segunda-feira, junho 14, 2021

Adeus, Holanda!


Ontem, muita gente terá achado estranho que o país a que sempre se habituou a chamar Holanda fosse insistentemente designado por Países Baixos, por ocasião do (excelente) jogo com a Ucrânia, para o Europeu de futebol.

Desde há muitos anos, contudo, que as duas designações coexistem pelo mundo. Na língua francesa, o nome “Pays-Bas” era corrente (Hollande era mais nome de político…) e “The Netherlands” é, desde sempre, uma expressão consagrada em inglês. Entre nós, contudo, talvez ainda tributários desse curioso e histórico livro “A Holanda”, de Ramalho Ortigão, e, mais recentemente, aculturados à escrita do “holandês” Rentes de Carvalho (leiam o seu, com quase quatro décadas, “Com os Holandeses”), o termo “Holanda” persiste fortemente dominante.

Em 2019, o governo “holandês” anunciou uma estratégia para promover o nome “Países Baixos” e fazer desaparecer, progressivamente, o nome “Holanda”. Isso começou com a Eurovisão e prosseguirá com os Jogos Olímpicos - e, desde já, com o Europeu de futebol.

A explicação oficial é que o nome “Holanda” se refere exclusivamente a duas das 12 províncias do país, pelo que há uma parte substancial do território que fica prejudicada na promoção externa que o país faz de si mesmo. Amesterdão, que está numa das “Holandas”, beneficiaria assim desmesuradamente desse antigo privilégio.

Há poucos países assim, capazes da coragem de mudarem a sua identidade face ao exterior. É uma “frieza” estranha, mas eu recordo-me que, nos anos 90, a “Holanda” já havia feito, através de uma revisão muito pragmática, um redirecionamento da sua política externa, com base num relatório cuja aprovação mudou vários aspetos da postura internacional do país. Sem o menor drama, aparentemente.

Os Países Baixos deixaram, entretanto, claro que o laranja continuará a ser a sua cor. Imagino que isso, por cá, agrade a alguns… A tulipa, foi anunciado, desaparecerá do logo promocional do país, mas já nada foi dito sobre os moínhos e as socas.

Reformadas tinham sido, desde há muito tempo, as moçoilas de crista na cabeça e saias longas, que enchiam o meu imaginário “holandês” até ao dia, no final dos anos 60, em que aportei, de mochila às costas, na praça Dam, em Amesterdão. Percebi então, pelo perfumado cheiro queimado que fazia a glória mundial da cidade, que a nova Holanda já estava muito distante dos tempos do Ramalho.

Uma dúvida se me coloca, mas deixo-a ao cuidado do Ciberdúvidas. Como passamos a chamar aos habitantes dos Países Baixos? “ Países baixotes”?

5 comentários:

Luís Lavoura disse...

Há poucos países assim, capazes da coragem de mudarem a sua identidade face ao exterior.

Pois, e os exemplos não são os mais edificantes, nem os coroados de maior sucesso. Temos a Birmânia que assumiu a identidade Myanmar, e a Macedónia que agora quer passar a ser "do Norte". Será que a Holanda irá pelo mesmo (mau) caminho?

Unknown disse...

Cá por mim, tanto me faz; a coisa é lá com eles.
Mas não gostaria que aquilo se transformasse num país"baixo"(e não me refiro ao facto de aquilo estar ao nível do mar - e com dificuldade, nalgumas zonas...)
MB

José disse...

Entretanto, acabo de ver uma fotografia do nosso PM a assinar um acordo na UE e, por trás dele, uma bandeira nacional não regulamentar: o friso do escudo é em preto e os castelos têm uma forma "quadradona". O que interessa isto? Nada!!! O nome da Holanda, sim. Já agora, aposto que o gentílico será "neerlandês"...

Um país que nem sequer se entende com a própria bandeira nacional ao mais alto nível...

Jaime Santos disse...

Só o José para reparar nestas coisas... A Direita anda mesmo de cabeça perdida, para embirrar com a bandeira armazenada em algum ministério (se foi cá e não em Bruxelas, não está a ver o Santos Silva a fazer um protesto formal por causa disso, pois não?).

A Pátria vai muito além dos símbolos, como bem mostram os neerlandeses, caro José...

Portugalredecouvertes disse...

Penso que isso é lá com eles
agora de baixotes ou baixotas é que não têm mesmo nada!
sendo um país com muita terra abaixo do nível do mar,
a genética deu-lhes tamanha altura!

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