Numa série de retratos de vários países, desenhados em escrita através da obra de autores nacionais, o "Le Monde" de hoje, sob o título "Le Portugal ne rêve plus" (sem link), debruça-se, numa página inteira, sobre a obra de Francisco José Viegas, recortando passagens do anti-herói dos seus livros policiais.
Sem a menor surpresa, pelo texto perpassa um olhar melancólico sobre um país que alguma França não deixa de ver projetado num fundo de fado e tons sombrios. Tenho a sensação de que, para as "idées reçues" de muitos, Portugal, depois do tempo dos "bidonvilles" e das varinas do SNI, seguido do sobressalto político festivo de 74, regressou à velha caricatura da pátria da eterna nostalgia, desde sempre encalhada num passado que lhe tolhe o presente. É nesse país imaginário, que tem o sol por alegria e a tristeza por destino, que, para um certa França intelectual, encaixa hoje bem a estranheza interrogativa que Pessoa lança sobre essa gente de ambição contida e rumo incerto. Que somos (somos?) nós.
17 comentários:
Mas que futuro vê Vossa Excelência para a nossa terra pátria, "mãe pobre de gente pobre"? Eu só vejo somar pobreza a pobreza...
a) Feliciano da Mata, céptico
Caro Feliciano: Vejo o 5º Império, homem! E não me quero deixar deprimir pela malta da rima. Abrações
Gosto da reflexão.
Ainda te dava uma voltinha, magano!
a) Emerenciana da Anunciação, fadista do SNI, 98 anos
"...Portugal, depois do tempo dos "bidonvilles" e das varinas do SNI, seguido do sobressalto político festivo de 74, regressou à velha caricatura da pátria da eterna nostalgia, desde sempre encalhada num passado que lhe tolhe o presente."...
Senhor Embaixador, eu penso justamente o contrário. O nosso velho passado - não o meu nem o seu -, aquele que nos levou para outros mundos é que nos há-de salvar. Porque, nem mesmo quando sob sessenta anos de domínio espanhol, deixámos de nos afirmar.
Amo este Portugal doente como se ama um familiar próximo, a quem queremos a todo o custo tratar.
Porém, se nem o médico nem o tratamento resultarem, só há uma solução: mudar de clínico e de terapia...
Mas nunca, jamais, deixar o doente entregue à sua própria doença.
Possivelmente serei caduca nesta amor extremo que dedico ao meu país. Mas já vivi tempo suficiente para saber que um dia soltamos a âncora e voltamos a navegar.
Se assim não fosse, o ter decidido ficar em Portugal, quando a maior parte dos amigos saiu, careceria de sentido e hoje estaria profundamente frustrada. Não estou. Apenas fico, muitas vezes, triste com o que vejo.
Mas democracia é isto mesmo: submeter-nos ao voto de quem elegeu os governantes que temos, os autarcas que iremos ter e o amigalhaços que teremos de suportar. Até que...!
Meu caro Feliciano da Mata
Um "empreendedor empresário" que tantos ramos de actividade tem tocado, não pode pensar assim.
Então as antenas de tv, o transporte de mobiliário, o serviço como mordomo aos grandes do país, não lhe ensinou a ter confiança no futuro?!
Cara Dra. Helena Sacadura Cabral: eu, por deformação profissional e atitude pessoal, sou um otimista. Não me (nos) olho como nos olham os (ou alguns) franceses, como no retrato que deixei. Andamos "nisto" há nove séculos, era o que mais faltava que nos deixássemos "ir abaixo" por um conjuntura menos boa!
Eu concordo com o Senhor Embaixador, ó Senhor Feliciano. Também a mim me foge a chinela patriótica para o 5º Império. Mas, cada vez mais, só depois da 5ª imperial...
Ronaldo Azenha (Pont-de-Sèvres)
Há o depois de amanhã. Sem dúvida. Isto foi escrito para nós. São poucos os povos que tenham tido uma epopeia, quanto mais duas!
"Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(...)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro,
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora!"
Senhor embaixador, trascrevo este trecho para quem acredita "no QUINTO... e já o vê".
Aos "portugueses" fazia bem uma cura de realidade. Uma semaninha num país não-europeu e voltavam logo curados dos pessimismos...
Estão mal habituados, é o que é!
Eu concordo com a opinião do Sr.Ronaldo Azenha:
que a 5ª imperial está mais à mão dos portugueses que o 5º império!
Então se os nossos jornais e noticiários estão cheios de tons sombrios, como é que as notícias feitas pelos outros poderiam ser diferentes? Ainda por cima, estará provado que, "o que é mau" vende melhor.
Além de que nem sempre se fica bem no retrato, provavelmente até é uma questão de fotogenia, nem sempre Portugal aparece fotogénico nem todos os olhos sabem ver...
Já vou na decima imperial e Império nem vê-lo! A receita deve ser como as da troika, senhor Ronaldo Azenha...
a) Feliciano da Mata, opositor de consciência ao balão de controle da alcoolemia.
Num comentário concreto à imagem que ilustra este texto, trata-se do navio costeiro Açoreano MARIA EUGÉNIA, que aguarda há anos a sua reconstrução e pertence a um grupo de entusiastas voluntários. Vai regressar ao mar dos Açores, só não se sabe quando, um bom retrato...
Oh, o sindrome de abstinência
que flui após a ressaca
leva é a ter incontinência
Caro Sr. Feliciano da Mata
Nem dez ou vinte imperiais
provocam essa abstração
o que o sr. precisa, é mais
de vinho maduro carrascão
O quinto império sonhado
nem de leve nem de perto
foi por Pessoa sonhado
como o seu sonho deserto
Agora é mais do que evidente
que o Quinto Império
"são" sentidos
É tão grande o seu mistério
Que o que Pessoa Faz que sente
é ilibar de culpa o adultério
por Ser o amor dos Perdidos...
E O Sr. por inerência é um Borracho
Qual o sentido de emborrachar-se, tendo per si assegurado o seu tacho
Com um curriculum de invejar-se
A gestão no quinrto império
é feita por Imperatriz
logo livre e com o critério
De amar,quem apenas, quer ser Feliz
Eu li a entrevista e não achei mal. Nós somos assim. Os do Quinto Império foram lá para fora e por lá ficaram.
a) Alcipe
O que espero é que tudo quanto se passa em Portugal seja um ponto de viragem. Que tudo mude de uma forma redentora e que se possa recomeçar tudo de novo, sem 5º Império e tudo o resto do passado próximo ou longinquo. Mas... eu não sei.
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