Digo isto há anos: somos das poucas democracias do mundo onde políticos eleitos têm colunas regulares na comunicação social, uma espécie de “tempos de antena”.
Estou a falar de colunas, pagas ou não, não de artigos pontuais, note-se. E falo de imprensa, não de órgãos de propaganda, como são o “Avante!”, o “Povo Livre” ou o “Acção Socialista”.
Conhecem algum político eleito que escreva regularmente uma coluna no “The Times”, no “El País”, no NYT, no “Le Monde” ou no “Corriere della Sera”?
4 comentários:
Estes tempos de antena extra não dão um bom sinal em termos de maturidade democrática. São também um sintoma de uma cultura política fechada e redutora.
Também devemos ser dos poucos países do mundo em que políticos eleitos fazem comentário futebolístico a favor de clubes, desta forma desacreditando tanto os partidos pelos quais são eleitos como os clubes a favor dos quais comentam.
Caro embaixador, pode dizer isso há anos - e eu acredito - mas não se tem notado. Aliás, nós somos um país suis generis quanto à relação dos políticos com o povo na sua vertente mais popular: políticos comentadores de futebol, comentadores a comentar política e, no dia seguinte, a comentar a jornada futebolística, na qual só existem três clubes (o futebol é, sem dúvida, a atividade menos democrática que existe em Portugal).
Devo dizer-lhe, senhor embaixador, que pessoas como o senhor, como grande conhecimento do dia a dia de outros países civilizados e probidade intelectual, têm especiais deveres na tentativa de alterar o estado mental das televisões portuguesas que abrem telejornais com as marquises do Cristiano Ronaldo.
Diga-me: existe algum país na Europa com tanto tempo de antena com o futebol, em canais noticiosos? Eu não sei, mas adivinho: não existe.
Quando se discute o atraso cultural, cívico de Portugal, talvez fosse interessante olharmos para estas pequenas coisas.
Muito mais curioso é o facto de termos televisões a promover obras 'literárias' ou sobre 'a História Escondida de Portugal', ou lá o que é, escritas por pessoas que trabalham nos canais (e em posições de relevo)...
Se há um conflito de interesse, ele reside aí...
E isto é independente da qualidade das obras, que é provavelmente nula. Os políticos que fazem comentário político ao menos percebem alguma coisa do que falam...
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