sexta-feira, agosto 31, 2012

O léxico da crise

Há uns anos, quando vivi em Londres, deparei um dia com uma expressão na imprensa que me pareceu não corresponder àquilo para que a sua leitura linear apontaria: "industrial action". Vim a perceber que se tratava de uma designação geralmente usada para greves, mesmo que o processo não fosse desencadeado na área industrial.

O mesmo fenómeno voltou a acontecer comigo aqui em França. Um dia, deparei no jornal com a expressão "plan social". Não percebi imediatamente o que isso queria dizer, porque a expressão não era de leitura unívoca. Mas, pelo contexto, rapidamente entendi que isso queria significar, numa linguagem corrente, uma situação de despedimento coletivo numa determinada empresa.

O que levará os países mais ricos a esconderem, por detrás destes eufemismos, as realidades a que nós chamamos pelos nomes óbvios?

11 comentários:

Santiago Macias disse...

Aí, em França, há também o "mouvement social", de resultados semelhantes a uma greve light.

Helena Sacadura Cabral disse...

Os países ricos sabem muito...

Isabel Seixas disse...

Olhe Sr. Embaixador, têm a mania...

Anónimo disse...

Em França, um "Plan Social" é efectivamente utilizado como eufemismo para designar o despedimento colectivo numa empresa. Mas o dispositivo é mais abrangente dado que este faz parte do código do trabalho e envolve o conjunto de medidas tomadas pela empresa no intuito de limitar as consequências nefastas associadas aos despedimentos em massa.
O dia que os portugueses reivindicarem os seus direitos como os franceses, Portugal começará a ir para a frente.

Parabéns pelo Blogue, Sr. Embaixador ! Já faz parte da minha lista de Blogues e das minha leituras diárias !
Até breve ;)

Patinho Feio
http://campomaiorense.blogspot.pt/

Portugalredecouvertes disse...


eu penso que "plan social" tem uma visão de futuro: as pessoas despedidas terão que recorrer à segurança social

coisas algo diabólicas!

Anónimo disse...

"– Eu prefiro a França! – suspirou a esposa do primeiro-secretário, uma bonecazinha sardenta, de cabelo arruivascado.
– Ah! a França!... – murmurou um adido, revirando um bugalho de olho terníssimo.
O gordo Meriskoff ajeitou os óculos de oiro:
– A França tem um mal, que é a Questão Social...
– Oh! a Questão Social! – rosnou sombriamente Camilloff.
– Ah! a Questão Social! ... – considerou ponderosamente o adido.
E discreteando com tanta sapiência, chegámos por fim ao café."


patricio branco disse...

ERE, expediente de regulación de empleo / RSI (não poderia ter um nome mais directo e simples?) / ministerio da solidariedade social (que é isso? tudo e nada)/
etc, etc

patricio branco disse...

venham mais comentários anonimos com camiloff e outros individuos em dialogo no café...à maneira de ionesco ou do género. gostei

Anónimo disse...

É natural que goste. Outra coisa não seria de esperar.

a) Eça de Queirós

Helena Sacadura Cabral disse...

Anónimo da 22:30
Excelente peça. E uma delícia os nomes escolhidos para protagonistas...

Alcipe disse...

Mas é que é um trecho do Eça de Queirós - de "O Mandarim"!! Por favor!

Já chegámos à Madeira?

Alguém cria no Twitter uma conta com a fotografia, nome e designação do partido de Nuno Melo e coloca-o a dizer inanidades. Ninguém imagina ...