Eu sabia a razão pela qual aquela simpática funcionária do “quarto andar”, dos “serviços centrais” do MNE, entendia que havia um lapso no boletim de viagem que eu tinha apresentado, depois de uma deslocação a uma reunião nas Fidji, em março/abril de 1990.
A senhora tinha notado que “faltava um dia”. E era ”verdade”: tinha saído num voo de Honolulu, no Havai, na tarde de uma terça-feira e, escassas horas depois, havia aterrado em Nadi, nas Fidji, ao fim da tarde de … quarta-feira!
- Mas então o doutor onde é que dormiu na terça-feira?
Fazer entender que, no percurso entre o Havai e as Fidji, eu tinha atravessado a famosa “linha internacional de mudança de data” não era coisa fácil.
Convocando a curiosidade de algumas colegas da senhora, nas mesas ao lado, lá fui explicando que, quando se anda à volta do mundo, de oriente para ocidente, vai-se “ganhando tempo” e, ao passar aquela linha imaginária - que sai do polo norte pelo estreito de Bering para atravessar, com uns zigue-zagues, o Pacífico, até à Antártida - se muda “subitamente” de data. Ao longo daquela minha viagem à volta do mundo, os meus dias tinham tido assim cada vez mais horas, pelo que, no final, eu “perdera”, ou “ganhara”, dependendo da perspetiva, um dia.
Não acredito que a explicação tenha sido de todo convincente. Valia-me a circunstância de eu estar a pedir “um dia a menos de ajudas de custo”. Devia ser o bom e o bonito se acaso fosse o contrário!
Há pouco, quando vi, na televisão, o fogo de artifício em Sidney, na Austrália, recordei outra conversa que havia tido em Lisboa, em meados do mês de dezembro.
Foi com uma jovem, de vinte e poucos anos, que me dizia que há muito que alimentava o sonho de ir passar o início de ano à Austrália, “o sítio mais distante onde, por causa da diferença horária, cada ano novo começa”. As reportagens televisivas têm este efeito.
Disse-lhe: “Está enganada! Se quiser estar no sítio mais distante, a oriente, onde o dia 1 de janeiro começa, vá às Ilhas Menores, no Pacífico. Depois de comemorar o ano novo ali, se tiver dinheiro, apanhe um avião para o arquipélago de Kiribati. Ainda pode passar lá o resto da … véspera, do dia 31 de dezembro do ano anterior. E, assim, pode voltar a celebrar ali, de novo, … o ano novo!”
Olhou para mim com um ar de pouca crença! Vou recomendar que leia “A Volta ao Mundo em Oitenta Dias”, de Jules Verne. Está lá tudo explicado.
8 comentários:
Desisto! Eu fico-me p'las Europa como dizem no Brasil.
Fiz escala algumas vezes em Nadi.
Mas a maior curiosidade provocada pela linha de mudança de data é talvez o caso das Diomedes, arquipélago que separa os Estados Unidos da Rússia, no estreito de Bering. Aqui se encontra a chamada “Cortina de Gelo” em analogia com a “Cortina de Ferro” da Guerra Fria…
A distância mínima entre as duas ilhas mais próximas, uma americana (o ponto mais a Oeste dos EUA.) e a outra russa (ponto mais a leste da Rússia.) é de 4 km, e como a linha de mudança de data passa entre as duas, há 24 horas de diferença entre as duas…Chamam-lhes a Ilha do Amanhã e a Ilha de Ontem…Passa-se de Ontem para Hoje e vice versa… em alguns minutos de navegação.
Bom Ano Senhor Embaixador.
Outro livro que explica a questão é A ilha do Dia Antes de Umberto Eco.
Um bom ano para todos os que aqui passam.
Ia justamente acrescentar que esse ponto é crucial no enredo de 'A Volta ao Mundo em 80 dias', mas o Embaixador passou-me as palhetas, claro já era leitura obrigatória na sua adolescência (será que ainda é hoje em dia?)...
E, Joaquim de Freitas, os EUA podem estar atrasados um dia em relação à Rússia no que diz respeito às datas, mas continuam a ser o País do Futuro ;) ...
Go West, young men!
A Jaime Santos, que ingeriu o « Destino Manifesto » a altas doses e ficou intoxicado… »Go West Young Man » …, relacionada ao conceito do "Destino Manifesto" está bem como BD.
“Washington não é um lugar para morar. Os alugueis são altos, a comida é ruim, a poeira é nojenta e a moral é deplorável. Vá para o Oeste, jovem, vá para o Oeste e cresça com o país.”
— atribuído a Horace Greeley, New York Daily Tribune, 13 de Julho de 1865 ( Wikipedia).
— Só que muitos hoje vivem sob as tendas em Skid Road, em São Francisco. Passou em Skid Road? Eu passei.
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— O "Destino Manifesto", as virtudes especiais do povo americano e as suas instituições... Ah, ah, ah...
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— "A missão dos Estados Unidos de resgatar e refazer o ocidente, resgatar o Velho Mundo por um alto exemplo... gerado pelas potencialidades de uma nova terra para a construção de um novo céu".Tal era o programa.
Racismo, genocídio indiano, status das mulheres, guerras e miséria.
"Destino Divino" para os Estados Unidos baseado em valores como igualdade, direitos de consciência e direitos pessoais "para estabelecer na terra a dignidade moral e a salvação do homem". Pois é: “Go West Young Man”, e no caminho assassine , roube as terras , destrua civilizações, institua a escravidão.
O "Destino Manifesto"…O excepcionalismo americano que tem todos os direitos no mundo inteiro, recusa os tribunais internacionais para os seus crimes, continua a destruir povos e nações.
No "The New York Morning News" , em 1845, na disputa de fronteira com a Grã-Bretanha, os Estados Unidos arrogaram-se o direito de reivindicar "todo o Oregon":
Como mais tarde a Califórnia, o México e o Texas, Puerto Rico e Guantanamo.
E essa reivindicação é pelo direito , dizem eles, do "nosso “Destino Manifesto” de se espalhar e possuir todo o continente que a Providência nos deu para o desenvolvimento do grande experimento da liberdade e do auto governo federado confiado a nós.” Mesmo Lincoln se opunha a esta ideia imperialista...
Ou seja, acreditavam que a Providência tinha dado aos Estados Unidos uma missão para espalhar a democracia republicana ("a grande experiência da liberdade").
Eles viam largo: Em 1845, previram que a Califórnia seguiria esse padrão em seguida, e que o Canadá eventualmente solicitaria a anexação também.
"Providência Divina" para justificar o pior imperialismo que vão implantar no mundo mais tarde.
"Providência Divina" que vai lançar um dia, há um ano, 6/1/2001, as hordas fascistas ao assalto do Capitólio, empunhando a bandeira da Suástica.
“Go West Young Man”…
EUA , País do Futuro ? Roma também foi à dois mil anos…
Joaquim de Freitas, você é mesmo um vidrinho! Já ganhei o dia ;) ...
P.S. E homem, escreve-se 'Roma também o era, há dois mil anos'. Eu sei que todos temos direito à gralha ocasional, mas como você parece que embirra com as dos outros, é mesmo só para chatear...
Claro, todos os Impérios morrem um dia (e Roma durou uns 800 anos), e os EUA não serão exceção, mas eu ainda me lembro do Kruschev dizer que enterraria o capitalismo e depois foi o que se viu... A URSS faliu de alto a baixo não deixando na Europa de Leste mais do que um legado de penúria, destruição ambiental e despotismo...
Vá lá. escarneça mais um bocadinho para eu me rir :) ...
Jaime Santos : Conheço um pouco de vidros…Na minha juventude fui estudante à noite e marçano, vendedor de vidros…durante o dia. E nas várias qualidades de vidros, conheci um que corresponde exactamente à maneira como o vejo aqui neste respeitável blogue do Sr. Embaixador: “ O vidro fosco”. Este vidro, bloqueia a luz, embora seja possível enxergar do outro lado. Só que o outro lado não é o seu.
Quer rir? Vamos lá, se o Sr. Embaixador o permitir…
Saiu para o terreiro defender mais uma vez o “capitalismo”. Conhece Madeleine Albright? Aquela que justificou a morte de 500 000 crianças iraquianas, mais que os mortos de Hiroshima, de fome, pelo embargo dos EUA, como sendo necessário para matar Saddam…Cada vez que alguém defende oo Capitalismo, vejo nele um cúmplice deste assassinato.
Mas homem, se é a solução para tornar o mundo melhor, explique lá porque é que num século de dominação capitalista o mundo continua à procura de alimentos para as centenas de milhões de humanos que morrem de fome todos os anos? Centenas por minuto?
Todos os dias, 25.000 pessoas, incluindo mais de 10.000 crianças, morrem de fome e causas relacionadas. Estima-se que 854 milhões de pessoas estão subnutridas em todo o mundo e que o aumento dos preços pode levar outros 100 milhões de pessoas à pobreza e à fome. Dados da ONU.
Porque é que o mundo ainda não está em paz, após meio século de guerras incessantes, todas lançadas pelo capitalismo? Com que objectivo?
O crescimento de um gigantesco complexo militar-industrial americano, que hoje ameaça não só o resto do mundo com um poder hiper-destrutivo, mas também a viabilidade da sociedade americana a partir do exorbitante custo económico de manter este voraz complexo
A carnificina de guerras criminosas de agressão travadas pelos Estados Unidos e seus aliados da NATO desde o fim oficial da "guerra fria", incluindo os massacres no Iraque, Afeganistão, Líbia e na Síria, sem falar em vastas áreas de Ásia e África, é bom ter em mente a corrupção moral no coração desses governos, que pode ser rastreada até o final da Segunda Guerra Mundial.
O mais difícil é admitir que o neoliberalismo em que estamos imersos é construído sobre essa mesma ideologia e os Estados Unidos da América não tiveram a lógica exclusiva da justificação da tortura, das necessidades de lutar contra os povos,... Diga-me que Thatcher não foi influenciada pelo nazismo ou por qualquer um de seus comparsas que deram à luz todos os monstros da humanidade, o sinistro fantoche Pinochet na liderança!
Tudo o que precede impõe de mudar de qualidade de vidro, Jaime Santos…Senão, não enxerga.
PS) Pois que gosta de rir, leia ‘L’Homme qui rit’, a história de Gwynplaine, um menino marcado no rosto por uma cicatriz que constantemente lhe dá uma espécie de riso. É do grande Victor Hugo.
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