias do interesse público, neste blog, enquanto outros da nossa idade já deram o fora.
Senhor Embaixador
Depois de ler este seu post e respectivos comentários, pergunto a mim própria se este país, alguma vez, será governável!
Cara Dra. Helena Sacadura Cabral: compreenderá que não possa responder à sua interrogação, "for the time being"...
Estes dois últimos comentários, com o devido respeito, parecem revelar muita sobranceria. Não percebo porquê que os políticos, chegando à conclusão que este país é ingovernável continuam, “obstinadamente”, a propor-se fazê-lo. E são sempre os mesmos sem exceção, desde sempre. Tenho a firme convicção que há GENTE capaz de governar este país.
Porquê que não abandonam a política e se dedicam à sua carreira tão profícua (que tanto lhes dá prazer), como estão constantemente a alardear, “envergonhando-nos”, a nós, cidadãos comuns, por tão “disparatados” posts que ousamos emitir…
Aliás é uma regra que me parece que resolveria a questão: Quem perdesse iria para casa tratar da sua vidinha sem mais poder “aborrecer”… (melhor do que em Roma onde lhe tratariam da vidinha).
"Este pais" será, seguramente, governável.
Há muitos anos que o desgovernam e isso, seguramente, pode ser imputado aos votantes.
Só a cidadania e o seu exercício poderá alterar isso através da escolha de outro tipo de políticos, gente que rejeite a confrangedora mediocridade, a gritante incompetência, o bolorento acacianismo destes homúnculos políticos que se apossaram do Poder, que o usam como se lhes tivesse sido concedido ad eternam pelo Todo Poderoso.
A postura pedante dessas auto-proclamadas "elites", a arrogância pateta dos Drs. e Dras. Da mula ruça que reagem como se o Pais os não merecesse, seria risível se não tivesse resultados tão dramáticos..
Caro Anónimo das 21.30: Como compreenderá, não posso publicar o seu comentário
Subscrevo na integra com particular destaque para o último parágrafo.
Se são tão bons gestores assim que tal servirem o país recuperando quem precisa.
Cumprimentos,
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