Já me tinham falado no livro. Embora, como há dias me notava António Alberto Alves, o culto livreiro da “Traga-Mundos”, em Vila Real, aquilo seja “bastante mais do que um livro”. Mas já lá vamos!
Jorge Ginja foi um médico que nos deixou vai para dois anos. (Falei dele aqui). Desde os anos 80, o Jorge tinha feito de Vila Real a sua terra.
Por ali foi figura ativa na política, na promoção cultural e, naturalmente, na sua profissão. Tinhamo-nos conhecido e ficado amigos no Teatro Universitário do Porto, em 1966/68. Fui-o, entretanto, reencontrando, a espaços, quando passava pela já também sua cidade.
O Jorge, soube agora, tinha ficado amigo de Mário Viegas, um ator e “diseur” que teve vasta obra e curta vida. Viegas entrou para o TUP no ano em que saí do Porto, pelo que só vim a conhecê-lo (embora mal) quando, por acaso, ambos “fizémos tropa”, na Administração Militar, em Lisboa, em 1973/74.
Antes, no final dos anos 60, quando foi mobilizado para a guerra colonial, Jorge Ginja tinha pedido a Mário Viegas para gravar, em fita, um conjunto de poemas e textos teatrais que selecionou. Levou essa gravação consigo, para África.
Agora, a família de Jorge Ginja recuperou essa gravação, com 31 inéditos de Viegas. Com os poemas e os restantes textos ditos, fez-se o belíssimo livro “Voz Própria”, sintetizado no subtítulo “Poesia, Resistência e Liberdade”, editado pela “In Libris” e pela Direção-geral de Cultura do Norte. O volume integra dois CD com a declamação dos poemas e outros textos feita por Mário Viegas. O livro, ao lado de cada poema, também insere um código de leitura (QR Code) que permite ouvir essa voz num simples telemóvel. Aqui fica a explicação da razão por que, afinal, “é mais do que um livro”.
Dei esta obra a mim mesmo, como prenda de Ano Novo. Toda a gente oferece prendas no Natal, eu resolvi inovar. Fi-lo, porém, com a rara certeza de que o destinatário da oferta ficava contente ao recebê-la. Diria mesmo mais, tive tanto prazer em dar este livro como tive em recebê-lo. São coisas que dão algum trabalho mas, com imaginação e organização, se conseguem fazer.
4 comentários:
O livro deve ser maravilhoso. Já andei a investigar. Para mim o melhor diseur foi sem dúvida o saudoso Mário Viegas. Também de quem gosto muito de ouvir dizer poesia é a Maria Bethania.
Muito obrigada Sr. Embaixador pela informação.i
Eu estava no OUP - Orfeão Universitário que era no r/c do TUP na época e lembro-me bem dele numa improvisada sessão naquela cantina que havia mesmo ao lado, mas deve ter sido em 64 ou 65.
Foi na altura em que o António Pedro também andava pelo TUP.
Unknown. Estive no TUP de setembro de 1966 a setembro de 1968. O António Pedro morreu em agosto de 1966, no Moledo. Recordo-me de ter sabido da notícia numa esplanada em Afife, na tarde desse dia, pelo Álvaro Salema. No mês seguinte, quando cheguei ao TUP, já era encenador o Correia Alves. O Viegas, de acordo com informação dada no livro, só ingressou no TUP nesse ano, imagino que já depois da minha saída. Pode ser que, antes, tenha andado por lá, mas é improvável: em 1964, ele teria 15 anos…
Pode ter sido um pouco mais tarde pois eu fui para Moçambique em Setembro de 1966.
Ele era mesmo um miúdo espalhafatoso nessa altura.
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