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sexta-feira, junho 18, 2010

Gaullismo

A França com memória celebra, na data de hoje, o apelo feito há 70 anos, pela rádio, de Londres, pelo general de Gaulle, que consagrou o reerguer do seu país sob ocupação estrangeira.

Charles de Gaulle permanece uma figura política polémica, sem que isso signifique que não seja, a todos os títulos, uma figura maior da história francesa. A sua linha de ação política, de que alguns se reivindicam e de que outros se distanciam, continua a ser objeto de análise. As grandes orientações da sua política externa são regularmente evocadas e postas a par das opções contemporâneas que se abrem à França no campo internacional. No ano em que se celebram os 50 anos das independências africanas, o general é lembrado pelas decisões então tomadas nesse âmbito e pelo quadro da "françafrique" que geriu. Algumas das suas opções em matéria de política económica são hoje olhadas com curiosidade, à luz do intervencionismo que os últimos tempos acabaram por ditar. O carater espartano da sua vida e da sua postura é, frequentemente, constrastado com o dos seus sucessores no cargo.

Gostem ou não os franceses do general de Gaulle como líder político e partidário, o que parece incontestável é que, no seu apelo de há 70 anos, ele soube representar o mais profundo do sentimento da França como país. E essa memória permanecerá sempre como a marca mais prestigiante da sua imagem.

sábado, junho 12, 2010

Europa

Uma intensa agenda de compromissos com a Comunidade portuguesa em França, durante estes dias, impediu-me de aceitar um convite para estar hoje nos Jerónimos, na comemoração dos 25 anos de assinatura do Tratado de Adesão de Portugal às então Comunidades Europeias.

Tive o privilégio profissional de integrar, meses depois dessa data, a primeira equipa que, em Lisboa, passou a coordenar as relações com Bruxelas. A Europa ocupou, desde então,  uma parte importante da minha vida. Dez anos depois da adesão, couberam-me responsabilidades diferentes nessa mesma área, desta feita de natureza política, por um período de mais de cinco anos. Sobre a Europa escrevi e palestrei muito.

Ao fim deste tempo, de tudo o que se passou desde então, às vezes dou comigo a pensar se ainda acredito no futuro do projeto europeu. Quero acreditar, até porque ele é do interesse objetivo de Portugal. Mas cada vez mais me interrogo se, num ambiente político que é bem diferente dos anos de entusiasmo que já se viveram, as coisas irão evoluir no melhor sentido. De uma coisa tenho absoluta certeza: alguns dos países que, desde o início, estiveram no centro do processo integrador europeu vão acabar por arrepender-se da sua recente deriva para a intergovernamentalidade. Resta esperar que ela não acabe por ser trágica para todos os restantes.

No que a Portugal toca, neste dia, um mínimo de justiça obriga a que lembremos a figura histórica que, no momento certo, soube conduzir-nos pelos caminhos da Europa: Mário Soares. 

Sejamos otimistas e ouçamos hoje o meu velho amigo Fausto a cantar o seu "Europa, querida Europa".

quinta-feira, junho 10, 2010

Estátua de Camões

Luis Vaz de Camões, cujo aniversário da morte ontem se assinalou, teve um busto seu, em bronze, inaugurado em Paris, em 1912. Ao que consta, a vizinhança não terá apreciado a obra e, num "golpe de mão" noturno, fê-lo desaparecer, menos de um ano depois. Depois de um acidentado percurso, o tal busto acabou, felizmente, na posse da Fundação Calouste Gulbenkian.

Anos mais tarde, em 1924, uma nova estátua - que se vê na imagem - foi instalada ao fundo da escadaria em que a avenue Camoens se cruza com o boulevard Delessert, a dois passos do Trocadéro.

Ontem, numa simples cerimónia evocativa, apenas acompanhado por funcionários da Embaixada, coloquei lá uma coroa floral, com as cores da nossa bandeira. Notei, com agrado,que alguém já tinha tido o cuidado de deixar um ramo de flores ao nosso poeta.

quarta-feira, junho 09, 2010

Dia de Camões

Quantos, dentre as muitas centenas de convidados que hoje encherão os salões desta nossa Embaixada em Paris, por ocasião do dia nacional português, saberão que a data corresponde àquela que a História assinala como sendo a da morte do poeta que, mais do que ninguém, nos simboliza?

Quantos saberão que, a partir do ano em que essa morte ocorreu, Portugal passaria, por seis imensas décadas, a ver a sua vida tutelada por um rei vindo de fora? E que soube sair dessa situação, com dignidade e coragem?

Poucos se lembrarão dessas duas circunstâncias, sendo verdade que as receções comemorativas não são, seguramente, os locais mais convenientes para convocar temas de solenidade histórica. Mas talvez fosse útil, em especial em tempos que mobilizam algum pessimismo, que aos portugueses fosse lembrado que, desde há cerca de 900 anos, eles constituem uma entidade nacional própria e autónoma, com fronteiras que praticamente permaneceram idênticas desde então. Que lhes fosse dito que, no passado, muitas crises chegaram e de todas elas soubémos sair. Que passámos por períodos de ferozes lutas internas e de resistência a invasões e agressões externas. Que tivemos bons dirigentes e outros a que a História nos podia ter poupado. Que cometemos barbaridades e que fizémos coisas magníficas. Que criámos um imenso império e que, ao fim de alguns séculos, regressámos, pela ordem natural da História, à origem geográfica desta bela aventura que continua a chamar-se Portugal. E que aqui estamos, reconciliados com o mundo e com tudo o que fomos e somos, para continuar esse mesmo caminho.

Quando alguns portugueses contemporâneos por aí andam, com ar de patética gravidade, a espalhar o desânimo e o derrotismo, apetece-me lembrar-lhes que, por muito importantes que se considerem, por muito que se queiram arvorar em vedetas incontornáveis de mais um ciclo de culto da finis patriae, eles são apenas a triste decantação masoquista da sua própria impotência e mediocridade. E que este país vai continuar, malgré eux.  

segunda-feira, junho 07, 2010

Mocidade

A notícia de que algumas escolas vão vestir crianças com fardas da Mocidade Portuguesa é , a meu ver, reveladora de duas coisas.

A primeira é que parece haver, em Portugal, quem não tenha aprendido nada com a História. A segunda, bem pior, é que o facto disto se passar sem um sentimento público de forte rejeição revela um preocupante estado de anemia cívica. 

Só falta que ponham as crianças a fazer a saudação romana/nazi...

sexta-feira, maio 28, 2010

28 de Maio

Poucos portugueses reconhecerão a figura representada nesta fotografia. Eu diria mesmo que alguns não farão sequer ideia de quem é, mesmo que se lhes diga que o seu nome é António Maria da Silva.

Porém, neste ano em que se comemora o centenário da implantação da República e nesta data de 28 de Maio, na qual, em 1926, começou um regime ditatorial que só terminaria em 25 de Abril de 1974, importa recordar que esta personalidade era então o primeiro-ministro legítimo de Portugal e cujos poderes foram usurpados pelo golpe militar. 

António Maria da Silva (1872-1950) era engenheiro de profissão, membro do Partido Republicano Português, tendo sido uma figura proeminente da 1ª República portuguesa (1910-1926), período durante o qual exerceu diversos cargos de governo.

sábado, maio 01, 2010

"1º de Maio vermelho"

Hoje, vistas as coisas à distância, tudo nos parece ridículo, mas, há 36 anos, a ameaça feita pelo MRPP (Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado) de fazer um "1º de maio vermelho", com alguma possível violência à mistura, assustou o Movimento das Forças Armadas (MFA). Alvo crescente da repressão policial, o MRPP fora já responsável, nos meses antes de Abril, por algumas ações de rua, dedicadas à luta contra a guerra colonial, com confrontos relativamente fortes.

O anúncio dessa movimentação no Dia do Trabalhador havia sido feito ainda antes do 25 de Abril, mas todos estávamos conscientes que os "eme-erres" haviam interpretado o golpe militar como um mero rearranjo de "forças da burguesia", sem qualquer impacto nos "interesses profundos das classes trabalhadoras". E o facto de insistirem em organizar uma forte movimentação no dia 1 de Maio, não obstante ter entretanto ocorrido o movimento democrático do 25 de Abril, não sossegava alguns militares.

Não cabe aqui, por ora, fazer o historial do MRPP, um grupo criado em 1970 e com uma génese diferente da dos restantes movimentos que, em Portugal, se reclamavam do maoísmo. Muito ativo no meio académico, com particular expressão em Lisboa, dispunha de uma simpatia clara em sectores da imprensa, bem como em algumas estruturas sindicais de serviços. Conhecido por um grafismo colorido, que se espalhava por folhetos, jornais clandestinos e por muitas paredes, o MRPP era, visivelmente, a principal força política que não saudara a Revolução.

A circunstância de ter o Partido Comunista Português como um alvo prioritário da sua ação, antes e após o 25 de abril, levaria algumas forças bem mais conservadoras a ver o MRPP com alguma simpatia tática, que ficou bem patente nos primeiros anos da Revolução de Abril. A posterior evolução política de alguns antigos membros do MRPP viria a provar que essa aliança tinha também algo de potencialmente estratégico. Para simplificar, e citando a análise da minha amiga Diana Andringa, ela própria ex-MRPP, há a perceção de que a grande maioria de quantos eram seus militantes antes do 25 de Abril acabou "à esquerda" na vida política portuguesa; os que aderiram após o 25 de Abril, muito marcados que foram pelo combate ao PCP, tenderam maioritariamente a fazer uma opção mais conservadora. Esta conclusão pode não ser uma verdade absoluta, mas é capaz de ser a base para uma boa leitura.

Mas voltemos ao 1º de Maio de 1974. O ambiente de confiança que o 25 de abril criara no país poderia ser afetado, na perspetiva de alguns dos militares por ele responsáveis, se acaso o MRPP viesse a promover algumas ações violentas. A confiança pública na Revolução e a própria estabilidade que o país pretendia projetar externamente poderiam ficar em causa se viessem a ocorrer incidentes graves. Que fazer, então? Talvez  seja difícil de acreditar nos dias de hoje - depois do que efetivamente se passou em Portugal, no dia 1º de maio de 1974 - mas uma ideia inicial, que chegou a ser pensada em meios militares, foi tentar encontrar uma maneira de evitar que os portugueses saíssem de casa nesse dia... 

Com o objetivo de tentar discutir a utilização da RTP com esse objetivo, o MFA convocou uma reunião para a Escola Prática de Administração Militar (EPAM), no dia 27 de Abril. Nela reuniu um impressionante grupo de intelectuais, num "brainstorming" chefiado pelo capitão Teófilo Bento, com António Reis e eu próprio a acolitá-lo. Pela sala espalhavam-se figuras como Luis de Sttau Monteiro, Mário Castrim, Luis Francisco Rebelo, Álvaro Guerra, Manuel Jorge Veloso, Manuel Ferreira, Adelino Gomes, Orlando da Costa e creio que duas ou três dezenas mais de figuras cimeiras da nossa vida cultural e jornalística. O debate foi longo, as propostas choveram sobre o modo como a televisão podia vir a ser utilizada para "trabalhar" os primeiros tempos da Revolução. Porém, a ideia de a tornar um instrumento para evitar a saída às ruas no 1º de maio foi, ao que me lembro, rapidamente abandonada. Era, de facto, uma mera questão de bom senso...

Para a história, convém apenas notar: o MRPP lá comemorou, a partir do Rossio, o seu "1º de maio vermelho". Com muitos slogans e sem violência. E o 1º de maio de 1974 acabou, para todo o Portugal, por ser uma coisa bem diferente, como todos recordam.

sexta-feira, dezembro 04, 2009

Camarate

Faz hoje 29 anos que o primeiro-ministro Francisco de Sá Carneiro e o ministro da Defesa Adelino Amaro da Costa, bem como várias outras pessoas que os acompanhavam, pereceram num desastre aéreo em Camarate, nos arredores de Lisboa.

Sá Carneiro era, há menos de um ano, primeiro-ministro de Portugal. Viviam-se tempos políticos de grande tensão, com eleições presidenciais a terem lugar  três dias depois.  As condições em que as mortes tiveram lugar deram origem, desde então, a uma interminada polémica - entre os que entendem que se tratou de um acidente e os que favorecem a tese de um atentado.

É sempre pena ver a análise de acontecimentos desta importância reconduzida e praticamente reduzida ao contraditório do debate político. A imagem dos países sai sempre engrandecida quando questões com esta gravidade ficam totalmente clarificadas, com a verdade a emergir por si própria e de forma indisputada. Infelizmente, no caso do desastre de Camarate, a história política portuguesa terá de viver, para sempre, com o peso do enigma.

domingo, junho 14, 2009

Portugueses

As festas populares no seio da comunidade de origem portuguesa em França têm um carácter de grande autenticidade e de uma extrema fidelidade às raízes nacionais. Andei por várias nestes dias e pude falar com imensa da nossa gente que já tornou francês o seu sonho de vida.

Achei muito curioso nelas ver os símbolos do futebol português, com expressão nacional ou clubística, surgirem como "bandeiras" de orgulho português. Embora eu me pergunte se parte desse mesmo orgulho, expresso em alguns outros símbolos mais radicais de teor nacionalista, patente em peças de vestuário, não poderá vir a contribuir para um isolamento, no seio da sociedade francesa, de quem recorre à sua afirmação quase agressiva. A ver vamos.

A festa da Rádio Alfa, realizado no domingo, foi um desses momentos onde pressenti que os portugueses revelam hoje uma saudável serenidade face à livre e alegre expressão da sua identidade numa sociedade que, podendo pontualmente ser tentada a menorizá-los, no fundo os respeitam e até os admiram. Por razões que são cada vez mais óbvias, a França encontra, dia-a-dia, razões de sobra para reforçar essa atitude face aos "seus" portugueses.

Igualmente emocionante, mesmo para quem as coisas da fé nada dizem, foi o encontro dos portugueses que encheu a Notre-Dame de Paris, ao final da tarde de sábado, com os coros da comunidade de origem portuguesa a ressoarem, na nossa língua, naquele magnífico espaço, durante a cerimónia religiosa que lhes foi dedicada, celebrada a elevado nível eclesiástico. No final, alguns dos nossos compatriotas pediram-me para, no próximo ano, podermos ter por lá a nossa bandeira nacional. Confesso que estou hesitante: os portugueses que ali estiveram presentes são, por estas terras, a nossa verdadeira bandeira. Não é preciso nenhuma outra.

terça-feira, junho 09, 2009

10 de Junho

Há 429 anos, dia por dia, morreu o poeta que nos habituamos a ligar à própria identidade do país - Luís de Camões. Foi um ano duplamente triste, esse de 1580, em que a soberania portuguesa passou a ser tutelada por Madrid, uma humilhação histórica que duraria ainda seis décadas.

O sentimento nostálgico que nos atribuem está bem expresso na escolha da data da morte de um poeta como o nosso dia nacional. E a arte do compromisso está, de forma bem visível, flagrada no complexo nome que o 10 de Junho hoje tem - Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

Infelizmente, para muitas pessoas, esta data não passa de mais um feriado, que a habilidade ajuda frequentemente a transformar numa longa ponte. Este, porém, é o verdadeiro Dia dos Portugueses, uma festa que sublinha a forma diferente que temos de estar no mundo e pelo mundo. E é assim que o vêm, saudavelmente, muitas associações portuguesas aqui em França, celebrando-o com alegria e sem pompa, em imensas iniciativas populares realizadas ao longo das últimas semanas.

sábado, junho 06, 2009

Dia D

Hoje, na Normandia, comemoraram-se os 65 anos de um dia decisivo para a libertação da Europa. De toda a Europa? Não. Para além da Europa que Ialta deixou sob a tutela de Moscovo, os aliados "esqueceram-se", por razões que a Guerra Fria explicará, de fazer um gesto favorável ao desmantelamento das duas ditaduras ibéricas. E assim o povo português foi condenado a mais três décadas de autoritarismo e o nosso Dia D foi adiado até 25 de Abril de 1974.

O outro 25

Se a manifestação dos 50 anos do 25 de Abril foi o que foi, nem quero pensar o que vai ser a enchente na Avenida da Liberdade no 25 de novem...