terça-feira, janeiro 04, 2022

As teses de janeiro

Do que Rui Rio disse no debate com André Ventura ficou clara uma coisa: o PSD não fará um governo que inclua o Chega mas estará aberto a negociar o seu apoio parlamentar em troca da reinterpretação "semântica" que fará das propostas mais radicais desse partido.

Sob pena de uma revolta interna que, com toda a certeza, ameaçaria a própria liderança, uma direção do PSD nunca poderá vir a admitir, como não admitiu no Açores, que havendo a mínima possibilidade de afastar o PS do poder, isso não viesse a ocorrer apenas pelo "prurido" de poder necessitar de ter, para tal, o apoio do Chega.

O Chega, nessa circunstância, sacrificar-se-á, “por patriotismo", como única forma de afastar "o socialismo do governo", desistindo, no segundo seguinte, das suas “imprescindíveis” (se bem que implausíveis) pastas ministeriais, passando a aceitar que o PSD, num jogo de "ambiguidade construtiva", recupere pontualmente "o essencial" das suas bandeiras. O eleitorado do Chega não perdoaria a André Ventura uma atitude diferente.

Os eleitores do Chega, como Rui Rio bem sabe, não nasceram do nada: vieram, essencialmente, do eleitorado tradicional do PSD e, tal como grande parte da IL (neste caso, há que contar com caras novas), só se organizaram autonomamente pela mera razão de que Passos Coelho já não estava na liderança do PSD.

Custa-me a dizer isto por alguns amigos, mas, em face do radicalismo (diverso, mas radicalismo na mesma) que hoje o Chega e a IL representam, sou obrigado a recordar que essas linhas já estiveram dentro do PSD, isto é, o PSD era também aquilo. No final de contas, o PSD foi o partido em que André Ventura era dirigente.

16 comentários:

jose duarte disse...

O RR- O PSD, nunca vai esclarecer a sua relação com os seus "filhos: IL e Chega, pela simples razão que vai precisar dos seus votos para formar governo mas,vai escondê-lo. Dizendo de outra maneira: se o resultado eleitoral der uma maioria de direita o PSD não patrocina um governo com o apoio parlamentar dessas forças radicais??
Da mesma forma vai ziguezaguear em relação ao programa de governo.

Jaime Santos disse...

Exatamente, se Rui Rio queria entalar o PS acusando-o de atirar o PSD para os braços do Chega, ontem ficou claro que o PSD não precisará do PS para nada para fazer isso. Costa bem pode mandar Rio bugiar se este o tentar entalar.

A geringonça à açoriana irá tornar-se a geringonça nacional. Como aliás tem acontecido por essa Europa fora, em que a Extrema-Direita ou a Direita Populista garantem a governabilidade da Direita mais moderada, que se vai 'imoderando' no processo e assumindo as bandeiras do Extremo.

Aliás, percebeu-se ontem da discussão relativa à pena de prisão perpétua que se Rio falou em nome próprio e não em nome do PSD (o homem é um desastre, é incapaz de 'stay on message'), se o PSD ganhar as eleições, a ver vamos se não segue o caminho do líder...

Parece-me que o Chega e a IL foram sobretudo roubar eleitorado ao CDS, mas convenhamos que a tralha salazarista, mdlpista, cavaquista e passista que vegetava no PSD tinha que arranjar uma nova casa depois da recomposição da Direita...

A propósito, não entendo como os comentadores de serviço na SIC deixaram passar em branco as enormidades de Rio. Ou melhor, percebo, Pedro Marques Lopes, o mano Costa e Ângela Silva estão todos a torcer por uma vitória do PSD...

João Forjaz Vieira disse...

O radicalismo do PCP e do Bloco de Esquerda não interessa para nada.
O estranho eleitorado do Chega no Alentejo vai esvaziar o CDS, coitado.
O IL extremista? Caramba, tenho que ter cuidado no meu voto!
João Vieira

José disse...

E, basicamente, vai ser a mesma conversa durante toda a campanha eleitoral...

E, assim, o PS não terá de ser confrontado com os defeitos da sua governação, o PSD não poderá falar das virtudes das suas alternativas e o circo continuará alegremente se afundando.

Quem não vos conhecer, que vos compre!

Luís Lavoura disse...

Jaime Santos

a Extrema-Direita ou a Direita Populista garantem a governabilidade da Direita mais moderada, que se vai 'imoderando' no processo e assumindo as bandeiras do Extremo

Isso foi precisamente aquilo que aconteceu com a esquerda durante os últimos seis anos. A extrema-esquerda e a esquerda populista garantiram a governabilidade do PS, o qual no processo se foi imoderando e assumindo algumas bandeiras do extremo.

Maria João disse...

Na mouche, José.

Jaime Santos disse...

Explique lá, ó Luís Lavoura, em que é que o PS se 'imoderou'. É que eu sinceramente não sei em que foi. Não se tornou antieuropeísta como o BE e o PCP, insistiu no discurso das contas certas contra a insistência das Esquerdas para que abrisse os cordões à bolsa (foi isso que provocou a crise presente) e certamente que não se tornou anti-capitalista e passou a defender o coletivismo, a não ser que considere o salvamento da TAP como exemplo disso, mas a ser assim, a Sra Merkel, que meteu dinheiro na Lufthansa, também é socialista.

E, note-se, o PS nem sequer reverteu as medidas do tempo da troika no âmbito da legislação laboral, outra das grandes bandeiras das Esquerdas.

E depois há um outro pequeno grande problema com a sua argumentação, a saber a falsa simetria entre BE e PCP-PEV e o Chega. Já aqui tenho denunciado repetidamente a hipocrisia do PCP relativamente à natureza dos regimes comunistas noutras paragens que insiste em não ver como as ditaduras que são, mas quer este Partido quer o BE são Partidos Constitucionais, e nunca os vi a acicatar os ânimos da população contra minorias como a comunidade cigana ou a defender a prisão perpétua ou, pior, a castração química de pedófilos que além de um castigo cruel é uma mutilação de carácter irreversível, logo de impossível reparação em caso de erro judiciário (e também parece que não funciona, mas isso é de somenos, se funcionasse era igual).

A Direita chateia-se muito com as posições dos Partidos de Esquerda contra a UE ou contra o capital, mas isso são questões relativas à organização do Estado e logo passíveis de debate político (muito embora eu esteja frontalmente contra estes Partidos). Os dislates cruéis de Ventura não são, são o discurso cobarde de alguém que foi condenado por insultar uma família de cor com insultos racistas, incluindo uma criança. E isso faz toda a diferença e quem se meter na cama com ele já sabe ao que vai.

Mas todo este azedume compreende-se pela má consciência de uma Direita que se não colaborou com o regime de Salazar, pelo menos a ele não resistiu. Obviamente, há exceções de grande coragem, é preciso não esquecer que o provável Presidente Eleito, Humberto Delgado, cobardemente assassinado pela PIDE, era um Homem de Direita. Outro exemplo era Henrique Galvão, que rompeu com o regime depois de ter reportado da situação terrível dos nativos em África.

Infelizmente, em relação a eles, essa Direita não diz palavra e quer antes celebrar o Coronel Jaime Neves...

Mas, feitas estas ressalvas, eu nem sequer estava a fazer um juízo de valor quanto à opção de Rio. Gostaria apenas que ela a assumisse, warts and all, antes das eleições, como Costa o fez em 2015, e depois os eleitores de Centro que decidam, em vez de andar a pedir a Ventura que este lhe sirva de muleta... Ventura pode ter muitos defeitos, mas não é burro nenhum, e Rio que não nos faça também de burros a nós...

diogo disse...

A extrema direita , ou a direita populista , como lhe queiram chamar , são os eleitores do centro direita que estão fartos do políticamente correcto , do inclusismo e outras pérolas da política do não me comprometas . Assumo-me como tal . mas há que ter diplomacia , porque o Trumpismo barato não leva a lado nenhum . E a extrema esquerda também não .

Jaime Santos disse...

O problema, Diogo, é que a falta de educação leva sempre ao Trumpismo barato e à violência, não há cá meias tintas. As palavras são atos.

E depois, a má-educação de um Ventura não é muito cristã (cf Mt 5:22-5:26), por isso ao menos ele podia deixar de nos encher as medidas com a sua falsa piedade.

Agora, acho muito bem que alguém se assuma como aquilo que é. Como alguém disse, faz-nos um grande favor, porque sabemos logo ao que vem...

José disse...

Rui Rio rejeitou um acordo com o Chega. Rejeitou uma coligação, rejeitou ministros, rejeitou as ideias do Chega e disse que apresentaria o seu programa e o Chega que votasse se quisesse ou, então, estaria a ajudar o PS. Resultado: o pagode diz que ele quer um acordo com o Chega.

Rui Rio precisou os tipos de prisão perpétua existentes na Europa como forma de retirar razão a Ventura quando este disse que quase toda a Europa tinha aquela pena. Na realidade, ela não é aplicada na maior parte dos casos. Resultado: o pagode diz que Rui Rio esteve a negociar a aplicação da prisão perpétua em Portugal.

Alguém chegou a escrever que Rui Rio defende a "pena capital"!!!

É esta desonestidade básica, torpe e descarada, própria de quem já perdeu toda a vergonha no que toca a enganar os outros, gente disposta a tudo para conservar desesperadamente o poder independentemente das consequências das suas ações, é isto que me faz sentir que estamos, mesmo, numa situação de tudo ou nada, irra!

Sócrates queria controlar a comunicação social? Ela está, finalmente, controlada! E enquanto o pagode emprenhar pelos ouvidos através dos comentadeiros, não há nada a fazer.

Olha, debate BE x PSD? Lá estamos nós a falar do mesmo!

Jaime Santos disse...

E José, quem define sobre o que eu quero falar sou eu, não é você.

Mas se você não quer que discutámos isto, tem bom remédio, peça ao Rui Rio que faça o que está certo e exclua qualquer acordo que seja com o Chega...

José disse...

Ontem pudemos assistir a mais um ato desta palhaçada.

Catarina, a líder do partido que tem no seu seio ex-membros das FP-25A (um grupo terrorista, caso a esquerdite tenha apagado a vossa memória), atacou Rui Rio usando o tema da moda. Rui Rio voltou a explicar paciente e taxativamente a sua posição (é não). Quando Clara de Sousa perguntou à Catarina se já tinha percebido, a atriz - que lidera um partido com base em coisas tão belas quanto o "socialismo revolucionário" e o anarquismo, que chama "grupo independentista" à ETA e "luta armada" às FP25A -, parou e... disse que não.

Rui Rui, um homem honesto e com pouco jeito para brigão fez a única coisa que podia fazer: riu-se.

Não estamos perante estupidez ou problemas de audição, estamos perante uma operação montada e consertada para fazer as pessoas de imbecis!


PS (bate na madeira!: é pena que, quando a Catarina o tentou atacar com a questão da PP, por ser um assunto do "Séc. XIX", o Rui Rio não lhe tenha lembrado que o Marxismo também o é...

Luís Lavoura disse...

Jaime Santos

O PS imoderou-se em pelo menos duas coisas. Na nacionalização da TAP mal chegou ao Governo. E nos aumentos repetitivos do salário mínimo. Isto para além de constantes cedências orçamentais.

Luís Lavoura disse...

Esta discussão em torno da prisão perpétua é um disparate pegado, que só mostra como o Chega serve de facto para apoiar a esquerda radical - serve para a esquerda radical ter um fantoche, um inimigo que atacar. O Chega é um moinho de vento contra o qual a esquerda radical arremete, qual Dom Quixote.
A prisão perpétua era uma pena que fazia sentido no século 18, em que as pessoas geralmente morriam por volta dos 50 anos de idade, idade essa na qual muita gente ainda é capaz de cometer muitos crimes. Atualmente, com as pessoas a viver até aos 80 e mais anos, pôr um tipo na prisão até à morte não faz sentido nenhum e é totalmente anti-económico.
O que é preciso explicar ao Ventura é isso - que não faz sentido pôr uma pessoa na prisão para lá da idade da sua idade da reforma. Fica caríssimo ao Estado, só em tratamentos médicos! E não previne crime nenhum.

Jaime Santos disse...

Luís Lavoura, o PS nunca precisou da aliança com as Esquerdas para defender quer uma coisa quer a outra.

Mas é giro que você compare tais medidas que poderiam ser tomadas por qualquer Governo de Centro-Esquerda com a retórica do Chega. É mesmo muito giro...

Mas enfim, você é um Liberal muito especial que até acha que a Prisão Perpétua só não se deve aplicar porque fica muito cara. Não tarda nada, defende a pena de morte porque sai mais barato. E a família do condenado que pague a cremação...

Voltaríamos ao sec. XVIII em que creio que Frederico II da Prússia, em face das execuções por cá se perguntava se ainda havia alguém vivo em Portugal...

Eu estou a reinar consigo, mas recordo-lhe que já defendeu que a proteção dos mais velhos durante a Pandemia não deveria tomar prioridade face às liberdades dos mais jovens...

No fundo, uma espécie de sentença de morte sobre os dispensáveis, não é?

E houve até um dirigente do PSD no tempo de Passos que falou em 'peste grisalha'...

Espero que os velhos se lembrem bem disso...

Quanto ao suposto apoio do Chega à Esquerda, isso cheira a teoria da conspiração. Olhe, queixe-se ao Ventura que eu não posso fazer nada :) ...

José, Rio disse no debate com Ventura que era frontalmente contra a prisão perpétua sem possibilidade de libertação antecipada. Só e apenas. Ventura entendeu isso assim e eu também.

Ontem esclareceu que é contra a prisão perpétua em qualquer caso (a posição oficial do PSD desde sempre) mas que afinal Ventura é mais moderado do que se pensava porque, de novo nas palavras de Rio, o regime da prisão perpétua mitigada é próximo daquilo que temos (pena máxima de 25 anos). Com isso, normalizou Ventura, ou seja, deitou mais sal na ferida.

Ninguém na Esquerda tem culpa que Rio seja um 'loose cannon'. Se ele é assim, problema vosso, os debates eleitorais não são para meninos. Que se prepare e aprenda a lição em lugar de vir para os debates fazer de mestre-escola de província. Catarina Martins ao lado dele parecia uma estadista...

E, já agora, qual é o problema do BE ter lá um antigo membro de uma organização terrorista? O Svengali de Ventura também o era (MDLP) e o problema não é esse, é defender o que defende agora.

O PS teve nos seus Governos Veiga Simão, Ministro da Educação da Ditadura de Salazar... Será que isso faz do PS um Partido Fascista :) ?

Poupe-nos, se faz favor, nós não temos culpa da incompetência alheia. Aliás, acho que estamos a fazer um favor a Rio ao criticá-lo, pode ser que ele aprenda 'to stay on message' (mas duvido).

Napoleão dizia que nunca se deve interromper um adversário que está a cometer um erro...

Jaime Santos disse...

P.S. José, Rui Rio disse a Ventura que ou ele o apoiava sem condições, ou então teríamos um Governo do PS, no caso de o PSD ganhar as eleições e precisar do Chega.

Isso é um absoluto contrassenso. Imagine que as Esquerdas, em minoria (porque de outro modo teremos provavelmente um novo Governo do PS como em 2015, mas cujo PM será o próximo/a SG do PS), apresentavam uma moção de rejeição ao Programa de Governo de um Governo de Direita minoritário.

O que faria Ventura se Rio lhe desse sopa? Poderia votar a favor ou abster-se fazendo cair o Governo, mas acha que a seguir iria viabilizar um Governo Minoritário de Esquerda? Tretas, ele não se importa nada que o País fique ingovernável, ou que Marcelo force uma solução tipo Bloco Central, o que só o beneficiaria...

Ventura irá exigir qualquer coisa em troca do apoio, como exigiram as Esquerdas a AC em 2015, isso é tão certo como 2+2=4. Não lugares no Governo, claro, mas a marca do Chega na Governação...

Claro que irá haver um acordo. E disso vocês não se livram...

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