Há cerca de 12 anos, fui convidado a prestar um testemunho para um volume publicado em homenagem a Francisco Lucas Pires (1944-1998). Agora que se assinalam 20 anos sobre a sua morte, com a exibição ontem, na RTP 2, de um documentário que lhe é dedicado, deixo aqui esse texto:
“Conheci pessoalmente Francisco Lucas Pires em andanças europeias, na segunda metade dos anos 90. Era uma figura que, há muitos anos, me intrigava, política e intelectualmente. Dele tinha desenhado uma primeira imagem caricatural, ligada à aventura conservadora da “Cidadela” coimbrã. Bem mais tarde, pareceu-me poder ler, no discurso que desenvolvia como ministro da Cultura da AD, um tom saudavelmente heterodoxo, particularmente num tempo governativo que chegou a ter inquietantes derivas radicais. Como líder do CDS, fiquei com a sensação de que nem sempre se sentia muito confortável com o espartilho partidário, esforçando-se para compatibilizar o formalismo da função com a intransigente vontade de pensar as coisas pela sua própria cabeça. Mas foi como Deputado europeu que Lucas Pires verdadeiramente me surpreendeu.
Porque oriundo de uma escola de pensamento nacionalista, foi uma revelação encontrar em Francisco Lucas Pires uma das reflexões mais originais sobre o posicionamento de Portugal na Europa. Era um tempo em que, para muitos, o “europeísmo” era apenas um sinónimo de comodidade cínica com os fundos comunitários. Posso imaginar que a sua formação germânica o tenha ajudado a perceber melhor as virtualidades do processo integrador do continente. Mas terá sido, sobretudo, a sua inteligência que o levou a formular a defesa empenhada numa postura pró-activa de Portugal na aventura europeia, convocando em seu apoio clássicos que de que estivera distante, como António Sérgio, Vitorino Magalhães Godinho ou Eduardo Lourenço.
A imagem essencial que me ficou de Francisco Lucas Pires é a de um cultor obsessivo da liberdade, um espírito agudo e irónico, alguém queapreciava a vida e que, talvez por isso, se impacientava muito com a estupidez dos que a não sabiam viver. Um dia, num colóquio em Bruxelas,em que éramos os dois oradores convidados, perante a irrelevância e o paroquialismo pateta de algumas perguntas, sussurrou-me: “Veja você o que nós sofremos pela Europa…”. “
A imagem essencial que me ficou de Francisco Lucas Pires é a de um cultor obsessivo da liberdade, um espírito agudo e irónico, alguém queapreciava a vida e que, talvez por isso, se impacientava muito com a estupidez dos que a não sabiam viver. Um dia, num colóquio em Bruxelas,em que éramos os dois oradores convidados, perante a irrelevância e o paroquialismo pateta de algumas perguntas, sussurrou-me: “Veja você o que nós sofremos pela Europa…”. “