A grande vantagem de se andar por "outra" França é ter a oportunidade de ler uma imprensa regional de boa qualidade, que compense a grande desilusão que hoje é, com exceção do "le Monde", a imprensa nacional francesa, basicamente reduzida às duas caricaturas políticas, respetivamente de direita e esquerda, que nos oferecem o "Le Figaro" e o "Libération". Depois do fim do "La Tribune", resta-nos seriedade conservadora do "Les Échos" que, em matéria de revistas semanais, se prolonga na revista "Challenges". Nestas, o "Le Point" e o "L'Express" são hoje, na direita, uma sombra daquilo que já foram e da importância que já tiveram. À esquerda, o "Nouvel Observateur" tem ainda algum rigor, com o "Marianne" a surgir quase como um panfleto, agora algo "déboussolé" com a vitória da esquerda.
A imprensa regional francesa, com mais de meia centena de títulos, consegue, em alguns casos, compatibilizar sínteses nacionais e internacionais interessantes com uma cobertura local mobilizadora, sem cair no sensacionalismo do "crime & cia". A minha experiência da sua leitura é escassa, pontual e pouco representativa, mas devo dizer que, vindo de um país onde essa realidade quase não existe ao nível de jornais diários, aprecio bastante o "Sud ouest", as "Dernières nouvelles d'Alsace", a "Voix du Nord" ou o clássico "Dauphiné liberé" (que, contariamente ao "Le Parisien", soube manter a orgulhosa menção de "liberé", atribuído depois do fim da ocupação alemã).
Mas tudo isto, que é "como as cerejas", vem a propósito do facto de eu andar a ler, nos últimos três dias, o também excelente "Ouest France", que cobre a Bretanha e zonas um pouco mais a sul. E o que é que fui descobrir no jornal? A publicação diária de uma nova "aventura" de Blake e Mortimer, "Le serment des cinq lords", na versão de Yves Sente e André Julliard. Pode não ter a grandeza do "traço" de Edgar P. Jacobs, mas não deixa de ser uma aproximação bem interessante. Em novembro, sai o álbum a público. Desde ontem, a Amazon já tem a minha inscrição. Que saudades eu tenho de Olrik! Bandidos deste quilate já não há mais!
9 comentários:
Se meus demônios me abandonarem, temo que meus anjos desapareçam também.
Rainer Rilke
?????
há muito que não leio blake ou tintim, etc. Será tempo de voltar?
de mortimer o misterio da grande piramide que nos fazia sonhar aos 15 anos com a civilização egipicia, de tintim a orelha partida, que fazia sonhar com viagens à america do sul, paises dos incas, de bananas e fazendeiros, generais dando golpes, etc.
uma comiquita que nunca mais encontrei e de que perdi o rasto foi uma historia passada num castelo dum senhor feudal (mau) na polonia dos tempos medievais.
e flash gordon noutros planetas?
quando sair o novo blake, o do jornal de provincia francês, talvez seja altura de voltar a essa idade. Afinal, o livro do escritor mitteleuropeu que estou a ler, vou na pag 80, não tem graça e talvez o devolva na livraria onde o comprei há 3 dias sem o acabar
em portugal já não existe imprensa regional, é pena. em espanha ainda está bem viva e de boa qualidade, existem dezenas de bons diarios regionais com todas as secções completas e desenvolvidas. Mesmo os grandes jornais de madrid ou barcelona, abc, país, etc, têm as suas edições regionais de igual qualidade.
a imprensa do porto não é bem regional e começa infelizmente a fraquejar.
no funchal há o dn madeira, que ainda se pode considerar um diário normal.
Em coimbra creio que havia um diário, não sei se já desapareceu.
enfim, não somos propriamente um país de leitores e de alto nivel de ilustração, e agora as escolas fecham, os professores com 25 anos de carreira vão para o desemprego, etc, assim ainda haverá menos leitores, menos jornais, e quanto a blake e mortimer já nenhum publica o episódios
Boas férias na Bretanha ,assidua leitora do blogue e residente em Lorient. Alexandra
Não me parece que Le Figaro seja uma caricatura; o outro, talvez, um grupo de velhotes centristas e obrsos, a fingir que ainda querem "l'imagination au pouvoir" quando, na verdade, como disse um ex-camarada do bando, são "ceux qui sont passe's du col-Mao aí col roule'".
Patéticos.
Pois é..... em França há uns anos que está na moda ir-se viver para a província. Em Portugal ainda vai demorar muitos anos para essa moda pegar. O que os portugueses ainda querem é viver na capital, tal como os franceses no tempo de Luís XIV queriam viver em Versailles por isso aqui, o ir para a provincia assemelha-se a um exílio. Mas eu não sei.
Em Portugal há imprensa regional. Se ela é, ou não, dirigida aos emigrantes, isso é outra história.
Ó Senhor Embaixador que bela notícia me dá. Em sintonia lá me irei inscrever, embora admita estar em Paris por essa altura...
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