Faço parte de quantos - e somos muitos - gostam de ver o Partido Socialista à frente do governo do país. Tenho para mim que a esquerda democrática é a direção política que melhor corresponde à execução dos propósitos da nossa Constituição - e eu aprecio bastante o sábio equilíbrio, entre a retórica de Abril e o pragmatismo do bom senso, desse documento estruturante da nossa democracia.
Por isso, mesmo em tempos em que discordei do PS, votei quase sempre socialista - e digo “quase” porque me abstive algumas vezes. Em outras ocasiões, segui o sábio conselho de Alexandre O’Neill: “Ele não merece, mas eu voto PS”.
Nunca me arrependi, sequer por um instante, de ter votado socialista, pelo que me sinto também plenamente solidário - diria mesmo, politicamente co-responsável - com os erros cometidos pelos seus governos (todos, para que não fiquem dúvidas), em dois dos quais modestamente colaborei.
O PS tem, em regra, para o meu gosto, um modo democrático, participativo e pouco autoritário no exercício do poder que o afasta, para bem melhor, do seu principal adversário no mercado eleitoral.
O PS é o partido que espelha de forma mais real, na minha perspetiva, o que Portugal é, como país, nas qualidades e nos defeitos. Por isso, o PS também é como esse país: tem gente boa e gente má, tem pessoas dedicadas e qualificadas, tem oportunistas e incompetentes. O PS não é um clube de virtudes mas, vistas as alternativas, é, a grande distância, o porto mais seguro do voto dos portugueses. E talvez por isso, na história política da nossa democracia, os portugueses tenderam, maioritariamente, a escolher o PS para os governar.
É claro que os socialistas sempre alimentaram, dentro de si, algumas divergências, doutrinárias e pessoais. Achei sempre isso bastante saudável. E, se se olhar para o estado de sítio permanente em que o seu principal adversário vive ciclicamente mergulhado, o PS apresenta um invejável mar de estabilidade política interna.
Em 2015, quebrando, a nível nacional, um tabu que Jorge Sampaio já tinha afastado antes a nível autárquico, António Costa fez um sábio acordo político à sua esquerda, que permitou compatibilizar o que parecia ser uma insuperável quadratura do círculo: reverter algumas medidas com que o fundamentalismo da austeridade tinha atormentado muitos portugueses e, ao mesmo tempo, preservar compromissos internacionais essenciais para a respeitabilidade do nosso Estado.
Na execução desse projeto, António Costa revelou-se um excelente primeiro-ministro, num tempo de exigência única em que soube pilotar, naturalmente ajudado pela conjuntura externa, uma notável estabilização da situação financeira, ao mesmo tempo que enfrentava, como muita coragem e imensa serenidade, o ciclo da pandemia de que ainda não saímos. Pelo meio, ainda teve a tragédia dos incêndios e outros azares que fazem parte da vida dos executivos.
António Costa fez tudo bem? Rodeou-se sempre das pessoas certas? Claro que não! Podia ter feito outras opções? Com certeza que sim. Mas só uma perspetiva muito sectária não reconhecerá que dificilmente as coisas poderiam ter seguido um rumo radicalmente diferente, num tempo que foi de exigência limite. A mim, com toda a sinceridade e a muito longa distância de qualquer outra opção, nenhuma outra pessoa me oferece maior confiança para continuar a gerir o país do que António Costa.
Ousando imitar O’Neill, eu diria: sei que há gente que não gosta, mas eu voto António Costa.
6 comentários:
A relação dos portugueses com o PS faz-me sempre lembrar daquela canção da cantora Ana:
«Quanto mais te bato,
Tanto mais gostas de mim.
Este é o meu retrato.
Já não mudo, eu sou assim.»
(não, isto não tem nada a ver com violência de género porque é a mulher a agressora)
Fica aqui o link para a canção:
https://www.youtube.com/watch?v=a_5DFC7fAR4
Sempre PS, também.
Muitos Parabéns e que conte muitos mais.
Um abraço.
Faço minhas as palavras aqui escritas.
Sou uma leitora diária do blogue e quero agradecer o seu trabalho. Textos impecáveis, histórias interessantíssimas. Aprendo sempre alguma coisa.
Nem mais, Sr. Embaixador!
Se for tudo assim ganhamos largo!
Senhor Embaixador, caro amigo, somente um pormenor: Diz que António Costa mais o sábio acordo político à esquerda levou a "reverter algumas medidas com que o fundamentalismo da austeridade tinha atormentado muitos portugueses". Poderia explicar? Quais as alterações, relevantes, ou fundamentais, que foram feitas? Obrigado de antemão pelo esclarecimento. Abr Francisco Guerra Tavares
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