segunda-feira, janeiro 31, 2022

Acho que foi assim

Não vou ser curto, aviso desde já.

1. Portugal foi justo para com António Costa. Os portugueses aprovaram, sem margem para dúvidas, o modo como ele soube liderar país, sob uma crise de inéditas proporções - sanitárias, sociais e económicas. Mostraram também que, com ele na chefia do governo, confiam em que o PS é digno de poder ter uma maioria absoluta, que assegure quatro anos de estabilidade na frente legislativa. 

Costa está de pedra e cal na chefia socialista e, com o resultado de ontem, não passa pela cabeça de ninguém que possa vir a sentir-se tentado por um lugar europeu, nos próximos quatro anos, o que é uma excelente notícia. Quanto à sua sucessão, a conversa acabou até 2026.

2. Rui Rio fez um derradeiro esforço histórico (embora apenas retórico) para conduzir o PSD para o centro político. Ao afirmar, na noite de ontem, que, contrariamente ao que tinha acontecido com o PS, “a direita” não se tinha congregado à volta do PSD na bipolarização eleitoral, Rio mostrou um “Zé Albino” escondido com rabo de fora… 

O PSD começou por falhar na tentativa de conquistar o tal eleitorado oscilante que, ao que reza o mito, andará pelo centro: como se viu, esses votos não fugiram ao PS, em especial depois dos anteriores companheiros da Geringonça lhe terem “puxado o tapete”, o que ajudou a “recentrar” a sua imagem. Rio, para tentar segurar votos que pressentia (e bem) estarem a sair para o Chega e para a IL, viria mesmo a ter um discurso equívoco no final da campanha, onde confirmou que o modelo de acomodação com o Chega no Açores podia vir a fazer escola a nível nacional. Fora isso, Rio é um político basicamente bem intencionado. Ou melhor, era. 

O PSD do futuro terá de ser um partido democrático de uma direita muito assumida como tal, abandonando de vez quaisquer veleidades centristas. Vai ter de encontrar maneira de se distinguir doutrinariamente da IL e terá de construir um discurso de forte rejeição do Chega. 

Porque Rui Rui “purgou” o grupo parlamentar de heterodoxos, o líder que lhe suceder irá ficar quatro anos com um grupo de deputados que não escolheu. Não será tarefa fácil, mas - digo-o com sinceridade - é bom que consiga recuperar algum do eleitorado que votou em André Ventura. É importante para o país que o PSD se mantenha como o partido da alternância do sistema, sustendo o extremismo na direita. Mas, para tal, vai ter de radicalizar o discurso.

3. A intervenção mais patética do fim da noite (como só vi televisão depois das 23:30, tive de “andar para trás”…) foi, a grande distância, o texto lido por Jerónimo de Sousa, uma espécie de antecipação do editorial justificativo no “Avante!” desta semana. Aquela das condições “objetivas” e “subjetivas” lembrou tanto, nostalgicamente, outra época! O PCP sabe bem que muito do seu eleitorado lhe fugiu para o voto útil no PS. 

(Nem imaginam quanto me diverte pensar que tenho amigos que, em 2019, foram refugiar-se no voto no PCP e no Bloco, para evitar que o PS tivesse uma maioria absoluta - e que ontem, em “susto” com o possível regresso da direita ao poder, a ofereceram de bandeja a António Costa!) 

O PCP foi grande responsável pela crise do OGE, porque foi exatamente a sua mudança de sentido de voto (o Bloco já no ano anterior tinha votado contra) que provocou estas eleições - e não podem alegar surpresa, porque o presidente da República tinha sido claro no seu aviso. Mas os deputados não são tudo para o PCP: esta madrugada, as luzes já devem estar acesas na CGTP. Uma nota sobre a futura liderança do PCP. Salvo alguma surpresa, João Ferreira irá suceder a Jerónimo da Sousa, dada a eliminação de João Oliveira em Évora (em Évora, o PCP não elegeu um único deputado!)

4. O Bloco de Esquerda teve o que mereceu. Tal como o PCP. É bom que a irresponsabilidade tenha um preço. Desta vez, foi possível suster as consequências do erro, ao contrário de 2011. Agora, o feitiço virou-se contra a retórica gratuita e não há sorrisos de circunstância que disfarcem o descalabro nas urnas. No caminho das pedras, Bloco e PCP aguardam, com certeza, que uma maioria absoluta do PS vá, a prazo, gerar descontentamento e terão esperança de virem a reconstruir-se por aí. Pode ser que a visibilidade que Rui Tavares irá ganhar no parlamento possa ajudar o Livre a afirmar-se no terreno do Bloco.

5. Será da idade, mas fico triste pelo desaparecimento do CDS do parlamento. Sempre alimentei um sincero reconhecimento histórico pelo facto dos “centristas” (que eufemismo!) terem dado guarida democrática, após o 25 de Abril, a gente de uma direita (alguma muito pouco democrática) que se sentia distante do socialismo dominante e que não foi atraída pelo então PPD, nomeadamente na recolha dos “cacos” da Ação Nacional Popular. E louvei sempre a coragem do CDS de votar contra a Constituição de 1976. A democracia também se fez com essa direita, que enquadrou pessoas traumatizadas com a esquerda que chegavam das colónias e que deu guarida a gente que não apreciava muito (ou mesmo nada) o 25 de Abril - mas que também eram cidadãos de pleno direito, na democracia que essa mesma data instituíu e de que puderam passar a usufruir. 

Agora, sob uma liderança estouvada e de adolescência tardia, o CDS autodestruiu-se e perdeu em credibilidade o que ganhou em decibéis. E mesmo não apreciando o estilo, tenho pena que o líder do CDS não se sente em S. Bento. É que, sem o palco mediático que a presença parlamentar lhe assegurava, o partido poderá vir a desaparecer, em breves anos. Até lá, o facho da sua liderança (não estou a fazer graçolas homófonas) vai passar a ser empunhado por quem já se presume. 

6. Quando a IL surgiu, julguei, erradamente, que seria um fenómeno meramente circunstancial, fruto do desaparecimento do “passismo” à frente do PSD, que estava a atrair uma nova geração urbana, seduzida por um liberalismo comportamental e de costumes que se somava a uma agenda económica anti-Estado e com receitas pós-Chicago das “business schools”. O “centrismo” de Rio veio ajudar fortemente ao crescimento da IL nestas eleições. Aguardemos os efeitos que o futuro do PSD virá a ter no futuro da IL. Confesso que, em termos pessoais, me assustava a possibilidade da IL poder vir a ter influência numa futura governação PSD. Por quatro anos, fico mais sossegado.

7. Vamos ter muito tempo para falar do Chega. Claramente, foi alimentado por votos que eram “do” PSD e do CDS. Tal como acontece em outros países, poderá ter também contado, para este seu crescimento, com o apoio de “enragés” vindos do terreno comunista. Veremos em que medida as bancadas da restante oposição estarão ao lado do PS para um “fogo de barragem” àquela que vai ser, sem a menor sombra de dúvida, a grande vedeta desta legislatura. Só não digo que vai ter graça porque, manifestamente, com a comunicação social que temos a servir de complacente câmara de eco aos seus adjetivos incendiários, a cultura cívica do país não vai ficar bem servida com o que aí virá. Mas não há nada a fazer: é a democracia! 

8. Acabou a ficção do PEV. Esse genérico e repetidor do PCP não me parece que faça grande falta à democracia (quem é que se lembra da “Intervenção Democrática” que foi a terceira ”perna” da CDU?). A sábia decisão do eleitorado evitou a continuação do aproveitamento do artifício que permitia este estranho fenómeno partidário, de cujos comícios nunca tive conhecimento.

9. E o PAN vai continuar no parlamento. Confesso que isso não me suscita o menor comentário. Nem sentimento, mas a culpa deve ser minha.

13 comentários:

Luís Lavoura disse...

como só vi televisão depois das 23:30, tive de “andar para trás”…

Quer dizer, o Francisco fez uma voto de passar uma noite sem ver televisão até às 23 horas mas, mal passou essa hora, esteve a ver tudo o que a televisão tinha dado até lá... Assim não vale...

José disse...

Combalido que estou por esta votação desgraçada, só me ocorrem notas soltas:

1) Rui Rio voltou a ter razão na sua embirrância de sempre com as sondagens.

2) Quanto às sondagens, andou toda a gente a mentir aos "sondadores"?

3) Portugal - o tal país do racismo estrutural e sistémico -, elegeu pela segunda vez um homem mestiço para PM, sabendo que, pode continuar a ter uma ministra preta e um ministro indiano. Para povo racista, não está nada mal, convenhamos...

4) A estupidez do nosso sistema eleitoral (e para cuja reforma Rui Rio tinha uma boa proposta), vê-se no facto de o CDS ter tido mais 18.000 votos do que o Livre e mais 4.000 do que o PAN mas, ao contrário destes, ter ficado de fora do Parlamento.

5) O "Plano Chega" lá deu lucro. E vai continuar a estar ativo.

6) Os jornalistas que construiam elaboradíssimas teorias baseadas nas sondagens, apreciavam à lupa os tiques dos políticos e se afirmavam interpretadores das almas dos votantes, hoje, assobiarão para o lado e far-nos-ão crer que foram enganados. Já se impunha uma limpeza em tanto programa/podcast de debate político.

7) A mexicanização do país está em curso. Da mesma forma que algumas empresas gigantes são obrigadas a partirem-se em várias para assegurar a justiça no mercado, talvez fosse bom começar a pensar no mesmo no que toca aos partidos.

8) Daqui a quatro anos, com o poder absoluto nas mãos do PS e ainda mais rios de dinheiro a serem jorrados pela UE, quais serão as desculpas? A IL aí estará para "cobrar". O Chega aí estará para desviar as atenções.

9) Estamos a caminho do momento em que teremos tantos anos de democracia como tivemos de ditadura. Os resultados de ontem só ajudam a perceber a longevidade da última...

10) A transferência de votos do CDS para a IL (a ter ocorrido), prova o quê? Que os conservadores, afinal, eram libertários?

11) Para já, parece que haverá descanso para o Acordo Ortográfico e - espero! -, para a tourada. Quanto ao primeiro, é possível que Ribeiro e Castro e demais marretas percebam que podem criar um partido monotemático para daqui a quatro anos. Talvez tenham mais votos do que apelando à fé na Virgem Maria e no respeito pela "sacrossanta vida humana".

12) Depois da forma como papou monumentalmente Pedro Marques Lopes, no último "Bloco Central" (a rasar o dia de reflexão), e massacrou mecânica e impiedosamente Rui Rio em cada palavra que dizia, o omnipresente Pedro Adão e Silva merece um prémio. Sugiro a "presidência" da RTP.

13) Encerrou-se uma página negra na história da AR, com o desaparecimento da "deputada Joacine", uma figura ridícula, venenosa e perigosa, com comportamentos que noutros seriam alvo de condenação generalizada, e cuja simples existência devia ter sido suficiente para queimar para sempre o Livre. Mas, que raio, se os portugueses perdoam Sócrates, porque não Joacine?

Ainda tinha mais uns pontos mas parece-me que acabar em 13 faz sentido...

Francisco Seixas da Costa disse...

O Luís Lavoura percebeu mal. Eu não disse que não queria saber o que se passou entre as 19:30 e as 23:30. Eu apenas não quis saber o que se passou nessas horas durante essas horas. Depois, sossegado com o destino, já podia ir ver o passado com calma, fosse ele qual fosse. Por que é que só vejo os jogos do Sporting em diferido?

Jaime Santos disse...

Permita-me que discorde das 'boas intenções' de Rui Rio, eu que o conheço da sua passagem pela câmara do Porto. Trata-se de um autoritário que se dá mal com a crítica e com o escrutínio dos jornalistas, como se viu aliás pela ridícula tirada ontem em alemão, a chamar burro a um repórter que apenas lhe pediu que dissesse com todas as letras a palavra demissão.

Depois de Rio, o PSD tem que aprender que não é um clube de debates e sim um Partido Político com propostas claras pelas quais será julgado pelos eleitores, não um 'vamos lá a ver (e não vamlaver ;)), faremos se as condições o permitirem'.

As condições aparentemente não permitiam (Rio dixit) o aumento do SMN durante a crise pandémica e o PS fê-lo na mesma e o País ainda cá está.

E tem também que aprender que não se convoca uma comissão para conceber uma proposta de revisão da CRP que deixa cair o carácter 'tendencialmente gratuito' do SNS para depois se dizer que aquilo não é para levar a sério, porque afinal o líder só passou por lá de raspão.

Ou o PSD estava a ser ambíguo em relação ao programa, ou Rio era incompetente, o que se calhar é pior ainda...

Ou que não se vai para um debate discutir as modalidades da prisão perpétua (os pais fundadores do PSD devem ter dado voltas no túmulo) ou para outro discutir o regime de capitalização da SS quando isso também não consta do programa...

O futuro do PSD passa por uma nova geração de políticos profissionais, e não amadores a la Rio, como porventura Jorge Moreira da Silva ou o edil Ricardo Rio (sem relação com o seu homónimo ex-CMP, felizmente).

Espero que não passe pelo histérico Carlos Moedas, vê-lo, ex-Goldman-Sachs que é, a bradar contra os DDTs, dá vontade de rir...

Quanto à prima modernaça, confundir aquilo com Liberalismo é, com franqueza, o mesmo que confundir os Chicago Boys com Maynard Keynes ou Beveridge...
Adolfo Mesquita Nunes disse que eles tinham boas propostas na área económica, mas que tinham que trabalhar a social, e o Daniel Oliveira brincou dizendo que isso é mais ou menos o mesmo que votar no PCP dizendo que se aprecia o seu programa na área social, mas que o Partido tem que trabalhar a área das liberdades políticas...

Também lamento o fim do CDS e tenho pena de ver Rodrigues dos Santos a enterrar o Partido, mas o seu estilo estridente e mal-educado (e imbecil, desde quando Portugal é socialista, mas a IL diz o mesmo) não combina com as credenciais democrata-cristãs do Partido (que ele soube bem defender em frente a Ventura contrariamente a Rio, mesmo se o deveria ter feito de modo calmo e controlado e não aos berros, perde-se sempre quando se chafurda com um porco na lama).

Nem ouvi Ventura, não vale a pena. É o grau zero da política, alguém que já defendeu tudo e o seu contrário. Pena é que vai seguramente condicionar o futuro discurso do PSD agora que se viu que este último não arranca o centro ao PS.

Suspeito que entre o original e uma qualquer cópia (estilo Chicão) os Portugueses preferirão sempre o original (incluindo a grunhice). Não se auguram tempos fáceis para a Direita em Portugal, o que são péssimas notícias para a Democracia...

O Livre talvez tenha futuro e o PAN mostrou ontem que provavelmente não o terá... Diz-se que a neutralidade é um dos círculos do Inferno e o eleitorado condenou Sousa Real a arder em lume brando...

Do PCP e do BE também não vale a pena falar. Os discursos dos líderes mostram que, como os Bourbons pós-revolução, nunca aprendem nada e nunca esquecem nada...

De derrota em derrota, até à vitória final...

Isto tudo dito, a vitória de Costa deve ter sido especialmente saborosa para ele...

Maria João disse...

Bem, José.

Fatima Alves disse...

Seixas da Coista, Obrigada pelo seu comentario concordo inteiramente consigo. a sua interpretação dos resultados eleitorais é de uma enorme lucidez

S. Carvalho disse...

"Quanto às sondagens, andou toda a gente a mentir aos "sondadores"?"
Não, José. Os sondadores é que andaram a mentir a toda a gente.
Nenhum partido perdia uma vantagem de 10% em três ou quatro dias. Só acreditou neles quem quis.

Retornado disse...

Só "este" Costa, (não, jamais o Partido Socialista Português), conseguia tantos milagres numa vida só.

Vejamos:

1-arrumar sem dor com Seguro,

2-passar ao lado, sem se molhar, de José Sócrates,

3-Iludir todas as previsões de sondagens durante 1 mês,

4-Atrair toda a esquerda para correr com Passos Coelho, e defenestrar essa esquerda para arrumar com Rui Rio.

Agora só falta saber se um dia o ADN de Costa, é para ficar grudado ao PSP.

Porque destes ADN's só com caldeamentos especiais.

Fernanda Carvajal disse...

Um pequeníssimo comentário. Não me parece líquido que nós, PS e particularmente António Costa, tenhamos ganho à custa dos votos do BE e da CDU! É que, o BE, sozinho, perdeu 14 deputados e nós não ganhámos 14, quanto mais juntando o PCP. Região a região os dados podem variar, mas a maior importância esteve nos "amorfos" que foram votar. É, apenas, a minha opinião, claro

Jaime Santos disse...

Convenhamos que Costa, que é péssimo em campanha, tem tido muita sorte com os adversários que lhe aparecem pela frente:

- Seguro, em vez de convocar um congresso e diretas, decidiu convocar primárias que não só beneficiaram Costa, como lhe deram mais projeção durante a campanha para as ditas

- Passos e Portas não só foram além da troika como fizeram o mal e a caramunha ao sindicalismo do PCP, a ponto de levar Jerónimo a dizer que Costa, depois de ter perdido as eleições, só não formava Governo se não quisesse

- Rio foi um líder algo errático na mensagem e é sobretudo um ingénuo que está na política por convicção, mas sem qualquer profissionalismo, vide acima, além de ser um autoritário com costela populista (basta ver o que disse da subsídio-dependência)

- Jerónimo e Catarina foram incapazes de perceber que Costa não iria ceder para além de um certo limite e ficaram muito surpreendidos com a dissolução da AR, pré-anunciada por MRS

- MRS quis promover uma 'Marcelingonça' para a Direita chegar mais depressa ao poder e agora vai ser promovido a Rainha de Inglaterra (não sem antes ter dado um apoio mais ou menos declarado a Paulo Rangel na disputa de liderança do PSD)

Com inimigos destes, Costa só podia falhar para cima ;) ...

José disse...

S. Carvalho,

Se os sondadores andaram a mentir (todos eles, como você sugere), então, estamos perante uma conspiração. E isto é gravíssimo! É, certamente, um maior perigo para a democracia do que 50 deputados do Chega, não acha? Eu diria que é matéria criminal, a exigir a intervenção de quem de direito. Alguém se vai mexer? (adianto já a resposta: não)

A quem é que interessava uma conspiração das empresas de sondagens que fizesse subir o PSD (repare que, quanto ao resto, elas acertaram)?:

- Ao próprio PSD? Mas... para a CML, o que salvou o PSD foi, justamente, o triunfalismo do resultado atribuído ao PS e que fez muitos ficarem em casa (isso e o caso Margarida).

- O PS era o gato escaldado com as sondagens. O PS foi quem fez uma campanha pela negativa assente no "perigo" de eventuais coligações feitas pelo PSD. Quanto mais perto estivesse o PSD de chegar ao poder e maior fosse a pouco inventiva diabolização do Chega, maior seria a mobilização pró-PS.

- A comunicação social assentou duas semanas de incremento de audiências na montanha de debates, entrevistas, podcasts e artigos assentes na luta eleitoral renhida. Tivessem as eleições sido "decididas" à partida, onde estariam os lucros da publicidade e da venda de jornais?

Não houve qualquer evento apocalíptico que justificasse uma alteração de sentido de voto em massa e na última hora. Não houve. Portanto, só podemos alinhar com o Rui Rio quando ele se queixa das empresas de sondagens e do valor destas.

Vale a pena proibir as sondagens? Se calhar, vale. Mas assegurando que o que se proíbe não é a divulgação daquelas mas sim a sua própria realização, para que não passemos a acompanhar a nossa evolução política a partir de Espanha.

Uma coisa é certa, aqui há gato escondido com o rabo de fora.

E, por falar em gato: já repararam que a comunicação social pega num tweet engraçado, publicita-o, põe toda a gente a falar dele para, no fim, dizer que se fala de gatos em vez de política? É o máximo! A comunicação social faz a festa, lança os foguetes, apanha as canas e ainda se queixa dos artistas que contratou...

Jaime Santos disse...

José, para explicar uma derrota histórica só mesmo uma boa teoria da conspiração.

Se as sondagens tivessem acertado, aposto que você e o resto da Direita se iriam queixar de que a razão para isso teria sido o próprio efeito desmobilizador das sondagens no eleitorado do PSD.

E logo, era preciso proíbi-las na mesma.

Não há pachorra...

A Direita aumentou a sua votação em mais de meio-milhão de votos e a Esquerda perdeu 36.000, logo o eleitorado de Esquerda tinha de facto todas as razões para o voto útil, sobretudo nos círculos mais pequenos.

Só que os votos foram sobretudo para a IL e o Chega e o PSD ficou-se nas covas.

Joaquim de Freitas disse...

Tem piada: Jaime e José, parecem o Zemmour e a Marine Le Pen a puxar pelos cabelos...como se houvesse diferença entre eles...

Diferença entre o PS e o PSD? Entre o PSD e o Chega? PS e PSD "escorregam" para a direita , portanto é claramente uma vitoria da direita.

A esquerda foi para a cova...e vai aparecer na rua ! Um dia os parceiros da direita (PS, PSD e Chega), vao lamentar o tempo em que a esquerda estava algemada na Geringonça...

Vou ler isto outra vez...